no PÚBLICO
Neste 25 de Abril também quero agradecer aos derrotados, aos insatisfeitos, aos que continuam a acreditar que vale a pena lutar. São eles que garantem a amplitude da escolha democrática
Os 49 anos de democracia são a melhor resposta aos 48 anos de ditadura. Quarenta e oito anos foi muito tempo. Mas 49 ainda é mais. É assim que se combate o fascismo: com longevidade. A longevidade afasta o antecessor e, com ele, o perigo do regresso dessa noite.
Antes de me pôr a dizer, sem me rir, que estamos todos de parabéns, posso só dizer que nem todos estamos de parabéns?
Muitos houve que quiseram substituir a democracia que temos por outra mais profunda. À democracia que temos – que é a do voto livre numa grande escolha de partidos livres de ser tanto à esquerda como à direita como lhes apetecer – chamaram democracia "oca" ou "burguesa" ou "de fachada".
Sobrevivemos a esses golpes todos. Sobrevivemos aos saudosistas do fascismo e aos apologistas do comunismo. Sobrevivemos às tentativas de agudização, às campanhas de desinformação e aos extremismos de todas as espécies. A prova dessa sobrevivência é a sobrevivência das forças políticas que continuam a achar oca a democracia liberal em que vivemos.
Fazem muita falta. A democracia liberal, para sobreviver, precisa de levar porrada, precisa de ser posta em causa, precisa de ser criticada, precisa do perigo de ser substituída, precisa de aprender a defender-se.
A liberdade não é tanta como desejaríamos? Ainda são poucos a exercê-la? A ditadura de classe ainda sente facilidade em persistir? Ainda há muita resistência à expressão política dos mais desfavorecidos? Sem dúvida. Mas também essa insatisfação é essencial: assegura um futuro, justifica a militância, traz os jovens e os injustiçados para a política.
É por isso que neste 25 de Abril também quero agradecer aos derrotados, aos insatisfeitos, aos que nunca formaram governo, aos que continuam a acreditar que vale a pena lutar. São eles que garantem a amplitude da escolha democrática e, como tal, o futuro.
A verdade – agora é que é – é que estamos todos de parabéns. Mesmo os que não querem estar.
Bom 25 de Abril!
Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO