domingo, 30 de abril de 2023

Viver nas fronteiras

Crónica de Bento Domingues
no Público

Já há 50 anos, havia quem chamasse a atenção para as resistências à mudança das congregações e ordens religiosas: ou se renovam ou morrem dentro de 150 anos. Bergoglio não se resigna.


1. O Papa Francisco tem um sentido muito agudo do tempo. Repete que já não estamos em regime de cristandade. Estamos a viver, não simplesmente uma época de mudanças, mas uma mudança de época e lembra a afirmação de Newman: “Aqui, na terra, viver é mudar.”
Não se trata de procurar a mudança pela mudança nem de seguir as modas, mas é preciso ir recuperando o tempo perdido. Assumiu a observação do cardeal Martini: a Igreja ficou atrasada 200 anos [1].
Já há 50 anos, havia quem chamasse a atenção para as resistências à mudança das congregações e ordens religiosas: ou se renovam ou morrem dentro de 150 anos. Bergoglio não se resigna.

Estrada Aveiro - Barra

30 de Abril de 1861

                         



Com a conclusão do lanço da Gafanha ao Forte, terminaram neste dia os trabalhos de construção da estrada da Barra, iniciados em 12 de Março de 1860. - Padre João Vieira Resende, Monografia da Gafanha, pg. 181.

sábado, 29 de abril de 2023

Antigos alunos da EICA em convívio

                                       

A vida não pode ser apenas trabalho, mais trabalho e preocupações. O ser humano, gregário por natureza, tem de conviver para partilhar ideias, sentimentos e emoções. Quem o não fizer corre o risco de se perder no mundo agitado e tantas vezes barulhento dos nossos dias. Daí a necessidade dos encontros entre pessoas, familiares ou não, que nos são sugeridos ou proporcionados.



Antigos alunos da EICA (Escola Industrial e Comercial de Aveiro) participaram hoje num almoço-convívio no restaurante Marisqueira da Costa Nova, recuperando uma tradição que foi interrompida por razões impostas pelo COVID-19.
Responderam à chamada cerca de 40 convivas com predominância de cabelos brancos. Aspeto dos convivas de acordo com as idades, de anos diversos, mas com a lucidez à altura das circunstâncias.
Nos rostos dos participantes notava-se a alegria espontânea de quem estava feliz, prova evidente de que conviver dá-nos anos de vida.


A organização coube, como não podia deixar de ser, ao António Rosa Novo, velho amigo com traquejo nestas iniciativas, que assume, aliás, com enorme naturalidade. Onde ele se mete, sabe os riscos que corre, mas nada o assusta. Um aplauso meu e garantidamente de todos pela sua determinação, na certeza de que, no próximo ano, o Rosa Novo, voltará a indicar o local, dia e hora do almoço-convívio.
Como é normal, fala-se de tudo e mais alguma coisa: Professores que nos deixaram saudades, colegas que já não estão no mundo dos vivos, brincadeiras que partilhámos, profissões que exercemos e estados de saúde que enfrentamos. E de vez em quando uma ou outra historieta para animar.
Sentimos a falta de alguns colegas que não puderam participar, por razões de saúde ou outras, e aqui manifestamos o desejo de que no próximo ano haja mais antigos alunos da EICA no convívio.
A Marisqueira soube receber-nos muito bem.

Fernando Martins

Não basta. Nem chega


"Entre as fraquezas da democracia está a mais citada: é o regime de todos, incluindo os não democratas e os antidemocratas. Além desta, outras fragilidades mostram bem como, mais do que imperfeita, a democracia tem vícios, alimenta vícios e premeia vícios. O regime democrático inclui corruptos, mentirosos, exploradores, ladrões e os representantes das várias cáfilas conhecidas. A democracia coexiste ainda com cunhas, droga, machismo, assédio sexual e tráfico de influências. Muitos destes vícios e defeitos têm de ser tratados com civilização. Outros, com a justiça e o Estado de direito. Quando estes últimos falham, perde a democracia."

Do Texto de António Barreto
no PÚBLICO de hoje

Poemas de Amor: Cantiga



Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar

Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas
Deixa-te estar na minha vida

Erguem-se as ondas, mãos de espuma
Aos céus em cólera incontida
E o ar se tolda e cresce a bruma
Deixa-te estar na minha vida

À praia um dia, erma e esquecida
Hei, com amor de te levar
Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar

Cabral do Nascimento

In "366 poemas que falam de amor", 
uma antologia organizada por Vasco Graça Moura

O enigma da pessoa humana

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 

"Nunca trates os seres humanos como coisas, mas sempre como sujeitos e pessoas."

Com as biotecnologias, um dos novos continentes científicos é o cérebro, e a pergunta é se, com os avanços neste domínio, o enigma do ser humano será finalmente superado ou se, pelo contrário, ele permanecerá. Grandes debates se travam entre as neurociências e a filosofia, precisamente por causa de temas candentes e incendiários, como a subjectividade, a autodeterminação, a vontade livre.
Sobre estas questões, o filósofo e professor da Universidade de Tubinga Manfred Frank deu há algum tempo uma longa entrevista ao alemão Die Zeit. O que aí fica reflecte esse debate.
A questão da subjectividade pertence ao núcleo da reflexão humana. Embora algumas correntes filosóficas falem da sua dissolução, penso que o sujeito é ineliminável. Argumento, mostrando que a condição de possibilidade de objectivar -- no caso do Homem, de objectivar-se -- é o sujeito, de tal modo que, por mais que objective de si mesmo, nunca se objectivará completamente, já que continuará a ser o sujeito que (se) objectiva.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Associação Náutica com nova direção

José Maria Troia 
é o novo presidente

        

José Maria Troia foi eleito presidente da direção da Associação Náutica e Recreativa da Ga­fanha da Nazaré (ANRGN) para o triénio 2023-2026 e tomou posse no dia 14 de Abril, sucedendo no cargo a Hum­berto Rocha. Os novos órgãos sociais foram eleitos na assembleia geral da associação, realizada no dia 31 do passado mês de março. José Maria Troia terá como vi­ce-presidente Manuel Júlio Vilelo. A mesa da assembleia geral será presidida por João Campolargo e o conselho fiscal por Raul Martins.
Criada em 1996, a ANRGN surgiu com a missão de criar condições que permitissem o parqueamento de embarcações a motor, quer na água, quer em terra.

Inteligência artificial

Noam Chomsky:
“Esta inteligência artificial é o ataque mais radical ao pensamento crítico”


“Este é o ataque mais radical ao pensamento crítico, à inteligência crítica e particularmente à ciência que eu alguma vez vi”, diz o pensador, com 94 anos, apontando a forma como as ferramentas assumem cada vez mais uma dimensão “corporativa”. “A ideia de que podemos aprender alguma coisa com este tipo de IA é um erro”, atira.

Questionado sobre o que fazer com esta mudança tecnológica, que aconteceu de forma tão brusca, destaca o papel da educação. “É impossível travar os sistemas”, avisa Chomsky, que não assinou a carta em que especialistas de todo o mundo pediram uma moratória no desenvolvimento de IA. Explica porquê: “A única maneira [de controlar a evolução tecnológica] é educar as pessoas para a autodefesa. Levar as pessoas a compreender o que isto é e o que não é.” Atribui um significado político a ferramentas como o ChatGPT: “É basicamente como qualquer outra ideologia ou doutrina. Como é que se defende alguém contra a doutrina neofascista? Educando as pessoas.”


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quinta-feira, 27 de abril de 2023

Carregar moliço

Carregar Moliço

Carregar moliço no cais da Gafanha, anos 70 do século XX. E ainda há moliço, certamente. Quem o rapa do fundo da ria e quem ainda o utiliza como fertilizante?

Nota: do livro "AVEIRO - Imagens de um século" do espólio de coisas de Aveiro deixado  por João Sarabando.

Como é importante sonhar juntos!

Da crónica de Querubim Silva 
no Correio do Vouga

0 Papa Francisco, evocando a figura de Francisco de Assis, para justificar o teor da sua carta encíclica Fratelli Tutu (FT - de 03-10-2020), dá o mote do mesmo documento, com esta dupla proposta - o reconhecimento da dignidade da pessoa humana e o anseio mundial de fraternidade: "Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: «Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (...); precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente.

Moliceiro com duas velas



Moliceiros com duas velas não eram muito frequentes, mas cheguei a ver alguns. Seriam mais difíceis de manobrar? Julgo que sim. Mas haverá por aqui quem saiba explicar.

Nota: Do livro "Aveiro - Imagens de um século"

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Histórias Rocambolescas da História de Portugal

«Sabia que Viriato não era um humilde pastor? Que D. Afonso Henriques nunca bateu na mãe? E que D. Sancho II era frouxo na cama? 
São histórias rocambolescas publicadas hoje [neste dia e mês de 2010] pela Esfera dos Livros. 
João Ferreira é o autor.»

NOTA: Pois é. Toda a nossa história, de feitos e glórias, de muitas vitórias e poucas derrotas, de heróis e camafeus, está cheia de mitos e lendas, parece que fundamentais para "construir" uma nação. De qualquer modo, é a nossa história, de que muito nos orgulhamos.

Dia de Verão

 Dia de Verão, pintado com a boca por H. Ullberg

Um sol radioso é um convite a sair de casa para sentir melhor um dia de verão que nos oferece um tempo de mais alegria. É certo que o verão só nos visita, oficialmente, no dia 21 de junho, mas os prenúncios prometem.

terça-feira, 25 de abril de 2023

25 de Abril sempre

Crónica de Miguel Esteves Cardoso 
no PÚBLICO

 Neste 25 de Abril também quero agradecer aos derrotados, aos insatisfeitos, aos que continuam a acreditar que vale a pena lutar. São eles que garantem a amplitude da escolha democrática

Os 49 anos de democracia são a melhor resposta aos 48 anos de ditadura. Quarenta e oito anos foi muito tempo. Mas 49 ainda é mais. É assim que se combate o fascismo: com longevidade. A longevidade afasta o antecessor e, com ele, o perigo do regresso dessa noite.
Antes de me pôr a dizer, sem me rir, que estamos todos de parabéns, posso só dizer que nem todos estamos de parabéns?
Muitos houve que quiseram substituir a democracia que temos por outra mais profunda. À democracia que temos – que é a do voto livre numa grande escolha de partidos livres de ser tanto à esquerda como à direita como lhes apetecer – chamaram democracia "oca" ou "burguesa" ou "de fachada".

25 DE ABRIL — Foi há 49 anos

Bandeira Nacional, Salgueiro Maia e  Cravo - Símbolos do 25 de Abril

Ao contrário do que alguns possam pensar, será sempre oportuno e necessário evocar a Revolução dos Cravos, que permitiu, com natural heroísmo, mas também com alegrias incontidas, oferecer a liberdade aos portugueses, muitos deles sem nunca a terem sentido e experimentado. Foi em 1974, precisamente há 49 anos, e será sempre oportuno e necessário sublinhar o facto porque a liberdade pode correr o risco de se perder, levada pela nossa incúria e pela voracidade de ditadores em potência, que pululam por aí.
Não falta quem vista a camisola contra o 25 de Abril, contra o atraso económico, contra as injustiças sociais, contra a corrupção e contra a fome que grassa, ainda, em cada canto deste país “à beira mar plantado”. São protestos com razão, é certo, porque 49 anos são tempo que baste para erradicar as injustiças, mas também é verdade que na sociedade que nós respirámos na meninice e na juventude o atraso económico e social era notório.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

O papel da CEP na Igreja Portuguesa

Reuniu, na semana passada, a Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), da qual destacamos a eleição do Presidente e outros membros dos diversos órgãos, a questão dos abusos e do modo como serão continuadas as ações do Grupo de Acompanhamento e a formação de Clérigos e Leigos para lidar com menores e pessoas fragilizadas, a revisão da formação nos Seminários, a situação de carências e de crise económico social grave que o país atravessa e as jornadas mundiais da juventude (JMJ).
A esperada continuidade do Bispo José Ornelas como Presidente e da recomposição dos Órgãos da CEP foram conhecidas, bem como o resumo das reflexões e decisões sobre as temáticas analisadas e constam do comunicado divulgado (206.ª Assembleia), mas não nos permite conhecer e refletir, em profundidade, sobre o que de comum foi estudado, discutido e concluído relativamente aos temas mais controversos – a questão do acompanhamento e formação de clérigos e leigos e também das propostas para a formação nos Seminários.

domingo, 23 de abril de 2023

Dia Mundial do Livro

Celebra-se hoje, 23 de Abril, o Dia Mundial do Livro, mas também dos Direitos de Autor. Quem gosta de ler não pode esquecer esta data, pois os livros são uma antiga e extraordinária fonte de saberes. Gratos teremos de estar também aos autores. Sem eles, como poderíamos ter acesso aos escritores, nomeadamente, prosadores, poetas, cronistas, ficcionistas, mas ainda à informação que nos é fornecida pelos diversos meios de comunicação social?
Os livros, porém, são uns amigos muito especiais: são pacientes, disponíveis, auxiliares e transmissores de conhecimentos e fontes de saberes e de culturas. Levam-nos a viajar, mostram-nos artes, povos e civilizações. 

COMOÇÕES

As comoções fazem parte do meu ADN. Sou assim, como sempre fui. E um dia destes, ao encontrar um amigo que não via há muito tempo, voltei a confirmar a sensibilidade do meu estado de espírito. Comovi-me.
Cruzei-me na rua com um homem que me identificou. Pedi-lhe o nome porque a expressão do seu rosto me dizia qualquer coisa. E então, recuei mais de três décadas, aos tempos da minha atividade de explicador.
Recordar é viver, mas arrasta sempre vivências que não se perderam com os anos que passaram. Um esforço de memória e boa  parte da vida torna-se presente. 
Sinto agora, com a memória enfraquecida pelos anos, vontade de recordar, com a ajuda das pessoas com quem me cruzo, o que fiz durante tempos idos. O que fiz e o que devia ter feito.

Fernando Martins

Um estranho companheiro de viagem

Bento Domingues 
no PÚBLICO

Neste domingo, somos confrontados com uma construção literária da presença clandestina e declarada de Cristo.

1. Há 49 anos foi derrubada a ditadura em Portugal. As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril já começaram. Frei Luís de França, O.P. (1936-2016) teve o cuidado de reunir os textos de grupos e individualidades do mundo católico não oficial que maior influência tiveram no período, a vários títulos único, que decorreu entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975. Por razões de ordem pessoal, não quis aparecer como autor dessa rigorosa colheita de 394 páginas [1].Esta publicação foi precedida de outra muito mais breve, fruto de um grupo de cristãos que, desde os primeiros dias do 25 de Abril, se reuniu, de modo informal e semanalmente, para reflectir sobre o modo de ser cristão e ser Igreja nesse tempo novo. Para se abalançar a uma reflexão de conjunto sobre a Igreja e a política, nesse mesmo período, o grupo resolveu estudar de modo paralelo e cronológico esses dois mundos.Esse estudo iniciado em 20 de Outubro de 1975 vai até ao começo do Verão de 1976. Foi um trabalho que deixou abertas muitas interrogações [2].São duas obras que não pretendiam fechar a informação e o debate sobre os cristãos e a Igreja, no interior do novo desafio político.

George Steiner nasceu neste dia

Nasceu em 23 de Abril de 1929
Morreu em 3 de Fevereiro de 2020


«Aquilo que amamos, devemo-lo saber de cor. Não é por acaso que “coração” em latim é “cor”. Ninguém nos pode tirar nunca o que sabemos de cor. Deixem-me frisar: saber, saborear de cor, com o coração, não com a cabeça. Queremos sempre levar connosco o que amamos. Eu sou muito velho, mas tento, todos os dias, ou quase todos, aprender um poema, ou fragmentos de poema, de cor, porque é assim, que se agradece uma bela obra.»

«Já a música é-me absolutamente indispensável. Sem música poria termo à vida de imediato. A música é para mim, agora, o mysterium tremendum. O que é a música afinal? Por que razão causa determinada reação numa pessoa, e noutra algo completamente diferente? Não fazemos ideia de como funciona a música dentro de nós. Se passar por uma janela aberta, e lá dentro estiver alguém a tocar piano, a melodia que ouviu não o abandonará jamais.»

Nota: De uma entrevista que concedeu à revista LER.

sábado, 22 de abril de 2023

Dia Mundial da Terra

Foto Pixabay
A 22 de abril, celebra-se o Dia Mundial da Terra. A data foi criada em 1970 pelo senador norte-americano Gaylord Nelson. Depois de verificar as consequências do desastre petrolífero ocorrido em 1969 em Santa Barbara, na Califórnia, o senador resolveu realizar um protesto contra a poluição da Terra. E porque a poluição continua, porventura com mais agressividade, urge criar o espírito de combate, cada vez com mais intensidade, para podermos legar aos vindouros um planeta mais saudável. 

Dizer eu. Alguém livre

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Uma antiga aluna, agora avó, enviava-me há dias um vídeo com o seu neto. É uma alegria comovedora ver aquele bebé a gesticular e a sorrir, agitando-se... Uma outra avó: "É uma emoção muito grande". E eu alegro-me também e reflicto: Estes bebés vão crescer, aos poucos vão tentar articular palavras, e muito lentamente, depois de se referirem a si como o menino, a menina ou pronunciando o seu nome, dizer "eu". Ao princípio sem consciência do que isso significa na sua grandeza, mas, depois, mais uma vez lentamente, com tom acentuado e afirmativo de autonomia...
Evidentemente, sempre em contraposição com o outro, um tu: afinal, há eu porque há tu, e a primeira tomada de consciência é mesmo a do tu, mas sempre numa interação e inter-relação permanentes. E num processo nunca verdadeiramente acabado...
E perguntamos: o que diz alguém, quando diz "eu", fazendo-o de forma autenticamente consciente? Afirma-se a si mesmo, a si mesma, como sujeito, autor/a das suas acções conscientes, centro pessoal responsável por elas, alguém referido a si mesmo, a si mesma, na abertura e em contraposição a tudo.
Mas, reflectindo, deparamos com observações perturbadoras. Por exemplo, pode acontecer que alguém adulto, ao olhar para si em miúdo, se veja de fora, apontando como que para um outro: aquele era eu, sou eu?

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Medalha de Mérito Social para Cáritas da Gafanha da Nazaré

Fernando Faria, presidente da Cáritas Paroquial da Gafanha da Nazaré, recebeu das mãos do presidente da Câmara Municipal de Ílhavo a Medalha de Mérito Social – Acobreada, que distingue a ação do grupo católico caritativo.
Na sessão que decorreu na Casa da Cultura de Ílhavo, no dia 10 de abril (segunda-feira de Páscoa), foram também distinguidos a Casa do Povo da Gafanha da Nazaré, o jornal “O Ilhavense”, o arquiteto José Paradela (a título póstumo), o engenheiro civil Elias Oliveira, o velejador Renato Conde, o músico Henrique Portovedo, o operário da Vista Alegre Duarte Fradinho, o capitão António Marques da Silva e a Associação Cultural e Recreativa “Os Baldas”.
Felicito todos os agraciados, com votos de que os seus exemplos sejam seguidos por todos nós, cada um na sua área de intervenção.


Fonte: Jornal Timoneiro

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Adília Lopes nasceu neste dia



Textos ensanguentados

Textos
ensanguentados
como feridas

Gralhas
ensanguentadas

Textos
gelados
como árvores
no Inverno

Textos
como árvores
cortadas
aos bocados

Textos
como lenha

Textos
como linho

Textos
brancos
como a noite

Textos
brancos
como a neve

Textos
sagrados

Textos
bifurcados
como ramos

Textos
unos
como troncos


Adília Lopes
In “Sur la croix”

É uma maravilha a ria de Aveiro!


"O canal segue até o mar, lá pr'a baixo, nem eu sei pr'a onde. E as margens respiram humildade e humidade; evolam-se dos pisos encharcados emanações salinas, veem-se fumos de casas que há um quarto de século abrigam heróis que refazem as areias em seiva, até darem rosas e pão, frutos e sombra – e, ao longe, com riscos de asas brancas de patos ou de gaivotas, esplendem as cidades: cidades agachadas que se fizeram a esforços que nenhum homem da Cidade é capaz de entender: cidades a que se chamam vilas, aldeias, lugares, praias de doce título e dulcíssima vida laboriosa: a Gafanha, mais Gafanha, S. Jacinto, a Murtosa, o Bunheiro, a Torreira. Os fundos cenográficos são recortados em bruma que não cabe nas paletas dos pintores: a Gralheira, o Caramulo, e adivinha-se o Buçaco na má vontade da manhã, que acordou sombria.
É uma maravilha a ria de Aveiro!"

Norberto de Araújo
In Aveiro e o seu Distrito,
N.º 12

A liberdade


"A liberdade só existe quando todos os nossos atos concordam com o nosso pensamento" 

Agostinho da Silva

quarta-feira, 19 de abril de 2023

A nossa Ria vale quanto pesa


Quem navega pela NET cruza-se com o belo em cada esquina e fica a sonhar. Extasia-se e fica a remoer a ideia de que a beleza não mora à nossa volta. E então ansiamos por  viagens que nos ponham frente a frente com paisagens, pessoas e monumentos exóticos. Puro engano. À nossa volta, se pensarmos bem, também há muito que ver e apreciar. Só que, não paramos, não olhamos, não contemplamos.
Contudo, não me canso de ouvir dizer, a amigos com quem me cruzo, de outras paisagens e ambientes, que a nossa Ria vale quanto pesa. É ampla, luminosa, transparente, navegável, nela se espelha o céu e reflete a lua. Também purifica o ar e refresca  a alma. Que mais queremos?

Bispo de Aveiro: Abusos sexuais, nunca mais

Das Mensagens do Bispo de Aveiro
nas Celebrações Pascais

"A nossa Diocese de Aveiro compromete-se a tudo fazer para que estas situações dolorosas não voltem a acontecer no seio da comunidade cristã e reafirma, mais uma vez, “tolerância zero” para os abusos de menores e pessoas vulneráveis. Não é mais possível vivermos com este drama que afeta toda a sociedade e, de um modo particular, pessoas que deviam ser porto seguro para quem nos confia os seus filhos. 
A Comissão Diocesana para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis irá desenvolver iniciativas de formação com sacerdotes, catequistas e responsáveis das Instituições de Solidariedade Social da área da Diocese, em ordem a aprofundar a sensibilização de todos para a relevância deste tema, de modo a prevenir possíveis abusos. Peço a vossa colaboração e participação ativa nesta causa que é fundamental para a credibilidade do Evangelho. A atenção às vítimas é fundamental na vida da Igreja e, concretamente, na nossa Diocese.
Tudo faremos para as ajudar a minorar o sofrimento causado pelos abusos dentro da Igreja. O pedido de perdão não terá sentido se não for acompanhado com iniciativas em ordem à prevenção dos abusos e não encobrimento dos abusadores (Missa Crismal)."

Correio do Vouga de 19 de Abril de 2023

Gafanha da Nazaré - Cidade há 22 anos

Cidade em 19 de Abril de 2001






O Decreto-lei n.º 32/2001, publicado no Diário da República de 12 de Julho do mesmo ano, foi aprovado pela Assembleia da República em 19 de Abril de 2001, registando em 7 de Junho desse ano a assinatura do Presidente da República, Jorge Sampaio.
O povo comemorou a elevação a cidade com muita alegria, precisamente no dia da aprovação pelo Parlamento do desejo das autoridades e de quantos sentem esta terra como sua. A legitimidade popular consagrou essa data, 19 de Abril, como data de festa, sobrepondo-se à assinatura do Presidente da República.
Este título de cidade colocou a nossa terra com mais propriedade nos mapas e roteiros. Mas se é verdade que o hábito não faz o monge, temos de reconhecer que pode dar uma ajuda. Como cidade, passou a reivindicar infraestruturas mais consentâneas com esse título, podendo os gafanhões assumir este acontecimento como marco histórico da sua identidade, como cidadãos de pleno direito.

Fernando Martins

Milagre das Gafanhas


«Algas e peixe podre para enterrar, Iodo para impermeabilizar o fundo da regadeira, e aí está a comedoria que serviu de mantença ao milagre das Gafanhas – tapetes infinitos de verdura, alfobres de pão para a fome dos homens e de bandeiras floridas para voracidade dos bois ruminar nos invernos desolados...
Com enxadões desmedidos fazem surribas que vão ao centro da Terra! Nasce-lhe água sob os pés descalços, água salobra que pode meter medo à puerícia da novidade mas que, no final de contas, a acaricia com desvelos de ama de leite. E, só depois, é que vem a tarefa de incorporar, na terra remexida até ao tutano, o moliço que, com o suor adstringente do rosto, arrancam do fundo gordo dos canais e deixam ficar no areal da borda, durante o tempo necessário para lhe corrigir o tempero excessivo.
Vejo-os, como brinquedos, os moliceiros, a flutuar à flor das marolas, ou, preguiçosos, sobre o espelho das águas, e sinto o drama da terra faminta de matéria orgânica a escancarar a bocarra num esgar hiante para o trabalho duro destes homens obstinados que nunca desanimaram ante a negativa hostil da duna que, na sua nudez desoladora, nada prometia em troca.
A humanização da paisagem de Aveiro sugere qualquer coisa de actividade lúdica, de esforço manobrado pela mão da inocência criadora da infância que se compraz em regalar os olhos com o produto da sua energia. O pragmatismo, aqui, surge corroborado por uma moldura doirada de beleza e aconchegado pelo calor de uma visão que amacia o sensório.»

Frederico de Moura

Texto e foto da Revista Aveiro e o seu Distrito, N.º 5

terça-feira, 18 de abril de 2023

Antero de Quental nasceu neste dia

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento -
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!


Antero Quental nasceu em 18 de Abril de 1842 em Ponta Delgada.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Banco para contemplar o mar


O banco não está ali para decorar o espaço. Ele serve bem para que os transeuntes possam sentar-se. Dali, tranquilamente, pode contemplar-se o nosso mar.

A grande mentira

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Os temas litúrgicos não podem esquecer as condições pessoais e sociais da sua verdade ou da sua grande mentira.

1. Não sou historiador do processo da reforma litúrgica desencadeada por Pio XII, em 1946, de forma mais ou menos clandestina para não ter de enfrentar aqueles que, perante qualquer reforma, levantam o muro da repetição do passado: sempre assim foi, sempre assim será. Essa tendência ainda não foi completamente vencida, mas é legítimo dizer que, a partir de 1955, tornou-se irreversível a chamada Reforma da Semana Santa de Pio XII e continuada por João XXIII (1962). Não foi por acaso que o primeiro documento aprovado, no Vaticano II, foi o Sacrosanctum concilium, sobre a Liturgia (4/12/1963). Não sou historiador, mas fui testemunha entusiasta desta reforma.

domingo, 16 de abril de 2023

Paz saborosa

Flor de arbusto quer chegar ao céu

Cadeira que me espera

O verde que me envolve

Estou bem sentado numa cadeira cómoda, que arrastei para a relva na parte traseira do meu quintal. A sombra de um pinheiro manso protege-me do sol, e do sítio em que me encontro ouço, permanentemente, o barulho sempre igual que o Porto de Aveiro nos dá. Fico com a impressão de que ali se trabalha dia e noite, que há permanentemente barcos que chegam e outros que estão de saída.
No sítio em que estou sentado também ouço o chilrear da passarada que habita por aqui. É uma paz, apesar de tudo, usufruir de um ambiente como este. Agora ouço o chilrear de um pássaro que não pára um segundo. Que pedirá ele? Chilreia por chilrear? Ou estará a chamar alguém? Ou o seu chilreio será algum aviso para a filharada que deve andar a brincar neste dia de sol maravilhoso?
O nosso quintal, com árvores de fruto, arbustos, cada um com sua cor e flores, cria na alma uma paz inexplicável.
Bom domingo para toda a gente.

Um dia lindo!

Aí está, para nosso regalo, um dia lindo. O sol brilha e, para já, garante um domingo que permite boa disposição a quem passou por um inverno agreste. As crianças e os idosos são os que mais sofrem. Os outros, talvez porque andam sempre a ligar, vão suportando os dias invernais.
Hoje é domingo e já ouvi cá em casa que temos de aproveitar este sol para espairecer. Isto quer dizer que é preciso sair de casa para apanhar sol, sentindo o ar puro e benfazejo da natureza. Estou pronto, neste domingo, 16 de Abril. E o 25 de Abril está a chegar!

ESCUTISMO - Promessas na Eucaristia das 19 horas


Ontem, sábado, na Eucaristia das 19 horas, encontrei a Igreja matriz da nossa paróquia, Gafanha da Nazaré, completamente cheia, com o Grupo Coral instalado no coro. Sinal evidente de festa. O agrupamento n.º 588 do CNE (Corpo Nacional de Escutas) apresentava jovens, meninos e meninas para a cerimónia das Promessas, seguindo o ritual habitual e repleto  de significado.


O chefe do Agrupamento, João Vilarinho, antes de desejar “boa caça” a todos os escuteiros e aos que iam assumir compromissos, lembrou que a cada um de nós foi dado o poder de “transformar o mundo”, utilizando todas as ferramentas que “estão ao nosso alcance”, para, como BP (Baden-Powell) ensina, podermos “deixar um mundo melhor”.
Em vários momentos, o nosso prior, P.e César, disse que cabe a todos “fazer do escutismo um espaço seguro e harmonioso, um espaço onde se faça a experiência da fé e do amor aos outros e à natureza”. E frisou: “Sem a referência a Deus, a humanidade perde o sentido da eternidade".


Como Assistente Religioso que fui, por convite do nosso prior de há anos, P.e Miguel Lencastre, evoquei nesta cerimónia a alegria e o sentido de comunidade dos escuteiros de então, repetido hoje.
Além dos nossos escuteiro, pais e familiares, participaram também amigos e entidades oficiais, nomeadamente, o presidente da CMI, João Campolargo, e o presidente da Junta de Freguesia, Carlos Rocha.
Desejo  que o Agrupamento 588 prossiga com entusiasmo a sua missão entre nós.

sábado, 15 de abril de 2023

Voltar ao essencial

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias

1. Nestes tempos do imediatismo, do ruído ensurdecedor causado pelas centrais da estupidificação, é urgente voltar ao essencial. E o que há de mais fundamental, essencial, do que a questão de Deus? Há Filosofia sem a pergunta por Deus? Se não quisermos permanecer na superfície ou nas simples convenções, se quisermos apresentar seriamente o fundamento da dignidade humana, dos direitos humanos, não é aí que vamos desembocar? Como diz Kant, o ser humano é fim e não simples meio. Ora, o que é que é fim em si mesmo senão o Infinito? E o que tem o ser humano de infinito senão a pergunta ao infinito pelo Infinito? O ser humano tem dignidade porque de pergunta em pergunta acabará por desembocar na pergunta pelo Fundamento último e o Sentido último, por outras palavras, na pergunta por Deus, independentemente da resposta que lhe dê: uns decidir-se-ão pela fé, outros pelo agnosticismo, outros pelo ateísmo.
Aprofundando, voltamos sempre à questão de Deus. Na sua obra Der Gott der Philosophen (O Deus dos filósofos), Wilhelm Weishedel mostrou que a questão de Deus constitui precisamente "a problemática central da Filosofia", de Tales e Anaximandro a Nietzsche e Heidegger. "Mesmo onde a teologia filosófica está em decadência, continua a ter uma importância decisiva, pelo menos como algo que há que superar antes de qualquer outra coisa. Por isso, com razão o discurso sobre Deus é considerado como o problema essencial da Filosofia."

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Mostrar o que de muito bom temos para oferecer


Ando há anos a fotografar para a comunicação social e para os meus arquivos na qualidade de amador. Não frequentei nenhum curso nem recebi lições de ninguém. Fotografo ao sabor da maré e às vezes com a pressa que as edições exigem. Cheguei a pensar nisso, mas nunca dei um passo na direção certa. E assim vou andando.
Não tem conta o número de vezes que me coloquei na posição da fotógrafa da imagem extraída, legalmente, do Pixabay. Mas a posição não basta. O importante são os objetos ou as paisagens que a toda a hora nos desafiam e esperam pelo momento de serem mostradas ao mundo.

                           

Este céu do Vietname, com todo o seu esplendor, convida-nos a uma visita, para in loco saborearmos a beleza da paisagem. Nós, os da beira mar e da ria, também temos para oferecer a quem nos visita imagens belíssimas, como as que por aqui tenho mostrado. Se não posso ir ao Vietname também os vietnamitas não terão possibilidades de passar pelas nossas paisagens. Contudo, haverá possibilidades de trocar informações e imagens pelos meios que as ciências e as tecnologias nos proporcionam. Vamos então fazer isso.


Da Noruega, selecionei esta paisagem lindíssima e asseada. Talvez longe do povoado ou simples casa de férias de algum amante da natureza ou eremita com necessidade de paz e harmonia. E não teremos no nosso lindo Portugal, em geral, e na região da Ria de Aveiro, em especial, recantos capazes de nos desafiarem a viver momentos de paz interior e de contemplação enriquecedora?

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Propriedade agrícola dos nossos avós

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