quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Para matar saudades

 

Hoje foi um dia de muitos que hão de vir, mais dado a recordações do que outra coisa qualquer. Por grandes voltas que desse, a Figueira da Foz não saía da minha cabeça. Em tempo de nostalgias é assim. E então percorri ruas e vielas, sempre a fugir das avenidas e das multidões que por aqui ou por ali nos exigem atenção.
A Figueira da Foz não fica longe. Por lá passei muitas férias e fins de semana e retenho na minha memórias histórias que me seduziram. Não tendo por lá amigos, fico livre para apreciar o mar de qualquer canto, praças e jardins. Mas há uma memória inesquecível: Depois do nosso casamento, quando rumávamos à nossa Lua de Mel, eu e a Lita ali parámos para comer umas sandes e beber uns refrescos. Foi em 7 de Agosto de 1965. 

Ilha da Madeira




Gosto muito de passar e estar no nosso sótão. Um sótão é, para mim, um espaço de silêncio, de meditação e de recordações.
Durante as arrumações a que procedi durante uns dias, viajei muito pelo país e até pelo estrangeiro. As fotografias que revi transportaram-me com a Lita a paisagens inesquecíveis. As fotografias ajudaram imenso e disso procurarei dar conta aos meus leitores e amigos.
Hoje andei pela Madeira, a encantadora ilha de paisagens ímpares, com oceano tantas vezes à vista. Visitar vilas e cidades e mesmo aldeias recônditas, aparentemente sem histórias de vida, foi um gosto inexplicável. Tudo isto é possível porque estamos a reordenar este espaço de silêncio inspirador. Sem televisões, claro!
A música, de vez em quando, tem o seu espaço. Para já, ouço os galos a cantar e alguns passaritos a chilrear. Mas a chuva, necessária mas por vezes incómoda, tilinta na cobertura metálica com intensidade redobrada. Chuva forte por aqui e seca dramática neste retângulo de uns 90 mil quilómetros quadrados de superfície.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Bar do Jardim 31 de Agosto para a Paróquia



O Bar do Jardim 31 de Agosto será cedido à Fábrica da Paróquia da Gafanha da Nazaré, após a Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) proceder às obras de reabilitação desse espaço, situado nas proximidades da Igreja Matriz. 
A cedência do imóvel acontecerá após a assinatura de um protocolo, o qual foi aprovado na reunião do executivo municipal de Ílhavo realizada no passado dia 11 de janeiro. 
O imóvel, que se encontra em estado de abandono e com marcas de vandalismo, irá albergar, após a sua recuperação, a Mordomia da Festa em Honra da Nossa Senhora da Gafanha da Nazaré, que aí poderá realizar quermesses para a angariação de fundos para a Festa que se realiza no final de agosto. 
A CMI realça que “a cedência deste imóvel não permitirá a exploração comercial”, de modo a salvaguardar “os interesses dos comerciantes locais”.

Fonte: Correio do Vouga

Barragens a bater no fundo


Apesar da chuva que tem caído com persistência aqui pelos nossos lados, com Ria e Mar à vista, a calamidade da seca noutras regiões do país preocupa as pessoas e os estudiosos. Se o excesso de chuva prejudica as culturas, a falta dela gera preocupações a nível agrícola, mas não só.
No PÚBLICO li que “as barragens algarvias estão a bater no fundo, temendo-se o pior dos cenários no Verão”.
 Portugal, país pequeno, está cheio de contrastes, mas já não sei se tal é bom ou mau. O que sei é que temos de viver no país que temos, apesar de tudo,  com a beleza dos seus contrastes.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A vida é feita de mudanças!

Os meus leitores e amigos hão de notar que, frequentemente, altero o rosto do meu blogue, pelo simples motivo de gostar de mudar de roupa. Não há outros motivos para além do que disse. Portanto, não estranhem que eu aprecie novos ares, novas paisagens e outras roupagens. 
Não é a vida feita de mudanças? Ai de nós se estagnamos!

domingo, 14 de janeiro de 2024

Seca do Bacalhau



O bacalhau que se comia nas nossas casas era preparado com cuidado. Depois de sair dos navios bacalhoeiros, entrava nas secas, onde era lavado com cuidado, não fosse dar-se o caso de, com a pressa, o danificar. Quando tal acontecia, baixava de categoria e o prejuízo era inevitável.
Espalhado pelas mesas de arame, com ordem e calma, o sol que o curava tinha de vir com vento. Depois era a escolha por tamanhos (miúdo, corrente, crescido, graúdo e especial).
Mulheres de lenço na cabeça e quando o sol apertava usavam chapéus de palha, que a moda daqueles tempos não apreciava rostos tostados.
Depois veio o processo  da secagem em estufas. Diziam que não era higiénica a secagem ao sol.

A tempestade das bênçãos

Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

1 Penso que para ninguém faz sentido casar-se por um período determinado de tempo. É perfeitamente claro que não há casamentos a prazo, ele é para a vida toda: “Até que a morte nos separe.” O que se passa é que a vida é o que é e pode acontecer que, de facto, tenha um termo, podendo mesmo chegar a um ponto em que a separação pode ser até obrigatória - quando há violência, por exemplo, e a educação dos filhos está em perigo.
Nestas circunstâncias, como aliás tinha escrito Bento XVI quando era apenas o professor Joseph Ratzinger, desde que tenham sido satisfeitos todos os deveres de Justiça em relação com o primeiro casamento, por exemplo, no caso de haver filhos, e se há um novo amor, com verdadeiro compromisso na dignidade e na fidelidade cristãs, e se os filhos são educados na fé cristã, já me aconteceu dar uma bênção e admitir esses casais à comunhão. Aliás, Francisco já deu orientações para estes casos.

sábado, 13 de janeiro de 2024

Velhas fotos para reviver

A Lita de lacinho com a avó e duas tias 

Rever fotografias é, normalmente, um prazer. E se forem antigas, então o prazer é redobrado. Foi o caso de hoje. Ao abrir uma caixa de cartão, encontrei velhas fotos já muito adulteradas pelo tempo. Sem ser técnico destas artes, nem de outras, dei-me ao gosto de tentar aperfeiçoar algumas, nem sempre com êxito. De qualquer modo, a Lita ficou muito satisfeita ao recordar quem a criou desde que nasceu.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Carismas na Igreja Católica

"Diz-se que se corre o risco, neste momento, de novas divisões na Igreja. Esses movimentos reconhecem as grandes e originais dimensões do espírito reformista do Papa Francisco. O grande empreendimento deste Papa é a promoção de uma Igreja sinodal que implica caminhar juntos na comunhão, na participação e na missão. Isto, ao nível de toda a cristandade, é um longo acontecimento que nunca pode estar resolvido. É uma Igreja em processo de mudança e quem não perceber isto não entende nada da originalidade da intervenção do Papa Francisco. É ele próprio que acaba de nos incitar a “não ter medo da diversidade de carismas na Igreja”. Pelo contrário, devemos alegrar-nos por vivenciar esta diversidade. Os cristãos precisam de compreender e viver o dom da diversidade. Se formos guiados pelo Espírito Santo, a riqueza, a variedade, a diversidade, nunca provocam conflito."

Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

UM POEMA DE SOPHIA


É com o frio que nos lembramos 
mais da Primavera e das Flores

Sophia


As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

CARNE DE CÃO

A televisão anunciou hoje que a Coreia do Sul pôs fim ao consumo da carne de cão. Não será motivo para grande espanto quando por todo o mundo se  come carne de diversos animais. Para a nossa cultura, porém, carne de cão não está nos nossos hábitos. E logo me lembrei de um livro de José Luís Peixoto — Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte — publicado em 2012, onde o escritor relata o facto de por lá se comer carne de cachorros. Fui confirmar, não fosse dar-se o caso de eu estar enganado. E lá vem na página 107: — “Comi carne de cão de duas maneiras: sopa de cão e cão frito. Frito sabia a pombo. Vinha num pequeno prato uma porção de carne desfiada e fígado. Não trazia temperos fortes. Cortado em tiras finas, o fígado frito sabia a iscas. O montinho de carne desfiada sabia a pombo”. E a descrição continua, mas fico-me por aqui. Já imaginaram se a moda pega?

ÉLIO TAVARES — Um homem bom



O HOMEM DO LEME

Em qualquer navio, que nos mares navega,
vai sempre, firme no seu posto,
o HOMEM DO LEME!
Suas hábeis mãos giram sem cessar a roda,
ora a bombordo, ora a estibordo,
enquanto o seu olhar na bússola se fixa,
para o rumo manter sempre certo.
Lá vai, sempre atento, o TIMONEIRO,
quer navegue em mar chão e sereno,
quer afronte as alterosas vagas.
Leva na alma a mais certa bússola.
— Nossa Senhora dos Navegantes,
e no coração os seus maiores amores,
invisíveis mas sólidas âncoras,
que o prendem à terra distante e querida:
a mulher, os filhos, os pais saudosos!
E murmura, como em prece, o homem do leme:
— Roda que dos meus me apartaste,
leva-me de novo, segura e certa,
para junto daqueles que tanto amo!

Élio Tavares


NOTA: Evoco hoje um amigo que colaborou no TIMONEIRO. Élio Tavares era o seu nome e morava na Praia da Barra. Nunca conheci a sua família e vivia numa solidão serena, apesar de tudo. Morreu há muitos anos e nunca cheguei a saber se tinha espólio literário. Escrevia muito. Prosa e poesia ficava ao meu critério, mas era impossível publicar tudo.
Um dia foi residir para um hospital-Lar na Tocha. Indaguei e fui visitá-lo. Estranhei a sua escolha. Tinha sofrido da doença de Hansen [Lepra] como dizia, mas estava curado.
Estava sentado na cama... a escrever. E lá me deu mais textos para o nosso jornal. Depois faleceu. Há muitos anos. É justo que o evoque com saudade. Paz à sua alma.

Fernando Martins

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

O nosso Cortejo dos Reis

Em memória de uma nossa vizinha que participava
regularmente no Cortejo. Já "vive" com o Menino Jesus  da sua devoção

Desde que me conheço, sempre arranjei tempo para viver por dentro o nosso Cortejo dos Reis. Em menino, levei pela mão o meu irmão Armando, que todos na família tratávamos por Menino… Os nossos presentes, amarrados na ponta de uma cana, eram o nosso orgulho, penso que por causa de um bacalhau com bom aspeto.
O nosso pai, Armando Grilo, foi levar-nos a Romelha (ou Remelha?) para fazermos todo o percurso a pé. O meu irmãozito não falava muito, mas lá me seguia.
Durante o percurso, até à Igreja matriz, vivenciámos a alegria que envolvia toda a gente. Só parávamos na apresentação dos Autos de Natal, nos sítios previamente estabelecidos. E chegámos à Igreja Matriz.
Cansados, mas satisfeitos pelo que pudemos apreciar. Olhámos um para o outro, sem saber que fazer. Os nossos pais não andavam por ali. Que fazer? Rumámos a casa com os presentes.
Quando chegámos, os nossos pais, admirados, atiraram-nos, no meio de gargalhadas:— Então não entregaram os presentes ao Menino Jesus?
Entre ingénuas gargalhadas a minha mãe atirou: — Vai à igreja, Armando, e paga os presentes.

Sara Reis da Silva na "Ílhavo - Revista"


A “PROFESSORA DOS LIVROS”
SONHA QUE O FILHO SAIBA LER O MUNDO

SARA REIS DA SILVA APRESENTA-SE COMO “A PROFESSORA DOS LIVROS”, CITANDO O FILHO, QUANDO TINHA 5 ANOS. CRESCEU NA GAFANHA DA NAZARÉ, ENTRE A IGREJA MATRIZ E O JARDIM OUDINOT. DOUTOROU-SE EM LITERATURA PARA A INFÂNCIA NA UNIVERSIDADE DO MINHO, EM BRAGA, ONDE HOJE DÁ AULAS, E É AUTORA DE DIVERSOS LIVROS. A LITERATURA DEFINE, ESTRUTURA E ALIMENTA A SUA VIDA. GOSTA DE VIVER INTENSAMENTE, TENTA NÃO DESILUDIR NINGUÉM E DAR SEMPRE O MELHOR DE SI.

A sua paixão pelos livros não tem uma data oficial de nascimento. Foi germinando lentamente, graças ao avô António que, apesar de “só” ter a quarta classe, gostava de ler e de escrever, e da professora do 1.º ciclo, Maria José Venâncio, que criara uma pequena biblioteca na sala de aula, da Escola da Cambeia. À época, os livros para a infância não abundavam. Reconhece a felicidade de ter pais que proporcionaram a oportunidade de adquirir alguns livros, de ter familiares que ofereciam ou emprestavam livros e, ainda, de ser vizinha do professor Fernando Martins e de usufruir da sua biblioteca.


Lê diariamente e muito. Lê ficção para a infância e a juventude, estudos teóricos para a docência, a investigação e os projetos que integra - Rede Temática “Las literaturas infantiles y juveniles del marco ibérico” e Observatório de Leitura de Pombal. Gosta de ouvir muitos escritores, não conseguindo eleger um. Debruçou-se sobre Miguel Torga e Manuel António Pina nas teses de mestrado e de doutoramento, orientada pelos professores Luís Machado de Abreu e Blanca-Ana Roig Rechou, respetivamente. Não consegue escolher “o” livro. A sua vida, em momentos diferentes, é marcada por vários livros, que fazem companhia, ajudam a compreender a si própria, os outros e o mundo.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Flor estilizada para este domingo


O Google, atento e cooperante, estilizou uma foto registada por mim, o que agradeço. Como não sou nem quero ser egoísta, resolvi partilhá-la com os meus amigos, com votos de bom domingo.

De 2023 para 2024: tensões e esperança

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 

Havia regiões nas quais, na noite de passagem de ano, tudo o que é velho - roupas, pratos, mobília - ia pela janela fora para a rua. E também é sabido que nessa noite há licenças ao nível do álcool e outras que normalmente não são admitidas. É um pouco como se, retomando, agora de modo secularizado, os mitos cosmogónicos, se instalasse o caos primitivo, para em seguida, como fizeram os deuses in illo tempore, ser reposta a ordem do cosmos.
Perante um ano novo que está aí à nossa frente, os sentimentos misturam-se: perplexidades, entusiasmo, dúvidas, expectativas, temores, esperança... Que é que nos reserva o novo ano: para mim, para a minha família, para os meus amigos, para o país, para a Europa, para o mundo? Será melhor, será pior que o ano que passou? Querendo ir mais fundo, até somos tentados a pensar que é igual, que tudo se repete: morre um ano, surge outro ano, na roda eterna do mesmo... Mas não é assim. Nunca houve na história de cada um de nós, na História do país, na História da Europa, na História da Humanidade, na História do mundo, com uns 14 mil milhões de anos, um ano como este, o de 2024, que acaba de surgir. Ele está aí, novo, pela primeira vez, como criança acabada de nascer. E, exactamente como a criança, está aí com confiança.

sábado, 6 de janeiro de 2024

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

OUTROS TEMPOS — 1926

Foto de Marques Abreu


Outros tempos.— 1926. Descalça como era hábito naquele tempo. O texto poético dá outra cor ao quadro. Publicado na revista ILUSTRAÇÃO MODERNA.

A poesia de Ana Luísa Amaral



Ana Luísa Amaral, a poeta que faleceu em 5 de agosto de 2022, deixou uma obra que vale a pena ser lida e relida. Infelizmente, não voltará a partilhar novos poemas, mas os que deixou, compilados em livro de mais de mil páginas, merece estar sempre à mão para leituras e releituras.
Quem gosta de poesia tem mesmo de ter por perto o seu livro “O olhar diagonal das coisas”, editado pela Assírio & Alvim.
Não sendo crítico literário, nem para lá caminho, nunca poderia fazer apreciações eruditas. Apenas digo que, se puderem, leiam Ana Luísa Amaral.
Aqui partilho um poema do seu livro.

Eu? ela perguntou

Mas diz-me como
se trago sobre mim
pano de linho
tingido de mil céus?

Se continuo a amar
o meu olhar ao espelho
nele passeio os olhos
como em longo deserto
vagueia o peregrino?

Mas sobretudo
se não ecoa em mim
o nome que me dás

nem o meu sim
ressoa
em nitidez de sino?

Extraordinário apelo à paz

 


O apelo à paz chega ainda da igreja de Nossa Senhora da Ajuda, a matriz da Paróquia de Peniche (Patriarcado de Lisboa), que construiu um presépio onde Jesus está sozinho, no meio de escombros, numa evocação à guerra na Terra Santa, com “um significado muito especial, muito único”.

“É mais forte, arrepia-nos, acaba por ser quase aterrador ver assim uma criança completamente desamparada, sozinha, sem ninguém, sem uma mãe, sem um pai, sem uma mão, é terrível. Assim a mensagem passou mais forte”, explicou Francisco Gonçalves Domingos, à Agência ECCLESIA.

Recantos da minha terra


Tenho como um dos meus maiores prazeres divulgar as belezas da minha terra, a Gafanha da Nazaré. Há muito que o faço, mas tenciono intensificar esse prazer. Quando era miúdo assisti, por vezes, a conversas que depreciavam as Gafanhas e suas gentes. E isso terá contribuído para que, pessoalmente,  me envolvesse na divulgação deste recanto beijado pela Ria e pelo Mar, através da comunicação social. Sinto  que, desde há muito, as Gafanhas passaram a ocupar, dignamente, um lugar cimeiro no panorama regional e até nacional.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Cortejo dos Reis - 7 de janeiro de 2024


Na Gafanha da Nazaré, o Cortejo dos Reis é uma festa. Há pessoas disponíveis, há música com cantares dos nossos antepassados e os autos apresentados durante e no fim do Cortejo têm décadas de existência. Há gafanhões, homens e mulheres, que sabem de cor os diálogos das diversas cenas.
Os participantes usam trajes um tanto ou quanto da área do folclore e o povo participa com alegria. Os contributos pessoais e o leilão das ofertas destinam-se às despesas correntes e a obras da paróquia.

Tempo de ingénuas memórias

Nos votos de Natal e Ano Novo aproveitamos a deixa para evocar tempos idos. Um dia destes contactei uma prima para saber da sua saúde. Vive só, com doenças próprias da idade, com bengalas para se deslocar, mas com as visitas regulares das filhas. Vai vivendo, como me segredou, mas é uma mulher que consegue resistir e ultrapassar obstáculos.
Lembro-me perfeitamente do seu nascimento, Tinha eu seis anos. A novidade chegou-me pela minha mãe:
— O padrinho Necas foi à pesca e encontrou uma menina na borda. Vamos vê-la! E lá fomos.
Eu e o meu irmão, com os seus três anitos. 
Vimos a criança e eu perguntei, preocupado, como é que ela apareceu na borda… e como não morreu?
— Só Deus sabe, disse a minha mãe.
A ingenuidade é muito bonita!

NOTA: Uma saudação amiga com votos de coragem, que a vida vale a pena ser vivida,

Jorge P. Ferreira - Reflexão oportuna

Jorge Pires Ferreira, 
diretor do Correio do Vouga 
- Diocese de Aveiro

A declaração (“Fiducia supplicans”) que possibilita abençoar, dentro de certas condições, casais em situações irregulares e casais do mesmo sexo causou várias reações entre católicos e não católicos.
Entre estes últimos, indiferentes na sua grande maioria para a questão, as opiniões que se ouviram foram de apreço. Parecia, a julgar pelas primeiras notícias na comunicação social generalista, que finalmente a Igreja aceitava a homossexualidade.
Entre os católicos, as reações foram – e são – de dois tipos. Para uns, é um passo em frente, e positivo, na abordagem da homossexualidade (os “casais em situações irregulares” pouco interessam para o caso). Estes, que consideram o documento como algo positivo, subdividem-se entre os que acham que há novidade na prática e os que dizem que não há propriamente novidade porque “não se pretende sancionar nem legitimar nada” (n.º 34).
Para os outros, os que receberam negativamente a declaração, há novidade, mas é uma contradição em relação ao que a Igreja sempre pensou e disse sobre a homossexualidade e o casamento católico.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

BABE - Bragança

Uma fotografia
com história 

Grupo de Cantares de Babe

Trabalhos relacionados com jornalismo levaram-me a Bragança em novembro de 1995. Numa hora de descontração, os participantes foram contemplados com uma visita a Babe, uma freguesia histórica que muitos desconheciam.   Ao encontrar esta fotografia, fui até lá com a minha já frágil memória. 
Frente à igreja matriz, entrámos num pequeno salão que dava pelo nome de Celeiro. O povo, que ainda hoje é pouco, ali guardava os seus cereais e este grupo tocou e cantou as suas modinhas para os jornalistas visitantes.
O mais curioso para mim e para outros foi o acontecimento histórico que se realizou naquela humilde povoação de Bragança. A 26 de Março de 1387 o Duque de Lencastre despediu-se de sua filha D. Filipa de Lencastre, casada com D. João I, Rei de Portugal, tendo sido consagrada a aliança com a Inglaterra.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

As nossas origens



Hoje foi dia de mexer em papelada antiga guardada numa pasta. Pela sua curiosidade, aqui fica cópia de um recorte com algumas dicas. Foi publicado no Timoneiro em janeiro de 1971.

ANTÓNIO FEIJÓ - O Amor e o Tempo

De uma passagem 
por Ponte de Lima


Quando viajamos, temos por hábito procurar monumentos ligados a artistas e escritores, em especial. Em Ponte de Lima registei este  poema. 


segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

2024

É hoje o primeiro dia de 2024, mas também é  um  dia para acreditarmos com convicção que o amanhã depende de nós. Do que fizermos de bom  com convicção, de mãos dadas com quem nos cerca. 
PELA POSITIVA brotou há anos porque apostei, cansado de uma comunicação social que destacava, com muita frequência, o negativo, mas admito que tenho  ainda  muito que aprender.
Da minha janela aprecio um dia luminoso que augura um ano repleto de bênçãos que nos abram portas ao bem e ao belo que habita em cada um de nós. A felicidade que almejamos depende do contributo de todos.
Um ano florido para todos.

Nota: Flor do nosso jardim.

AIDA VIEGAS - Hoje o dia é meu

Aida Viegas












Hoje o dia é meu
Foi Deus quem mo deu
Vou viver feliz.
Terei amanhã?
Quem é que mo diz?
Eu não vou deixar
A vida passar
O tempo escapar
Sem saborear
Preciosa dádiva
Que é pra mim a vida.

Esta hora é minha
Vou aproveitá-la:
A olhar o belo,
A sorver a paz,
Gozar a saúde,
A quebrar a raiva
E esquecer o medo.
Minimizo a dor
Afasto a ansiedade
Afogo a tristeza.
Vou resolver tudo
Com este segredo:
Vou beber amor
Só felicidade;
Sirvo à minha mesa
Sempre acompanhada,
De calma alegria,
E, à sobremesa
Comerei magia.
Hoje o tempo é meu.
Foi Deus quem mo deu.
Que belo este dia!...

Aida Viegas

NOTA: Este poema de Aida Viegas faz parte de um comentário que a minha boa amiga, poeta que conheço e leio há bons anos, me remeteu. Publico-o com muito gosto, com votos das maiores venturas, sempre com poesia.

domingo, 31 de dezembro de 2023

ÚLTIMO DIA DE 2023


Pessoalmente, reconheço que 2023 foi um ano cheio. É sempre cheio quando temos saúde, paz e amor. Não me posso queixar. Como não sou, de certo modo, ambicioso, só tenho que agradecer a Deus, à família e aos amigos o dom da vida que me ajudaram a manter. Fiz coisas boas e outras menos boas. Andei ao sabor da maré, com os olhos postos no meu futuro e no futuro dos que me cercam, em especial a Lita, os meus filhos, netos e bisneta. Terei falhado algumas vezes, mas errar é próprio dos humanos.
Aqui chegados, resta-me felicitar todos os amigos e mesmo os que o não são, cultivando o espírito de um futuro melhor para todos.
Que em 2024, terminem as guerras, as fomes e os sofrimentos de toda a ordem. Está nas nossas mãos contribuir para um mundo muito melhor.

Fernando e Lita

sábado, 30 de dezembro de 2023

Obra da Providência


Dona Rosa Bela e Dona Maria da Luz

Neste mês, em que se assinala o primeiro aniversário do Fórum Municipal da Maior Idade e em que apresentamos aos nossos leitores uma Agenda renovada, dedicamos esta nova rubrica da Agenda de Eventos “Viver Em...”, “Associações”, à Obra da Providência, a mais antiga entidade parceira do Fórum.
A Obra da Providência, Instituição Particular de Solidariedade Social, nasceu espontaneamente em 1953, na Gafanha da Nazaré, graças ao empenhamento de duas mulheres, a D. Maria da Luz e a D. Belinha, que dedicavam grande parte do seu tempo a ajudar os mais desfavorecidos.
O objetivo era o de dar apoio a jovens vítimas de rejeitação familiar e violência doméstica, da prostituição e de outras situações sociais problemáticas, sendo um grande número de mães adolescentes. Denominada na altura de Lar da Providência, as fundadoras procuraram desde o início que a marca caraterística desta casa fosse o ambiente de acolhimento e de liberdade. Procuraram também manter um grupo pequeno para assegurar um ambiente familiar.

Fonte: CMI

Nota: Publicado em 30 de dezembro de 2013.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

AVEIRO : Trânsito caótico

Não se assustem com o texto. A cidade é sempre bonita e acolhedora


Há uns 80 anos, a vida era muitíssimo mais calma. Vivíamos à volta de casa e pelas ruas circulavam poucos carros e camionetas. De motorizadas pouco havia para dizer. O povo andava mais a pé e de bicicleta.
Na juventude, doente acamado, só me podia levantar em dias de sol, sem vento e chuva. E olhando para a Rua que ligava a nossa terra às Gafanhas da Encarnação e Carmo, de manhã e à tardinha, as mulheres e raparigas das secas, deslocavam-se a pé. Depois, com o passar do tempo, começaram a aparecer as bicicletas e…motorizadas. Hoje, é o trânsito que todos conhecemos. Como o tempo evolui!
Fomos ontem a Aveiro e senti no corpo e na alma o movimento extraordinário de automóveis de todas as marcas e feitios. Filas intermináveis, parques de estacionamento a abarrotar.
A Lita ao volante deu voltas e voltas para sair da cidade. Será que só poderemos  passear pela cidade dos canais  já no próximo ano?

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

ASCÊNCIO DE FREITAS - Guisadinho à gafanhoa

Recordando um escritor gafanhão


«O capitão Armando Vieira, do mesmo modo familiar com que o tinha recebido pela primeira vez logo após a chegada, fez entrar o amigo da juventude pela porta da cozinha, com as manifestações de alegria de quem acolhia em sua casa alguém que tivesse acabado de regressar, ileso, de uma batalha perdida
e a cozinha estava inundada de um odor forte, saído de algo que estava a cozinhar, que fez recordar ao tio Florêncio a caldeirada de bacalhau
não obstante ele pensou que não poderia adivinhar de forma tão simples e imediata que seria esse “o jantar gafanhão” que lhe tinha sido prometido, pois a caldeirada não poderia nunca ser considerada um prato gafanhão, nem tão-pouco apenas português
— Estás a lembrar-te de alguma coisa conhecida neste cheirinho que está aqui na cozinha, não estás, sócio?
mas eu aposto singelo contra dobrado em como não adivinhas o que a Adélia tem ali a cozinhar
— Guiado pelo cheiro, eu apostaria que se trata de caldeirada de bacalhau
mas ao mesmo tempo qualquer coisa me diz que perderia a aposta, porque este aroma que anda no ar não é exactamente igual ao da caldeirada
perderia… seguramente

VOTOS DE BOAS FESTAS


Direta ou indiretamente, pessoalmente e por mensagens, foram muitas as  que recebemos com votos de Boas Festas, na quadra natalícia. Na impossibilidade de a todos agradecer e retribuir os gestos de amizade e simpatia, queremos  fazê-lo agora, por esta forma, na esperança de não esquecermos ninguém. E já agora, que o próximo ano nos abra as portas da paz e da fraternidade.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Ontem foi Dia de Natal


Ontem foi dia de Natal. Em nossa casa, alguns se juntaram à volta da mesa e depois conversámos mais descontraídos ao sabor da maré.

Estávamos tranquilos e recebemos alguns familiares. Fomos premiados com os descendentes que iniciaram há pouco as suas aventuras neste nosso mundo tão minado por guerras que julgávamos em sono profundo. Dormiam apenas em jeito de descanso, ao que parece para ganhar forças. E as guerras, cada vez mais mortíferas, continuam nos mais  variados quadrantes. E Deus não podia intervir, fazendo o milagre de acalmar os guerreiros? Se o fizesse, deixaríamos de ser livres e autónomos, para nos tornarmos escravos.

Deus dá os conselhos, direta ou indiretamente, mas não força ninguém a segui-los. E aqui está um desafio extraordinário para cada um de nós. O que gostaria Deus que eu fizesse para contribuir para a paz nas famílias e no mundo?


Fernando Martins


domingo, 24 de dezembro de 2023

Pedro H. de Mello — VELHA MESA



VELHA MESA

Pai e Mãe.
À cabeceira,
Nosso Avô e nossa Avó...
Perto, o calor da lareira,
Que não deixa ninguém só.
E a história daquela mesa,
De ano a ano repetida,
Lembra uma lanterna acesa
Que alumia toda a vida!

Pedro Homem de Mello
Natal de1959

Ilustração: Postal dos CTT de 1959 de Raquel Roque Gameiro 

David Mourão-Ferreira — Voto de Natal


Voto de Natal

Acenda-se de novo o Presépio no Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.

E a corrida que siga, o facho não se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
para sentir no peito a rosa reflorida!

Filhos, as vossas mãos! E a solidão estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida...
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
dentro de mim não sei qual é que se eterniza.

Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
O calor destas mãos nos meus dedos tão frios?
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.

David Mourão-Ferreira, 
in 'Cancioneiro de Natal'
Fundação Calouste Gulbenkian


A NOSSA CONSOADA


Como diria  Raul Solnado, hoje é domingo em todo o país. Coisa banal, à partida, porque cada semana tem o seu domingo. Mas este domingo é um dia especial. Não apenas pelas crianças, que hão de pôr, algumas, o sapatinho na chaminé, para o Menino Jesus não se esquecer que Natal é dia de prendas, mas é  sobretudo o dia das ceias tradicionais que congregam famílias à volta do bacalhau, que por aqui não faltará, mais os doces das nossas avós, com receitas variadas, mas sempre muito desejadas e muito doces.
O comer será conforme os apetites, mas eu também gosto imenso das conversas, das risadas, da alegria, enfim, da boa disposição como sinal da felicidade. 
Já me esquecia que, em muitas famílias, não hão de faltar as trocas de lembranças, ou prendas. Há, garantidamente, famílias onde este último predicado não será cumprido. Se cada um de nós souber de algum vizinho nessa situação, ofereça algo que o faça feliz. E prolongue esse gesto por todo o ano. 
Boa consoada para toda a gente!

Fernando Martins

Pascal: o Homem e Deus

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

O Memorial, fé e razão, a aposta

3. Pascal entregou-se totalmente a Deus e doou os seus bens aos pobres. Em 1654 teve uma experiência extraordinária, mística, com o Deus vivo, de tal modo marcante que a descreveu e guardou escrita em segredo cosida no forro do casaco, tendo sido descoberta depois da morte por um criado. É o famoso Memorial:
"Ano da graça de 1654, Segunda-Feira, 23 de Novembro, dia de São Clemente, papa e mártir, e de outros no martirológio. Véspera de São Crisógono, mártir, e outros. Das dez horas e meia da noite, mais ou menos, até mais ou menos meia-noite e meia. FOGO. Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob, não dos filósofos e dos sábios. Certeza. Certeza. Sentimento. Alegria. Paz. DEUS de Jesus Cristo. Deum meum et Deum vestrum (Meu Deus e vosso Deus). "O teu Deus será o meu Deus". Esquecimento do mundo e de tudo, menos de Deus. Ele não se encontra senão pelas vias ensinadas no Evangelho. Grandeza da alma humana. "Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheci-te". Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria. Separei-me dele. Dereliquerunt me fontem aquae vivae. Meu Deus, abandonar-me-eis? Que eu não me separe de ti eternamente. Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo. Jesus Cristo, Jesus Cristo. Eu separei-me dele, fugi dele, reneguei-o, crucifiquei-o. Que eu nunca me separe dele. Ele só se conserva pelas vias ensinadas no Evangelho: Renúncia total e doce. Submissão total a Jesus Cristo e ao meu director. Alegria eterna por um dia de exercício na terra. Non obliviscar sermones tuos. Ámen."

sábado, 23 de dezembro de 2023

A noite de Natal - Cecília Sacramento

Em memória de uma professora
que jamais esquecerei


«A noite de Natal. A ceia. A aproximação do acontecimento, a repetição sempre apetecida, igual e nova, o diferente que pairava e nos invadia e ficava a agitar-nos como um vento bom. A grande sala de jantar repensada desde os primeiros dias de Dezembro, limpa do tecto às frinchas do soalho, sob a fiscalização da Avó, que já sabia de cor os sítios mais vulneráveis, entre as frinchas que iam de lado a lado, ao comprido das tábuas, na juntura, muito penetradas pela piaçava, rija, a escovar o mais fundo possível, metia-se a vassoura no balde, esfregava-se-lhe o sabão, “é preciso que a água com o sabão entre abundante na frincha e seja arrastada com o rasar da piaçava, para com ela vir todo o lixo”, dizia ao ensinar, depois o pano apanhava-o, depois passava-se por água limpa, constantemente renovada, o pano limpava, por fim, muito espremido, e a madeira ficava repousada, amarelinha e seca, quase. Esta, a última fase da limpeza, todo o resto fora metodicamente executado de cima para baixo e, por fim, podia-se respirar o ar cheiroso a lavado fresco.

E a subida do nível do mar?

Para pensar...



Uma investigação realizada no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) informa sobre a forma como os residentes nas regiões costeiras lidam com as ameaças das alterações climáticas, nomeadamente a subida do nível das águas.
Com as consequências das alterações climáticas, as zonas costeiras estão expostas aos impactos negativos da subida do nível das águas, colocando em risco comunidades e habitats naturais. No entanto, as consequências da subida do nível do mar não são imediatas, o que pode explicar por que razão as pessoas continuam a escolher viver ao longo da costa. 
Durante o seu mestrado no Iscte, Natacha Parreira, sob a orientação de Carla Mouro, investigadora do CIS-Iscte, investigou como diferentes tipos de vinculação ao lugar estão associados às estratégias das pessoas para lidar com a subida do nível das águas no distrito de Aveiro, considerada uma das zonas costeiras de maior risco em Portugal.

FOTO - Redes sociais 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Boas festas para todos

Penso que vale a pena recordar que levamos a vida a correr. E sendo assim, raramente refletimos sobre o que fazemos ou não fazemos. Em épocas festivas, então, tudo se multiplica e não há tempo a perder, que na hora marcada tem de estar tudo pronto e afinado. 
Por estes dias vai ser assim e a festa há de correr como esperado. Todos, ansiosos, apostamos nos encontros familiares em paz. É a consoada, ano a ano repetida e sempre apetecida. Que à volta da mesa não falte a alegria. 
Boas festas para todos.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Júlio Dinis passou pela Gafanha


Júlio Dinis passou pela Gafanha
e em 28 de Setembro de 1864  escreveu de Aveiro 
ao seu amigo Custódio Passos:

“Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali.
Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela.”
Depois, acrescenta, como que a querer dar-nos uma lição: “Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui.”

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Mourão-Ferreira — Natal, e não dezembro




NATAL, E NÃO DEZEMBRO

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira


Nota: Gosto da poesia de Natal  de David Mourão-Ferreira. Publicação repetida.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

DIFERENÇAS — Cardeal Tolentino

O estribilho tenho-o ouvido com frequência: “Não temos hoje a afirmação de um pensamento católico consistente”. Parece que rareia - é certo. Mas há sempre magníficas excepções. E o Cardeal Tolentino é uma exemplar de primeira grandeza. Teólogo esclarecido, profundo e aberto aos desafios do nosso tempo, biblista, filósofo da interioridade; o homem que sabe dizer para além das palavras, em poesia humanista, filosófica e mística a um tempo; conferencista plurifacetado… 
Não admira que tenha sido chamado às responsabilidades de que se desempenha na Cúria Romana, não espanta ter ganho o Prémio Pessoa 2023 e ter sido investido pela Universidade de Aveiro como Doutor Honoris Causa. 
Faz a diferença em relação a tantos atavismos teológicos, a tanta inércia de saudosismos passadistas, a tanto medo (ou cobardia) rotulado de prudência. Também com esta pena iluminada se faz Natal, no meio da selva de tanto dizer sem nada dizer, de tanta ‘teologia de bolso’, de tantos muros erguidos face à cultura, de tantas janelas a fecharem-se, numa rota de preservar a Igreja condenando-a ao mofo da insignificância.

Querubim Silva 
no Correio do Vouga de hoje