quinta-feira, 30 de junho de 2022

Dia Mundial das Redes Sociais

Celebra-se hoje, 30 de Junho, o Dia Mundial das Redes Sociais, criado pelo site Mashable em 2010. E logo nessa data Portugal se associou.
Não tenho dado conta de grandes acontecimentos à volta do tema na região em que vivo, mas a importância do assunto é reconhecidamente pertinente.
Tanto quanto vou sabendo, a grande maioria das populações usa as Redes Sociais para os mais diversos fins, tanto no âmbito profissional, social e cultural, mas também para diversão. E se uns procuram o lado positiva que as mesmas oferecem, não faltam os que brincam com coisas sérias, lesando indiscriminadamente os incautos.
Pelo meu lado, uso a Blogosfera há 18 anos, o Facebook e o Twitter, mas ainda o Instagram, entre outras redes, que me permitem encontrar e reencontrar amigos há muito tempo esquecidos. No fundo, aposto sempre pela positiva.

XXXVII Festival Nacional de Folclore

GAFANHA DA NAZARÉ
Jardim 31 de Agosto
9 de Julho

Etnográfico da Gafanha da Nazaré (Foto de arquivo)

Com organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), vai realizar-se o XXXVII Festival Nacional de Folclore no dia 9 de Julho, no Jardim 31 de Agosto, com a participação de quatro instituições convidadas: Grupo Regional da Lagoa da Palha, Palmela; Grupo Folclórico e Etnográfico de Recardães, Águeda; Rancho Folclórico de São Martinho de Mancelos, Amarante; e Rancho Folclórico de São Martinho, Castelo de Paiva.
Depois de dois anos sem festas, por imposição do confinamento decretado pelo Covid-19, o GEGN retoma a organização dos festivais, na esperança de que não haja mais interrupções por motivos semelhantes. E pede a todos os amantes da cultura popular que marquem presença na data indicada, para todos sentirmos o prazer de conviver e de estarmos unidos, depois da pandemia.
Entretanto, podemos informar que durante dois anos o GEGN conseguiu manter, no cumprimento rigoroso das regras do confinamento estabelecidas, algumas atividades, nomeadamente, ensaios de músicas. Para além disso, a direção promoveu a organização de processos e digitalização do património do Etnográfico na plataforma da Federação do Folclore Português.
No dia 9 de julho, o Festival Nacional de Folclore terá início na Casa Gafanhoa com entrega de lembranças e palavras de boas-vindas, não faltando a visita à casa-museu, que tem estado aberta ao público às quartas-feiras à tarde, mas também nos outros dia da semana, por marcação, o que acontece, frequentemente, a pedido de escolas e instituições particulares de solidariedade social.

F. M.

PROGRAMA


17:00 horas – Receção aos Grupos/Ranchos participantes, na Casa Gafanhoa – Museu
Etnográfico;
17:30 horas – Visita à Casa Gafanhoa seguida da cerimónia de boas vindas e entrega de
lembranças;
18:45 horas – Jantar na EB 2/3 da Gafanha da Nazaré;
21:30 horas – Início do Festival.

terça-feira, 28 de junho de 2022

TEMPOS DE TURISMO - Ovos Moles de Aveiro

 
Em tempos de turismo, é bom lembrar o que há de importante nas nossas terras. Nós sabemos que os turistas chegam com pressa e ânsia de ver tudo e mais alguma coisa, mas é impossível chegar a todo o lado. Em Aveiro, por exemplo, não costumam passar do centro da cidade e aí os Ovos Moles tem um sabor especial. Podem dar uma volta num moliceiro, mas logo virão os doces típicos da cidade dos canais.

Um soneto de José Régio para meditar



IGNOTO DEO

Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!

José Régio

RIA DE AVEIRO vista por Frederico de Moura


(...)
Em certas manhãs, doiradas pelo sol nascente, a Ria parece toda um espelho onde, apenas, um trémulo de evaporação – ténue e vibrátil – põe um vestígio de movimento ritmado.
E, então, os malhadais, os montes de sal, os palheiros exíguos e pintados a zarcão, duplicam-se, invertidos, nas águas quietas onde, de vez em quando, uma gaivota, maleabilíssima e ágil, raspa uma tangente quase imperceptível.
As pálpebras cerram-se sobre a pupila magoada por esta duplicação da luz que se remira no espelho da água e, no silêncio inundado de sol, o chap chap de uns remos, ou o golpe da ponta de uma vara que empurram o barco que desliza, põem uma nota fugidia de onomatopeia.
Um homem de músculos individualizados – como num quadro mural de anatomia – corre sobre a borda de uma bateira mercantel como se andasse sobre o asfalto de uma avenida. Visto de longe, recortado na luz diáfana da manhã que lhe aviva as linhas e delimita os contornos, não sabe a gente se tem na frente um ginasta, se um bailarino. Os pés parece que não pisam e os movimentos de vaivém, desembaraçados e leves, semelham passos coreográficos.»

Frederico de Moura
"Aveiro e o seu Distrito", n.º 5, junho de 1968

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Liberdade para quê?

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO de domingo

Os nossos apetites desregrados manifestam-se sobretudo no desejo de ser cada vez mais rico, alimentando todo o tipo de desigualdades. Esta concentração do egoísmo é a negação mais vistosa do espírito cristão.

1. Quem vai à Missa nunca vai sozinho, vá ou não acompanhado, e sabendo que vai encontrar muita gente de quem desconhece as motivações mais íntimas, mas na convicção de que é o mesmo Espírito Santo que a todos convoca. Por outro lado, não há um Espírito Santo da Missa e outro do quotidiano.
Quando digo que ninguém vai sozinho, é por um simples pressuposto. Vai com todos os seus problemas que já não são os de uma sociedade marcada pela religião. Transporta, em si mesmo, o mundo secularizado, onde descobriu várias maneiras de encarar a vida e o seu sentido. Por isso, mesmo ouvindo a leitura dos mesmos textos, cada pessoa faz sempre a sua interpretação que pode não coincidir com a dos outros participantes. Actualmente, quem faz a homilia presta um serviço de interpretação dos textos, marcado pelos acontecimentos da semana, pela sua cultura bíblica e profana, supondo que conhece o que as pessoas procuram e o que ele tem a oferecer. Melhor seria que, em cada semana ou periodicamente, houvesse um encontro com representantes das diferentes tendências e preocupações, para não ceder à manipulação dos que participam na Eucaristia.

domingo, 26 de junho de 2022

A NOSSA GENTE: Manuel Maria Bolais Mónica


Em edição especial da coleção NOSSA GENTE Biografias, da CMI, saiu um livrinho que informa o essencial de um homem que muito deu à Gafanha da Nazaré e seu povo, mas também à nossa região. Trata-se de um trabalho sobre Manuel Maria Bolais Mónica, fruto das pesquisas do docente universitário António Vítor N. de Carvalho, que merece ser lido e apreciado, não só por o autor ter sublinhado a importância da arte e saber do Mestre ao nível da Construção Naval, mas também pela sua intervenção social, na defesa dos interesses da nossa terra.
Na apresentação do livro, o autarca ilhavense, João Campolargo, diz que Mestre Mónica “transformou o seu estaleiro na Gafanha da Nazaré numa escola de mestres qualificados para todo o país”, mantendo vivo “um legado de inteligência e intuição, engenho e perícia, confiança e ousadia, que se quer inspirador e mobilizador”.
Por sua vez, o autor do livro recorda o legado transmitido geracionalmente pelo Mestre, de “Carpinteiro de Ribeira” a Mestre da arte da Construção Naval.
Vítor Carvalho sublinha nos diversos capítulos o regresso de Manuel Maria Bolais Mónica ao concelho de Ílhavo, o seu contributo para a reestruturação corporativa da frota bacalhoeira, a sua passagem de mestre a artista, de empreendedor a industrial, mas ainda o cidadão, o empregador e o homem.

F. M. 

sábado, 25 de junho de 2022

Lições da natureza


 Por vezes, sou ingrato. Por ninharias, desanimo. E quando ando um pouco por baixo tenho por hábito sair das comodidades da minha casa para respirar o ar que me envolve, permanentemente purificado pelo arvoredo há décadas espalhado pelo quintal. Hoje senti nestes pinheiros o  vigor da natureza. Uma lição para seguir.

Na força da palavra: trabalho e férias

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Lembro-me bem da senhora Isilda, uma mulher muito bonita e viva, que, já com 91 anos, um dia me esclareceu no café quanto ao baptismo. Segundo ela, baptiza-se as crianças pequeninas, para receberem o Espírito Santo, que é mais forte do que Jesus, e que é o Espírito falador: é ele que dá às crianças a capacidade divina para falar.

À sua maneira, a senhora Isilda tinha consciência do milagre que é falar. Quem algum dia reflectiu sobre isso - a capacidade de falar: proferir sons articulados que transportam sentido - falando, dizemo-nos a nós próprios, damos ordens, fazemos declarações de amor, e ódio também, ensinamos, contamos anedotas, fazemos paralisar uma pessoa, erguemos alguém caído, dirigimo-nos ao Infinito -, não pode deixar de cair no assombro interrogativo. Um corpo humano, pelo simples facto de falar, nunca deixará de constituir um enigma e mesmo um milagre pura e simplesmente. Aristóteles definiu o Homem como "animal que fala".

Regata de grandes veleiros

Foto dos meus arquivos

Há cerca de 10 anos, tivemos a oportunidade rara de assistir à visita de grandes veleiros que atracaram no Porto de Aveiro, na Gafanha da Nazaré. Foi, sem dúvida, uma excelente oportunidade para apreciar a beleza destes navios, ornamentados a rigor.

Dos acomodados não reza a história


"Devemos o progresso aos insatisfeitos"

Aldous Huxeley 
(1894-1963),
escritor


Fonte: PÚBLICO de ontem

sexta-feira, 24 de junho de 2022

SENOS DA FONSECA — O calão no linguajar dos ilhos

Bamos lá intão cumbersar... um poico...



Mais um livro de Senos da Fonseca que vem enriquecer a cultura dos ilhavenses. Senos da Fonseca é, realmente, um homem de enorme capacidade de trabalho. Daqui o felicito com um abraço pelo seu dinamismo social e intelectual.

Livres e prontos para seguir Jesus, servindo

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIII do Tempo Comum

Jesus anda por terras da Samaria e toma a decisão de ir a Jerusalém, centro da vida religiosa e política dos Judeus. Aqui, quer anunciar a novidade de Deus que suscita uma convivência respeitadora da dignidade humana. Prepara a viagem e envia mensageiros à sua frente. Está determinado a correr todos os riscos. Manifesta o que lhe vai “na alma”, endurecendo os traços da sua fisionomia. Lc 9, 51-62.
A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do "Reino". Padres Dehonianos.
No caminho, encontra pessoas com diversas pretensões: samaritanos que lhe recusam acolhimento, discípulos que querem vingar-se desta afronta, gente anónima que deseja segui-lo e outra que ele convida, apóstolos que o acompanham. Jesus, em respostas claras e desconcertantes, mostra a necessidade de estarem livres para o seguir e a urgência de fazer o anúncio da novidade de Deus.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

RIA DE AVEIRO vista por D. João Evangelista Lima Vidal

"Parece-me que respiro melhor, quando vou à Gafanha benzer os barcos de Mestre Mónica. Mas não é só o ar da ria que tem o dom de nos abrir os pul­mões. É não sei que fulgor de abundância, de riqueza nacional, de vitorioso progresso que por ali passa e nos bate em cheio no peito. É um milagre de beleza que Mestre Mónica sabe extrair de troncos rudes, de matéria informe. Quando passam os carros a gemer sob o peso morto daqueles pinheiros, quem imagina a elegância e a majestade, a doçura e a força, a maravilha e a arte que dali vão sair? Vai, Ilhavense; vai Santa Joana; vai, Santa Mafalda; vai, Avé-Maria, desce imponente a húmida calha, entra nas águas, encanta os mares, recolhe a presa, e depois, ao regresso, entra airosa na barra, ao som da orquestra, ao flutuar das bandeiras, à alegria das multidões!"

Aveiro, 5 de Abril de 1957 

João Evangelista,  Arcebispo-Bispo de Aveiro

Festas para todos os gostos

Não é verdade que a nossa festa 
é sempre melhor do que a dos outros? 

Padroeira da Gafanha da  Nazaré
Com a vitória mais ou menos conseguida das vacinas contra a pandemia da Covid-19, abrangendo as suas variantes, as festas populares vão voltar neste Verão que se avizinha, para gáudio de todos. O povo, todo o povo, rico ou pobre, letrado ou não, precisa das festas. Por isso, através dos séculos, a Igreja e outras instituições souberam programar festejos para as famílias afugentarem, por uns dias, as agruras e monotonias do quotidiano.
Porque a vida não pode ser só trabalho e canseiras, urge aproveitar o que as instituições nos oferecem, ano após ano, sendo certo que os organizadores saberão programar os festejos, criando momentos de descontração e convívio, fundamentais ao rejuvenescimento do espírito e do corpo para os desafios inerentes ao dia a dia de cada pessoa e família.
Hoje chamamos a atenção dos nossos leitores para três festas já programadas para a nossa terra: Festival do Folclore do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, Festa em honra da Nossa Padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, e Festival do Bacalhau. Haverá outras por iniciativa das várias instituições da nossa terra e arredores.
É certo, porém, que muitos não vão ficar por aí. Penso que todas as freguesias, vilas e cidades não deixarão de garantir outros festejos, numa competição salutar que não deixa de ter o seu valor. Não é verdade que a nossa festa é sempre melhor do que a dos outros? 

D. Manuel II decreta criação da Freguesia e Paróquia

23 de Junho de 1910

Se há datas marcantes na vida das comunidades, a criação da uma Freguesia e Paróquia é uma delas. Os primeiros passos da vida dos gafanhões, com estatuto de comunidade organizada, sob o ponto de vista civil e religioso, nos areais da então denominada Gafanha, registam uma data fundamental.
D. Manuel II assina um decreto em 23 de Junho de 1910, que começa assim:
«Tendo subido à Minha Real Presença a representação em que muito habitantes do logar da Gafanha, freguesia d’O Salvador, de Ílhavo, no concelho d’esta denominação, distrito administrativo de Aveiro, e diocese de Coimbra, pedem a creação de uma freguesia no referido no logar da Gafanha, tendo ali a sua séde…»
Depois de vários considerandos, o Rei determinou que, «pelos meios competentes se proceda à creação de uma nova parochia com a sede no logar da Gafanha, que será desanexada d’O Salvador de Ílhavo».

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Hoje é Dia da Liberdade Religiosa

Augusto Santos Silva, Presidente da Assembleia da República, lembra, em artigo de opinião publicado no Diário de Notícia, que hoje é Dia da Liberdade Religiosa. E sublinha: 

"Esta liberdade não se circunscreve à escolha entre as religiões. É, crucialmente, a liberdade de decidir ter ou não ter religião, ter e deixar de ter religião, mudar de religião, opinar sobre o fenómeno e as fés religiosas, examinar criticamente os seus fundamentos e pretensões, sem ser impedido ou penalizado por isso. E, não menos importante, é a liberdade de cada um e cada uma, nas decisões que lhe digam respeito, não ter de se conformar, total ou parcialmente, se o não quiser, com os preceitos da sua religião."

Serra da Boa Viagem

 
Os serviços do Google têm o dom e o cuidado de nos levar a recordar o nosso dia a dia de há anos. Hoje veio com as minhas memórias de uma visita que fizemos à Serra da Boa Viagem, na Figueira da Foz. Dia límpido que me permitiu registar esta imagem que aqui partilho. Se lá puder voltar, tentarei saber se tudo se mantém como em 2021, no mês de Junho.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Chegou o Verão



Chegou o Verão. Veio no dia certo, 21 de Junho, e terminará em Setembro. Isto, segundo o que determina o estabelecido. E vamos aproveitá-lo ao máximo porque não sabemos o que nos reserva o futuro. Com as alterações climáticas provocadas pelo homem, não sabemos realmente o que nos oferece este Verão.
Tempo de lazer, de festas, de praia, de campo, de convívios, de descanso, de passeios, de leituras, de encontros e desencontros, de tudo um pouco, mas será também um tempo de reflexão com vista a um futuro de mais paz.
Bom Verão para todos, com saúde e otimismo

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Os melhores do mundo

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO de domingo

1. Junho é um mês muito português. No dia 10, celebramos o Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e a festa litúrgica do Anjo da Guarda de Portugal. Os dias 12 e 13 são dedicados a Santo António, o santo português mais conhecido em todo o mundo. No dia 24, celebramos S. João Baptista, no dia 29, a festa de S. Pedro. Há uma rima que sintetiza este mês: “Primeiro vem Santo António / depois, S. João / por fim, vem S. Pedro / para a reinação”.
Este ano, também no dia 10, o Presidente da República homenageou, em Londres, um grande nome da pintura portuguesa conhecida em todo o mundo, Paula Rego, falecida a 8 deste mês (1935-2022) e anunciou que será condecorada a título póstumo em Lisboa.
Foi um outro Presidente da República, Jorge Sampaio, que convidou Paula Rego para contar a história de Nossa Senhora para a capela do Palácio de Belém que aceitou de imediato: “Desde que comecei a pintar que estava à espera desse convite”. Pouco tempo depois, nascia o Ciclo da Vida da Virgem Maria.
No Museu da Presidência da República, no Palácio de Belém, está patente ao público uma exposição dedicada a Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004) sobre o seu percurso de cidadã na esfera pública. Foi sempre uma católica militante.
Desde o dia 6 de Junho, no âmbito das comemorações do centenário de José Saramago (1922-2010), a Biblioteca Nacional apresenta uma mostra bibliográfica e documental que celebra o percurso de escrita do autor, com o título A Oficina de Saramago.

sábado, 18 de junho de 2022

RIA DE AVEIRO vista por Murilo Mendes

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Eis os longos lençóis brancos das salinas mais o inesperado jardim de palmeiras desta sem cartazes Aveiro, exótica no contexto da geografia portuguesa. Salinas e palmeiras! A bordo dum barco minúsculo, giramos a delícia de descobrir, na claridade gratuita, pequena franja de Oriente inserido num plano de paisagem da Holanda. O barqueiro seguro em camisa da Nazaré manobra servindo-se de mínimos calculados gestos.
Quase salta ao nível da rua o peixe azul ou vermelho.
As não-inquietantes aveirenses riem recíprocas, quem sabe saberão a sal.
Nada electrónico, nada «arrabbiato», esconjurando eventualmente o mal do século nuclear, na distante Aveiro, sem haveres, em outra dimensão política, eu viveria saboreando ovos moles, atento aos longos e longes lençóis brancos de sol cómodo e suas salinas.

Roma, 1966
MURILO MENDES


Murilo Mendes (1901-1975) haverá escrito os seus versos, denominados «Aveiro», em 1966. Casado com Maria da Saudade Cortesão, filha de Jaime Cortesão – outro nome a ilustrar uma antologia aveirense –, é de crer que o Poeta visitasse a cidade das «salinas palmeiras» vindo de S. João do Campo, nos aros de Coimbra. A reger em Roma a cadeira de estudos brasileiros, não se torna despropositado supor que, num período de férias em Portugal, demandasse uma urbe tão próxima do ninho familiar.

In "Aveiro e o seu Distrito"

O Papa Francisco vai resignar?

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

É evidente que o Papa Francisco foi e é uma bênção para a Igreja e para o mundo e a História não vai esquecê-lo.

A notícia percorreu mundo e nenhum dos grandes meios de comunicação social internacionais terá ignorado a notícia sobre a possibilidade de o Papa Francisco resignar em breve, abrindo caminho à sua sucessão à frente da Igreja Católica. Isso concretamente a partir do momento em que foi visto numa cadeira de rodas e em que se viu obrigado a adiar a sua viagem nos princípios de Julho à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul.
Para os rumores sobre a renúncia contribuíram sobretudo três factores.
Em primeiro lugar, sabe-se que Francisco está doente, sofre concretamente de dores no joelho da perna direita, que o impedem de estar em pé e o obrigam a andar em cadeira de rodas e de bengala. Ora, ele próprio já dissera a propósito de uma operação ao intestino: "Sempre que o Papa está doente corre brisa ou furacão de conclave"; de qualquer forma, acrescentou, "não lhe tinha passado então pela cabeça renunciar." De qualquer modo, já em 2014 afirmou que "Bento XVI não é caso único", o que faz pensar que não exclui a resignação no caso de se sentir impossibilitado de exercer o cargo.

COSTA NOVA com arte

 

A foto já tem uns anos e porque gosto dela  aqui a  partilho com os meus leitores e amigos. Com a pressa de tomar um café com uma nata quentinha, ou um refresco em dia de calor, nem sempre apreciamos a arte que enobrece os espaços de lazer das terras  que visitamos. 

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Toma a tua cruz e segue Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XII do Tempo Comum

Seguir Jesus é ter capacidade de escutar o que se diz e pensa a respeito da missão realizada, acolher as respostas diferenciadas, reencaminhar as imagens desfocadas para o autêntico sentido da mensagem transmitida.

“Sabes qual é a maior mentira do mundo?” – pergunta uma jovem, em tom jocoso, ao falar das redes sociais e de algumas páginas da web, e continua: “marcar no quadradinho «aceito as condições e os termos de uso» que normalmente aparecem como requisito para quem queira inscrever-se nas referidas redes e foros de opinião. Coloca a marca sem haver lido essas condições por estarem em letra muito pequena, miudinha, e serem extensas. Mas as pessoas dão-lhes pouca importância porque o que lhes interessa é entrar na rede e formar parte da grande família de cibernautas”.
Esta historieta pode ajudar-nos a captar o centro da mensagem deste domingo. Jesus, após um tempo de missão e em clima de oração, faz um levantamento do que se pensa a seu respeito: primeiro, os comentários que chegam aos discípulos e, depois, a atitude pessoal de cada um deles. Pedro acerta em cheio, identificando-o como o Messias de Deus. Segue-se uma lista de recomendações e de condições que correspondem ao desejo de seguir Jesus. Esta série termina: “quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me”. Lc 9, 18-24.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Gado bravo a caminho do Algarve


 Se há região do país que gostaria de conhecer com riqueza de pormenores, o Alentejo estaria no primeiro lugar. Conheço de passagem algumas cidades e povoações, mas não consegui passar daí. O Alentejo  profundo, de que tanto se fala, permanece nos meus horizontes, mas a fé de isso acontecer está a esvair-se. O tempo vai passando e as forças já não são o que eram. Vem isto a propósito desta fotografia registada por mim, há anos, numa bomba de gasolina, onde abasteci o depósito, rumo ao Algarve. 
A manada de gado bravo estava longe,  mas eu não resisti e fixei-a para a posteridade. Hoje, passados nem seu quantos anos, partilho-a com gosto com os meus leitores e amigos. E fica para mim o prazer e a saudade do momento. 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Dia Mundial do Vento

Moliceiros na Ria de Aveiro - Foto das redes globais

Celebra-se hoje, 15 de Junho, o Dia Mundial do Vento. Começou a ser comemorado na Europa em 2007 e no mundo em 2009, por decisão do Conselho Global de Energia Eólica. Esta é uma boa oportunidade para todos refletirmos sobre a sua importância na atmosfera de todos os quadrantes, tendo em conta as suas variáveis e aproveitamentos.
Não esquecendo que, apesar dos benefícios, também há vendavais destruidores, o vento sempre foi aproveitado pelo homem em todas as épocas para diversos fins. Já imaginaram uma Ria de Aveiro, por exemplo, sem vento?

SUBLIME OFERTA: Isto é o meu Corpo. Tomai e Comei

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa do Corpo de Deus 




Jesus faz a oferta do seu corpo e sangue na ceia de despedida. Em ambiente tão familiar, os discípulos entreolham-se procurando captar o alcance desta oferta. Na sua memória está muito vivo o lava-pés, gesto inaudito de qualquer mestre. No seu coração desenha-se o futuro iminente, o horizonte da missão. Lc 9, 11b-17.
A narrativa da comunidade de Lucas tem como matriz a ceia de despedida que Jesus realizou com os seus amigos, antes de começar a série de episódios que haviam de levá-lo à morte no calvário, antecâmara da ressurreição. Constitui o “coração” da Eucaristia, agora celebrada pelas comunidades cristãs, em Igreja. É maravilha a contemplar e tesouro a descobrir ao longo dos tempos, sobretudo da vida de cada um de nós. Maravilha que nos convida e atrai para captarmos o seu sentido profundo, assumirmos o espírito de entrega e de serviço, saborearmos o amor de doação incondicional, crescermos em disponibilidade e confiança até à entrega total, simbolizada no pão frágil e no vinho escasso que, por força do Espírito Santo, vão ser “corpo entregue e o sangue derramado por um mundo novo”.

Um poema de José Régio


IGNOTO DEO

Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!

José Régio

terça-feira, 14 de junho de 2022

RIA DE AVEIRO vista por Norberto de Araújo

Eu nunca tinha visto a ria de Aveiro. Daí — dirão — este meu entusiasmo. Ora a laguna, com os seus múltiplos canais, seus campos encharcados, seus horizontes abertos, sua exuberância de luz e seu sonho de distância — é bela sempre e cada vez mais, afirmam os que todos os dias se banham no mistério da sua extensão panorâmica.
A ria de Aveiro — é uma maravilha. Fujo a descrevê-la, porque isso não está agora no meu programa.
Faltam aos meus olhos os palácios de mármore, as colunas de oiro, as igrejas erguidas em renda, as margens coalhadas de sonho e arte: S. Maria degli Scalzi, S. Marcuola, a casa de Contarini, e a distância de oiro sobre gaze de azul de S. Giorgio Maggiore. Mas — lembro-me de Veneza… Uma Veneza despida, no seu estado imaculado, em plena exuberância primitiva, onde se adivinha a vontade de Deus, de tudo ficar como ele a criou. Maravilha contemplativa!

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Associação Náutica da Gafanha da Encarnação

Um barquinho de olhos bem abertos para a partida
 
Passámos ontem pela Gafanha da Encarnação e não resistimos a ideia de visitar um dos seus ex-líbris mais famosos. A ANGE — Associação Náutica da Gafanha da Encarnação — é uma instituição que criou raízes no âmbito da arte de bem receber. Era domingo, é certo, mas durante a semana não falta quem dê por ali umas voltinhas para saborear a maresia e apreciar as embarcações de recreio que se apresentam em posição evidente de partida para passear pela Ria ou para enfrentar o oceano. Uns entram na casa da antiga Bruxa para os petiscos, ao que julgo, e outros ficam-se pelo bar da marina. E a conversa não fugirá muito das aventuras lagunares ou para além delas.
Valeu a pena passear por ali sem agenda nem horários.

Um Deus humaníssimo

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO de domingo

O cristão deve procurar uma incansável e amante inteligência da fé. Tem de a servir com a ousadia de todas as forças da sua mente e do seu afecto. A fé cristã não é um calmante, é um excitante

1. Hoje, no calendário litúrgico da Igreja Católica, celebra-se a Santíssima Trindade. Há quem diga que é uma festa desnecessária, pois, é com essa expressão da fé cristã que começam todas as celebrações da Eucaristia: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” Os fiéis respondem – Ámen, isto é, estamos de acordo, acreditamos. Este é um credo tão breve que nem dá tempo de pensar no que se diz e, pior ainda, passou a ser usado para dizer: estes dizem ámen a tudo.
A seguir, quem preside a assembleia explicita em estilo narrativo: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.”

domingo, 12 de junho de 2022

A riqueza dum povo

A paisagem que vejo da minha janela

A riqueza dum povo é tudo
o que faz parte da sua vida.
É tudo o que te cerca.
É a paisagem que vês da tua janela.
É a casa pequenina da tua aldeia.
É o museu da cidade.
É a cantiga que ouves ao trabalhador,
é aquela que a tua mãe cantava para te embalar.
É a filarmónica da tua terra nas tardes
quentes do Verão.
São os trajos coloridos das mulheres
do campo e do mar.
É o rancho que dança nos caminhos poeirentos.
É a capelinha solitária no alto do monte.
É a catedral da grande cidade.
É o barro moldado pela mão do oleiro,
a rede feita pela mão do pescador.
É o pregão da varina que percorre as ruas da cidade,
ou a voz serena do pastor chamando as ovelhas...
São as histórias contadas, aos serões de Inverno,
junto à lareira.
É o jogo da malha no largo da aldeia.
É o desenrolar da meada, é a força da vida!

Notas:
1 - Texto cedido pela Escola Preparatória de Esgueira - Aveiro;
2 - Livro ARTES E TRADIÇÕES DA REGIÃO DE AVEIO - 1984

sábado, 11 de junho de 2022

Economia e política ao serviço da vida

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Pretender que toda a humanidade viva segundo os padrões do mundo mais desenvolvido, tecnocrático, seria pôr fim à própria possibilidade de continuação da História.

Quando se olha para a presente situação do mundo, não é difícil constatar que o que está decisivamente em crise é a razão moderna com o seu imperialismo devastador. Ao contrário do que pensam os seus profetas mais ardentes, após a crise/implosão do chamado "socialismo real", o capitalismo desenfreado, neoliberal, não constituiu de modo nenhum a solução do futuro nem é a palavra mágica, decisiva e definitiva da História. A prova está em que pretender que toda a humanidade viva segundo os padrões do mundo mais desenvolvido, tecnocrático, seria pôr fim à própria possibilidade de continuação da História. O modelo dos países do hemisfério norte, sendo necessário sublinhar que ele se implantou já noutras paragens, não pode estender-se ao mundo inteiro, isto é, não é universalizável, sob pena de pura e simplesmente não haver futuro para o planeta. E, não sendo universalizável, não é ético.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

DIA DE PORTUGAL "A nossa pátria é o povo"

 Do discurso do Presidente Marcelo em Braga 

“Sem o povo, sem a arraia-miúda, de que falava Fernão Lopes, não teria havido o Portugal que temos.” Esta foi uma das muitas afirmações do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa proferidas no discurso da cerimónia comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo, realizada em Braga. Marcelo sublinhou as  capacidades do povo português "de unir, de receber, de conquistar e de resistir". 
O Presidente  Marcelo Rebelo de Sousa lembrou  a forma como o povo português recebeu africanos, brasileiros, europeus de Leste, asiáticos, afegão e agora ucranianos. Mas também referiu  a forma como recentemente os portugueses resistiram à pandemia.

Nota: Toda a comunicação social portuguesa, e não só, destacará as cerimónias do Dia de Portugal, que decorreram onde houver portugueses. 

DIA DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES — O meu céu

 

O meu céu, aquele que contemplo quando respiro o ar purificado pelas árvores do nosso quintal, merece ser partilhado com os meus amigos e leitores do meu blogue, espalhados um pouco por todo o mundo. Bom Dia de Portugal e das Comunidades para todos os portugueses, estejam onde estiverem, mas também para todos os povos que vivem entre nós.

Vive a festa de Deus Família

Reflexão de Georgino Rocha
para o  Domingo XI  —  A Santíssima Trindade 

"A festa da Santíssima Trindade é a nossa festa de família, a festa da Igreja por excelência na multiplicidade das suas comunidades, a começar pela família"

Jesus, na ceia de despedida, fala abundantemente do Espírito Santo. Atribui-lhe funções de companhia amiga, mestre que faz memória do sucedido e ajuda à sua compreensão, conforto dos discípulos e testemunha qualificada, perante o mundo adverso, luz do coração que discerne a maldade do pecado e a bondade da graça, presentes nas situações de vida, guia seguro para a verdade plena. É sobretudo esta função que mais se destaca na festa da Santíssima Trindade. Jo 16, 12-15.
O pintor crente Roublev faz uma expressiva visualização desta realidade inabarcável pelas capacidades humanas: Um ícone de três pessoas que se entreolham e, no modo como se olham, fazem brilhar o amor de cada uma pelas outras. Traduz, assim, a relação que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito. São um só na comunhão e três pessoas na pluralidade das funções que manifestam ao longo da história da salvação. Todas estão presentes no agir de cada uma que assume o protagonismo. É pelo seu agir em nosso benefício que temos acesso ao mistério insondável da sua existência. É pelo que Jesus promete aos discípulos que podemos sentir a “mão” segura do Espírito Santo a conduzir-nos para esta verdade admirável.

DIA DE PORTUGAL E DE CAMÕES — Mudam-se os tempos...


                            
                            Mudam-se os tempos, 
                                 mudam-se as vontades

                                    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
                                    Muda-se o ser, muda-se a confiança;
                                    Todo o mundo é composto de mudança,
                                    Tomando sempre novas qualidades.

                                    Continuamente vemos novidades,
                                    Diferentes em tudo da esperança;
                                    Do mal ficam as mágoas na lembrança,
                                    E do bem, se algum houve, as saudades.

                                   O tempo cobre o chão de verde manto,
                                   Que já coberto foi de neve fria,
                                   E enfim converte em choro o doce canto.

                                   E, afora este mudar-se cada dia,
                                   Outra mudança faz de mor espanto:
                                   Que não se muda já como soía.

                                    Luís Vaz de Camões

Nota: Ilustração  da Edição de OS LUSÍADAS  com comentários de José Hermano Saraiva  e ilustrações de Pedro Proença. Edição EXPRESSO com apoio do Totta


quinta-feira, 9 de junho de 2022

RIA DE AVEIRO vista por Artur Portela

São Paio da Torreira - CMM

«Mas a ria enche-se de asas brancas, garças reais que coalham o azul, além sobre a barra, onde a névoa fumega indecisa e lenta, e do outro lado, sobre Pardelhas, Estarreja, até Ovar bolinando ao vento.
É uma verdadeira esquadra, embandeirada em festa, porque hoje é dia de São Paio, na Torreira. Cada barco traz a sua povoação, a sua aldeia, a sua canção, as suas guitarras e adufes. A ria torna-se melodiosa, e sussurra, vibrante nas suas ondas de água, finas como cabelos de mulher, que os ventos represados percutem como uma arcada de violino. Durante muito tempo embala-nos aquela música aquática, dolente e enlanguescedora. As tonalidades mudam. Já não há azul. Os longes tornaram-se brumosos, e a água oleosa, baça, não tem uma vaga, uma crispação. Dir-se-ia um lago imobilizado por um silêncio astral. Um cinzento de agonia envolve esta paisagem de além mundo, prostrada na morte, se o sol não acordar antes da tarde.»


O São Paio da Torreira,
a Romaria dos Pescadores
de Artur Portela

Fonte: 
"Aveiro e o seu Distrito", n.º 12, 1971

Pavão tranquilo

 

Nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, o pavão percebeu a minha vontade e pôs-se a jeito. Saltou para o caixote do lixo, ao que julgo, e esperou que eu disparasse. Depois foi à sua vida... e eu à minha.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Dia Mundial dos Oceanos



Celebrou-se hoje, 8 de Junho, o Dia Mundial dos Oceanos. O tema proposto terá levado muita gente a falar e a agir sobre a revitalização coletiva dos mares. Falamos muito dos oceanos, mas julgo que não será o suficiente para se evitar a poluição dos mesmos. Mas também penso que se torna urgente manter uma atenção vigilante sobre os Oceanos, numa tentativa de sublinharmos a sua importância para a qualidade de vida sobre a terra.
(...)
Debruço-me frequentemente sobre a importância do nosso Atlântico, sob o ponto de vista paisagístico, mas reconheço que se torna imperioso estar mais atento aos malefícios que sobre ele recaem, direta ou indiretamente. 

No Porto com Gaia à vista

 

De passagem pelo Porto, tive oportunidade de apreciar o Douro e o casario da outra margem, a Vila Nova de Gaia, como sempre a conhecemos. É cidade, mas gosta de ser conhecida como Vila. É o terceiro município mais populoso do país, depois de Lisboa e Sintra. O Vinho do Porto estagia por ali, com rio à vista. E quem sabe se logo mais, depois do jantar, não saborearei um cálix do precioso néctar que os ingleses ajudaram a internacionalizar!

terça-feira, 7 de junho de 2022

RIA DE AVEIRO vista por António Arroio



«A região de Aveiro é uma pequena Holanda em clima e luz ocidentais. Provavelmente pela extensa superfície de evaporação de centos de hectares de água salgada, toda esta região se distingue no norte do país pela luz irisada que a banha e de momento a momento muda de tom. Por vezes julgamo-nos aí transportados a uma região ideal.»

António Arroio, engenheiro e crítico, 
Porto, 1856; Lisboa, 1934

"Origens da Ria de Aveiro”, 
de Orlando de Oliveira

segunda-feira, 6 de junho de 2022

De que espírito somos?

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

A invasão da Ucrânia recebeu o apoio do Patriarca de Moscovo, Cirilo I. Do ponto de vista cristão é inevitável a pergunta: qual é o espírito que move este Patriarca?

1. Continuamos a viver, em muitas partes do mundo, tempos de confusão política e religiosa. A guerra voltou a esta Europa cansada de paz e sem memória das vítimas de um passado não muito longínquo.
A invasão da Ucrânia, por mandato de Vladimir Putin, actual presidente da Rússia, recebeu o apoio do Patriarca de Moscovo, Cirilo I. Do ponto de vista cristão é inevitável a pergunta: qual é o espírito que move este Patriarca? O Espírito de Cristo – Espírito do Pentecostes – é um apelo universal à paz e à partilha dos bens da natureza destinados a todos os seres humanos. Não me pertence julgar as suas convicções e intenções, mas também não posso fechar os olhos e os ouvidos, embora não tenha de acreditar só no que é apresentado pelos meios de comunicação e das redes sociais.

domingo, 5 de junho de 2022

Dia Mundial do Ambiente



Celebra-se hoje, 5 de Junho, o Dia Mundial do Ambiente. A data foi escolhida em 1972, no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente.
Pretende-se levar todo o mundo a refletir sobre a necessidade de preservar a natureza, nas suas mais diversificadas situações, evitando “ofensas” levadas a cabo pelas pessoas, mas também pelas estruturas a  diversos níveis, nomeadamente de natureza industrial. 
Sendo certo que as escolas e outras instituições têm neste âmbito um papel determinante na formação das crianças e jovens, importa sensibilizar todas as populações e estruturas sociais, culturais, empresariais e políticas para o culto da natureza, sob pena de hipotecarmos o nosso futuro, que é também o futuro da humanidade. Repare-se nas devastações causadas pelas guerras que minuto a minuto os meios de comunicação social mostram ao mundo. 

Chora e feijão assado

A Gastronomia de Bordo

Chora e Feijão Assado — A Gastronomia de Bordo na Pesca do Bacalhau” é uma edição da coleção “A Nossa Mesa” e uma homenagem à cozinha tradicional portuguesa, sobretudo bacalhoeira. Assim se lê na contracapa do livro que tem o carimbo do Museu Marítimo de Ílhavo e da Câmara Municipal, mas ainda do Turismo Centro Portugal. Trata-se de uma obra destinada a toda a gente, em especial aos amantes da cozinha e dos bons e tradicionais petiscos.
Na apresentação, lembra-se que esta edição teve origem no Festival Gastronomia a Bordo, que decorreu em 2018, apoiado no Projeto “Territórios com História”. Sublinha-se a importância da investigação inédita de Pedro Miguel Silva, que "nos apresenta uma retrospetiva histórica da gastronomia dos navios de pesca do bacalhau,  traçando a vida alimentar a bordo". Refere-se a contribuição da curadora do festival, a Chef  Patrícia Borges, que "trabalhou as receitas a partir de fontes escritas  e sobretudo orais, com as memórias e registos pessoais de três antigos cozinheiros: Manuel Sousa, José Pascoal  e José Ribeiro ". 
Chora e feijão assado — A Gastronomia de Bordo na Pesca do Bacalhau” apresenta-se numa excelente edição, capa dura, ilustrações a condizer, oportunas referências históricas e, como não podia deixar de ser, as receitas bordo: Chora, Caldeirada de Espinhas, Arroz de Samos, Línguas Fritas, Sopa de Feijão, Caldeirada de Bacalhau, Pão de Forno e Raia de Pitau, entre outros. 

FM 

RIA DE AVEIRO vista por Luís de Magalhães

Palheiro de José Estêvão

Destes ocasos d’oiro e deste cerúleo mar,
Desta mesma risonha e plácida paisagem,
Quantas vezes, meu Pai, a luminosa imagem
Se reflectiu no teu embevecido olhar!

Era aqui, nesta paz, que vinhas descansar,
Refazer, para a luta, as forças e a coragem,
Vendo a planície verde ao fundo e, sob a aragem,
Brancas, no azul da Ria, as velas deslizar…

Por isso o coração aqui me prende assim!
E, da saudade, quando, ao remorder acerbo,
Tua figura evoco e ressuscito em mim,

Vejo-te errar na praia — emocionado engano! —
Buscando a inspiração do teu ardente verbo
No esplendor do Infinito e o tumultuar do Oceano!

Luís de Magalhães
"José Estêvão — Estudos e Colectânea”

sábado, 4 de junho de 2022

Linguajar dos gafanhões de outros tempos

Numa das minhas passagens pelos meus blogues, 
encontrei este texto de Maria Donzília Almeida. 
Resolvi republicá-lo para não se perder com a passagem dos anos


PARA SORRIR... 

Em tempos que já lá vão, apresentaram-se duas comadres para baptizar uma criança, juntamente com a mãe, da mesma. O abade inquiriu: Então como se vai chamar a criança?
A 1.ª comadre respondeu: — Botelhana, Sr Prior! Botelhana!
A 2.ª comadre retorquiu: — Prantelhana, Sr Prior, Prantelhana!
Por fim, a mãe da criança também se pronunciou e anuiu: — Eu Cudcana.
Depois de ter ouvido as três versões, o padre ficou confuso e levou algum tempo até descobrir. Afinal, isto traduzia a maneira de falar das gentes da Gafanha, nos princípios do século passado e todas queriam dizer o mesmo.
Já naquela altura, como sempre, se aplicava à linguagem oral, a lei do menor esforço, pelo que, o povo despende a menor energia possível, para pronunciar as palavras (acto de fonação). Assim, o que as comadres queriam, realmente, dizer era o seguinte:
1.ª Comadre: — Bote-lhe Ana, Sr Prior! (botar – pôr, colocar)
2.ª Comadre — Prante-lhe Ana, Sr prior! (prantar – pôr, colocar)
Mãe — Eu cuido que Ana, Sr Prior! (cuidar – pensar, achar)

M.ª Donzília Almeida

Babel, Pentecostes e uma ética global

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias

A revolução a caminho é a dos pobres e humilhados, que nada têm a perder.

1. Fazemo-nos e construímo-nos uns aos outros; desfazemo-nos e destruímo-nos uns aos outros. Lá está o mito da Torre de Babel, um mito que transporta uma verdade fundamental e dá que pensar, como escreveu o filósofo Paul Ricoeur. Um dia - está escrito no Génesis - os homens disseram: Construamos uma cidade e uma Torre cujo ápice penetre nos céus. A Bíblia vê neste projecto uma iniciativa de arrogância e orgulho insensatos, aquela hybris - desmesura -, que os gregos também condenavam, porque arrastava consigo a maldição e a catástrofe. No meio da arrogância e da desmesura, os seres humanos, em vez de se compreenderem, guerreiam-se e matam-se na barbárie.
A tragédia repete-se constantemente. Quando, por exemplo, um ditador brutal, ignorando o Direito Internacional e as Nações Unidas, invade um país independente com uma guerra de terror, aí está uma Babel, num mundo perigoso, com horrores e catástrofes à vista.

Ver o mar afugenta o stresse

Praia da Vagueira

Ver o mar afugenta o stresse. Não será novidade para ninguém. E este casal da fotografia, publicada no meu blogue há bons anos, resolveu escolher o mar da Vagueira para retemperar o espírito. Passei por lá ontem, mas a chuva miudinha não me aconselhou sair do carro. Fica para um dia destes.
No fundo, diz-me a experiência que toda a natureza, seja ela marítima ou serrana, mais campestre que citadina, inspira-nos vida nova, saudável e tranquila.
Bom fim de semana para todos, estejam onde estiverem.