Ao contrário do que alguns possam pensar, será sempre oportuno e necessário evocar a Revolução dos Cravos, que permitiu, com natural heroísmo, mas também com alegrias incontidas, oferecer a liberdade aos portugueses, muitos deles sem nunca a terem sentido e experimentado. Foi em 1974, precisamente há 49 anos, e será sempre oportuno e necessário sublinhar o facto porque a liberdade pode correr o risco de se perder, levada pela nossa incúria e pela voracidade de ditadores em potência, que pululam por aí.
Não falta quem vista a camisola contra o 25 de Abril, contra o atraso económico, contra as injustiças sociais, contra a corrupção e contra a fome que grassa, ainda, em cada canto deste país “à beira mar plantado”. São protestos com razão, é certo, porque 49 anos são tempo que baste para erradicar as injustiças, mas também é verdade que na sociedade que nós respirámos na meninice e na juventude o atraso económico e social era notório.
Hoje, apesar de tudo, contrariando os céticos, a sociedade está muito melhor do que antes da revolução. Antes do grito da liberdade, o analfabetismo tolhia os horizontes do nosso povo, obrigando-o a fugir, pela calada da noite, para sobreviver longe desta Pátria que muito pouco lhe dava.
Muitos portugueses desapareciam a salto, calcorreando caminhos nunca vistos, serras e montes inóspitos, traídos muitas vezes por passadores desumanos, deixando para trás a família à espera de pão. E instalavam-se clandestinamente em bairros de lata nos subúrbios de Paris. Anos depois, as casas novas das Gafanhas e de outras terras portuguesas ostentavam sinais evidentes das cores e formas que os impressionaram à chegada a França.
A guerra colonial, incompreensível já no mundo civilizado de então, massacrou sonhos e vidas de muitos compatriotas. A cegueira de uns tantos políticos da época anterior ao 25 de Abril espezinhou quem se opôs à utópica bandeira do proclamado Império Português idealizado por lunáticos do chamado Estado Novo.
Com o 25 de Abril, finalmente, Portugal descobriu que o mundo não se confinava aos curtos horizontes que bloqueavam os olhos do entendimento do povo luso. E hoje, 49 anos passados, será preciso continuar a apostar num mundo mais justo e mais próspero.
Fernando Martins