sexta-feira, 15 de julho de 2022

Aveiro turístico

Moliceiros na ria

Forum

Hotel Arcada

Arte Nova

Aventurei-me há dias a dar uma voltinha pelo centro de Aveiro para apreciar a azáfama de um dia normal, já marcado pela onda do turismo. Gente de vária línguas, uns com aspeto de reformados e outros muito mais novos. Olhavam para tudo, comentavam, fotografaram, filmaram e também sorriam. Felizes da vida.
Um casal jovem, com bebé no carrinho, comentava em voz alta. Olhando da ponte-praça para o Forum, disseram: ─ “Que bonito!” E lá veio a fotografia para mais tarde recordar. Depois, fixaram-se nos barcos moliceiros que andavam numa roda-viva para responderem a tanto apetite de viajar pelos canais.
Naquela zona, os comerciantes de recordações, talvez com destaque para os Ovos Moles, afadigavam-se no atendimento. E nas casas de petiscos movimento não faltava. Mesas nas ruas estreitas convidavam ao convívio e a uns refrescos.

Abre a porta e recebe Jesus em tua casa

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XVI do Tempo Comum

Escutar e decifrar as mensagens que são transmitidas por palavras e silêncios, por gestos e atitudes. E descobrir neles a pessoa e seu estado anímico e espiritual, o seu drama, a sua aspiração silenciada, o seu sonho adormecido.

Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e aproveita para fazer os seus ensinamentos, ora por gestos e palavras, ora por atitudes e parábolas. Acompanha-o o grupo dos discípulos. Avança por cidades e aldeias. Escolhe o ritmo da viagem. Atende a quem o procura e lhe manifesta um desejo. Toma, também, a iniciativa de ir ao encontro de quem quer. Para visitar amigos e fazer confidências. Para descansar e revigorar forças. Seja qual for a razão, Jesus faz, de cada passo, uma ocasião para dar a conhecer algum detalhe da sua mensagem. Lc 10, 38-42.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Fogos Florestais


Os últimos dias têm sido terríveis com as imagens e notícias que nos chegam sobre os dramas vividos em Portugal provocados pelos fogos florestais. Floresta que desaparece, centenas e centenas de bombeiros e outros operacionais em luta desgastante contra o inimigo implacável, casas comidas pelas chamas, gente desesperada, haveres que jamais serão recuperados. Depois do rescaldo, a vida de todos nós vai continuar. Os que tudo perderam talvez fiquem esquecidos sem conseguirem dormir. 
Nos diversos órgãos de comunicação social, não faltam entendidos a debitarem causas e soluções. E não haverá possibilidades, entre os responsáveis governamentais e os diversos especialistas na matéria das mais variadas áreas da ciência e da experiência, de se reunirem para procurarem soluções capazes de acabar com os fogos florestais  de  uma vez por todas?

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Raul Brandão andou pela Ria de Aveiro

 Neste número do nosso jornal propomos a leitura de um livro de Raul Brandão — Os Pescadores — que visitou e passeou pela Ria de Aveiro em 1922, escrevendo, com sensibilidade e arte, sobre o que viu, sentiu e soube apreciar. Valorizou o trabalho do homem "que junta a terra movediça e a regulariza" e "semeia o milho na ria", sublinhando que "Ninguém aqui vem que não fique seduzido, e noutro país esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado". E acrescenta: "É um sítio para contemplativos e poetas... É um sítio para sonhadores e para os que gostam de se aventurar sobre quatro tábuas, descobrindo motivos imprevistos."
Raul Brandão fala dos campos verdes da Gafanha, das mulheres vestidas de escuro, "com grandes molhos de erva à cabeça" e da Costa Nova com os seus palheiros, mas também da arte xávega e do mar impetuoso que rebenta sobre o areal, com "os homens e bois que saem a correr do vagalhão de espuma... ", acrescentando que "Foi diante de um quadro assim que Ferdinand Denis exclamou, assombrado: — Que estranho país é este onde os bois vão lavrar o próprio oceano?!"
Quando passou na Gafanha conheceu a ti Ana Arneira, "com cuja amizade me honra", como faz questão de sublinhar. "O homem foi para o Brasil há muitos anos (— É o rei dos homes!...), ficou ela e os filhos por criar. Criou-os todos. Netos, doenças, lutos."

Fernando Martins

Nota: Sugestão de leitura para os leitores do TIMONEIRO

Festival da Sardinha na Costa Nova


De 14 a 17 de Julho, vai decorrer, na Costa Nova, o Festival da Sardinha, uma iniciativa da APARA – Associação de Pesca da Região de Aveiro. O evento pretende realçar a pesca da sardinha, que é o ganha-pão de de muita gente das nossas terras ligadas ao mar e à ria.
Fazendo-o acontecer no local onde habita uma das principais comunidades piscatórias da região, brinda-nos com a possibilidade de conhecer os protagonistas da sua captura, as suas embarcações e cais, os mercados e as histórias. E não é verdade que uma boa sardinha assada nesta época sabe sempre bem?

terça-feira, 12 de julho de 2022

O Universo mais próximo de nós


Já chegaram, ontem, as primeiras imagens captadas pelo maior telescópio do mundo. As fotos vão sendo exibidas para podermos assistir aos avanços da tecnologias nestas áreas. E que nos reservará o futuro? Para já, o Universo fica mais próximo de nós.

Ler mais aqui

Rádio Terra Nova nasceu há 36 anos

A Rádio Terra Nova, ainda sob a designação de Rádio Pirata, nasceu há 36 anos. Foi precisamente no dia 12 de Julho de 1986 que começou a emitir música e palavras de circunstância, na sede da antiga Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré, entretanto extinta por determinação legal, dando lugar à Cooperativa Cultural.
Esta data precisa de ficar na história da nossa terra e região como símbolo da determinação de um povo que soube e quis apostar no progresso a todos os níveis. E a atual Rádio Terra Nova, dirigida desde a primeira hora pelo Eng. Vasco Lagarto, soube vencer todos os obstáculos, continuando ativa e na linha da frente da informação e da cultura, quando muitas outras soçobraram.
Felicito quem a dirige e nela trabalha, mas ainda os colaboradores e ouvintes que a têm diariamente por companheira solidária.

Beber água, mesmo sem sede


Um amigo teve a amabilidade de me lembrar, há minutos, pelo telemóvel, que devo resguardar-me das temperaturas altas e perigosas que devem estar a chegar: bebe muita água, mesmo sem sede; fecha as janelas e desce as persianas para o calor não entrar; não saias de casa. É o que vou fazer.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Dia de São Bento - Padroeiro da Europa

São Bento
Celebra-se hoje, 11 de Julho, o Dia de São Bento (480-547), padroeiro principal da Europa, por declaração do Papa Paulo VI, em 1964. O Papa teve em conta o seu contributo para a cultura europeia.
A sua festa litúrgica realiza-se todos os anos a 11 de julho, data que assinala a transladação das suas relíquias para a Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire, em França.
Muitos se questionam sobre a importância de um santo do século VI para os nossos dias, mas o Pe. Geraldo Coelho Dia, beneditino, esclarece que  São Bento, que escreveu a regra monástica, deu origem à Ordem dos Monges Beneditinos, a única na Europa Ocidental anterior ao ano mil, que "chegou ativa e viçosa aos tempos modernos".

O Cristianismo na guerra das armas e das ideias

Durante sua histórica visita às cidades bombardeadas de Hiroshima e Nagasaki, em Novembro de 2019, o Papa condenou o uso e a posse de armas nucleares por qualquer Estado.

1. Este título pertence ao ensaio de um teólogo, em plena produção e muito conhecido, Tomáš Halik, publicado pelo 7 Margens (18/5/2022). De facto, não é um autor desconhecido do público português. As Paulinas já editaram vários dos seus livros. Nasceu na Checoslováquia, em 1948, é um convertido e estudou Teologia e foi ordenado Padre na clandestinidade, durante o regime comunista, sendo psicoterapeuta para toxicodependentes e alcoólicos. Com a simbólica queda do muro de Berlim, foi nomeado conselheiro do presidente Václav Havel e, posteriormente, secretário-geral da Conferência Episcopal Checa.
Em 2017, a convite do arcebispo de Luanda e presidente da Conferência Episcopal Católica Angolana, Mons. Filomeno Dias, o teólogo Tomáš Halík participou no congresso de teólogos africanos e europeus, em Luanda, com a conferência A Arte de Ler os Sinais do Tempo. Hermenêutica Teológica da Cultura Contemporânea. Recordo-me de terminar a sua comunicação, pedindo a todos um apoio ao Papa Francisco que, na altura, estava a ser muito contestado.

domingo, 10 de julho de 2022

Folclore na Gafanha da Nazaré

O Festival decorreu à noite
no Jardim 31 de Agosto




"A nossa terra caracteriza-se por ter gente de trabalho e esta casa-museu é exemplo disso", afirmou Mariana Ramos, vereadora da Câmara de Ílhavo e responsável pela área da cultura, na cerimónia de abertura do XXXVII Festival de Folclore, organizado pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN). A cerimónia decorreu ontem, à tarde, no pátio interior da Casa Gafanhoa, com a participação dos grupos convidados para o festival que se realizou à noite, no Jardim 31 de Agosto.
Para além do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN, o anfitrião, participaram o Rancho Folclórico de São Martinho de Mancelos, Amarante; o Rancho Folclórico "Os Rurais" da Lagoa da Palha, Palmela; o Rancho Folclórico de São Martinho, Castelo de Paiva; e o Grupo Folclórico de Recardães, Águeda.
Mariana Ramos, na sua intervenção, frisou que a Casa Gafanhoa  mostra a nossa "relação com o trabalho" na agricultura e louvou a dedicação do Grupo Etnográfico pelo cuidado e entusiasmo posto no funcionamento desta casa, "exemplo da memória do nosso povo".
Dirigindo-se aos convidados, a vereadora aconselhou-os a fruírem "as belezas da nossa terra, nomeadamente, as nossas praias", garantindo que "estaremos sempre de braços abertos para os acolher", porque essa é uma "característica do nosso povo". "A força das nossas associações está à prova na organização de eventos como este", disse.
Também José Arvins, membro da Junta de Freguesia e em representação do seu presidente, Carlos Rocha, ausente por motivo de férias, afirmou que o GEGN tem trabalhado imenso para "preservar as nossas tradições, desbravando um terreno que não é fácil", equiparando os seus dirigentes e membros  aos primitivos gafanhões "que transformaram estas terras áridas em terras fertilizantes". E convidou os grupos convidados a apreciarem as nossas paisagens, porque na nossa terra há muito para ver.
Da cerimónia, dirigida pelo presidente do Etnográfico, José Manuel Pereira, constou ainda a entrega de lembranças aos grupos e convidados.

F. M.

sábado, 9 de julho de 2022

O humor, o riso e o divino

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

O humor e o riso, repito, são um sinal evidente de inteligência, desdramatizam a vida, permitem viver de modo sadio consigo próprio, fazem bem à saúde, abrem transcendências

Pediram-me uma vez uma reflexão precisamente sobre o tema em epígrafe. Aí fica uma tentativa. Sobre Deus que sabemos nós? Ele é infinito e está para lá de tudo o que possamos pensar ou dizer. O que sabemos dEle sabemo-lo através de Jesus, a sua revelação no mundo.
Através de Jesus, sabemos que Deus é, como se lê na Primeira Carta de São João, Agapê: Amor incondicional. Mas o Evangelho segundo São João também diz que Deus é Logos: Razão, Inteligência e que tudo foi criado pelo Logos. Por isso, Deus tem sentido de humor, pois o humor é sinal de inteligência. Não é o humor fino revelador de uma inteligência fina?
Logo no primeiro livro da Bíblia, o Génesis, há uma passo belíssimo em conexão com o riso. "O Senhor apareceu a Abraão quando ele estava sentado à porta da sua tenda", sob a figura de três homens. "Onde está Sara, tua mulher?" Ele respondeu: "Está aqui na tenda. Um deles disse: Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano, nesta mesma época, e Sara, tua mulher, terá já um filho".

O calor abrasador está aí

Praia da Barra com farol à vista

O calor abrasador está aí. Não sei se vem para ficar ou se vem tocado por algum fenómeno meteorológico. Com os 33.º anunciados, os mais idosos têm mesmo de se resguardar. Os mais idosos e os mais novos, que as altas temperaturas poderão ser prejudiciais a todos.
Com o calor anunciado, as praias serão procuradas e as apetecidas sombras estarão disponíveis, mas os corpos necessitam de muitos líquidos, em especial água. Pela minha parte, que gosto do calor mais do que de tempos incertos, garanto que ficarei em casa a ver como param as modas, que motivos não me faltam para me sentir tranquilo. E que fazer num dia destes, sem compromissos profissionais, sociais ou outros? Lembrar que a natureza tem os seus ciclos,  todos fundamentais à vida.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

D. António Francisco nas Bibliotecas do Município de Aveiro

Biblioteca D. António Francisco dos Santos
na Rede de Bibliotecas do Município de Aveiro

D. António Francisco

Segundo informa a autarquia aveirense, o Executivo Municipal deliberou aprovar a celebração do Acordo de Cooperação entre o Seminário Santa Joana Princesa e a Câmara Municipal de Aveiro no sentido de integrar a Biblioteca D. António Francisco dos Santos na Rede de Bibliotecas do Município de Aveiro, potenciando um espólio de elevado interesse histórico e cultural, reconhecendo-se a sua utilidade para fins de gestão patrimonial e de investigação académica.
Congratulo-me com o facto, na convicção de que os amantes da cultura terão muito a ganhar com aquela decisão.

Vai e cura com misericórdia os feridos da vida

Reflexão de Georgino Rocha 
para o domingo XV do Tempo Comum

Vai e faz o mesmo porque o amor de Deus envolve necessariamente aqueles que Deus ama, sem distinção de género ou de raça; percorre os seus caminhos de aproximação e serviço; reveste os seus sentimentos de ternura e misericórdia.

Esta exortação assertiva, clara e interpelante, surge na parábola do samaritano, narrada por Jesus, como resposta ao mestre de leis preocupado com o sentido da vida e com os meios a usar para alcançar a vida eterna; decorre, como consequência lógica e coerente, do amor a Deus e ao próximo, síntese de todos mandamentos, como bem acentua o jurista inquieto e desejoso de acertar na solução do futuro; comporta uma orientação fundada e constitui um guia seguro de atitudes e comportamentos para o relacionamento das pessoas em sociedade, sobretudo em situações de especial necessidade; destaca a importância da rede de cuidados e da cooperação entre os intervenientes; apresenta um dos traços mais fortes da identidade dos discípulos/cristãos e define a marca mais vigorosa do seu testemunho público. Lc 10, 25-37.

Poços de rega nas Gafanhas

Poços de rega 
faziam parte das nossas paisagens


Passei há dias pela Casa Gafanhoa a convite da direção para apreciar mais um motivo de interesse — um poço de rega — que merece ser apresentado a quem nos visita, com o intuito de não deixar cair no limbo do esquecimento uma excelente forma de regar os campos cultivados de solo arenoso, muito permeável à água da chuva ou de outra natureza. Imagino, por isso, os sacrifícios por que terão passado
os nossos ancestrais para evitar que determinadas culturas não morressem de sede, sendo certo que alguns cereais, por natureza, não necessitassem tanto de rega, nomeadamente, o centeio, a cevada, a aveia e o trigo.
O poço ali está nas traseiras da Casa Gafanhoa com engenho que inclui os alcatruzes, de furo na base, para o ar se escapar e deixar entrar a água sem pressão. O precioso líquido, fundamental à vida, caía na caldeira feita de zinco, passando por um tubo até à caneja, rumo aos produtos agrícolas cultivados, sobretudo milheirais com feijoeiros à mistura. Também batatais e hortaliças.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Democracia e regimes autocráticos

"Depois da guerra de Putin, a grande dicotomia entre concepções de sociedade já não é entre a esquerda e a direita, mas entre os defensores da democracia (que existem à esquerda e à direita) e os simpatizantes de regimes autocráticos (que abundam na extrema-direita e na extrema-esquerda)."

Teresa Ribeiro em Delito de Opinião

terça-feira, 5 de julho de 2022

CASA GAFANHOA - Vale a pena recordar

A propósito do Festival de Folclore 
que vai realizar-se no próximo sábado 



Maria Merendeiro - proprietária
A CASA GAFANHOA, pólo museológico do Museu Marítimo de Ílhavo,  foi inaugurada em 11 de Novembro de 2000. Trata-se de um edifício do princípio do século XX, que foi adquirido pela Câmara Municipal de Ílhavo e entregue à administração do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, a entidade que mais lutou por este espaço, que reflecte a vida de um lavrador rico desta região. 
A casa antiga, depois de bem restaurada com todo o respeito pela traça original, mostra um recheio totalmente dominado por móveis e utensílios do princípio do século, num desafio constante à pesquisa e estudo de quanto os primeiros gafanhões nos legaram, mostrando um viver simples, mas prático, que não pode hoje deixar de nos encantar pela simplicidade que se desprende de tudo. 


Recorrendo à minha memória, posso lembrar que nas casas gafanhoas podia ver-se a cozinha com a sua trempe de ferro, panelas de três pés, aparadores, mesa e bancos toscos. Os talheres eram de ferro e alguns de cabo de osso. A um canto havia a cantareira com a respectiva cântara de ir à fonte buscar água, junto à mata da Gafanha, que dava gosto beber pela sua limpidez e frescura (que lhe era dada pela cântara de barro). 

Cozinha com membro do GEGN

Na cozinha de fora, mais modesta, com chão de junco, e na principal, de tudo um pouco ali se encontrava, desde roupa pendurada nos cabides até aos armários com louça e com comida que se não estragasse com o calor. O forno, onde se fabricava a sempre apetecida boroa de milho (e com que apetite era esperada a bola — boroa pequena e achatada — para comer com chouriço ou alguma carne de porco, mesmo gorda), era obrigatório em quase todas as casas gafanhoas. E também a salgadeira que guardava, no sal, o porco, governo de todo o ano. Também ali ficava, a um canto, a barrica com sardinha salgada, bem acamada. 

Quarto com cama de casal

Na CASA GAFANHOA, podem apreciar-se os quartos pequenos, onde mal cabia uma cama e a respectiva mesa-de-cabeceira, com a mala do enxoval da casa, quantas vezes sem guarda-fatos e sem outros móveis, que o dinheiro e os hábitos não davam para mais. Sobre as camas das casas gafanhoas não faltavam as mantas de tiras, que as tecedeiras fabricavam com farrapos e restos de roupa velha, tiras essas cortadas nas noites de Inverno, ao serão, sobretudo pelas mulheres da casa. Mas ainda se hão-de admirar cobertores grosseiros de lã, lençóis de linho churro, e a um canto, o lavatório, normalmente só usado aquando da visita do médico a algum familiar doente. 

Sala do Senhor

A Sala do Senhor, à frente, que se abria na Páscoa ou em dias de casamento ou baptizado, com um crucifixo sobre uma toalha alva, em cima da cómoda, onde se guardavam as roupas brancas e de festa. Havia cadeiras à volta, retratos nas paredes, principalmente dos casamentos, ampliados, que são actualmente grandes e importantes fontes de conhecimento da maneira de vestir e de ser das pessoas dos tempos antigos, sobretudo desde que a fotografia começou a marcar presença e a registar os principais acontecimentos das famílias. Aliás, em cima da cómoda, onde dois castiçais suportavam outras tantas velas para acender em dias de trovoada e, ainda, quando havia a visita das “almas” e quando se velavam os mortos, podiam ver-se algumas fotos de datas marcantes da família, a par das jarras de flores, renovadas semana após semana. 

Currais e arrumos
No pátio interior não faltam as padiolas, os carros de mão e de vacas ou bois, com todos os seus apetrechos, as várias alfaias agrícolas, encabadas com paus toscos, a charrua e o arado, a um canto o galinheiro para as galinhas e galos, sobretudo, se refugiarem à noite, pois que de dia andavam, normalmente, a campo, comendo sementes, restos de comida e bicharada, quando não comiam outras coisas bem piores. E também não falta a retrete, pequena e de tampo de madeira, com o indispensável buraco a meio, que quarto de banho era coisa que não existia. E porque falamos de quarto de banho, o tal que só apareceu muito mais tarde, talvez na década de 50 para o grosso da população, que os mais ricos já o tinham havia algum tempo, se não nos falha a memória, perguntar-se-á onde tomavam banho os gafanhões. Ao que nos têm dito, tomavam-no na cozinha, geralmente ampla e que dava para o viver do dia-a-dia, numa grande bacia de lata, com água aquecida nas panelas de ferro de três pés. 
Forno
A água estava sempre quente, para o que fosse preciso, porque se cozinhava em panelas mais pequenas. Para o que fosse preciso, significa para lavar a loiça e para se lavarem, antes de se deitarem, especialmente os pés, que nem tudo podia ser lavado todos os dias, talvez por falta de hábito. Para o pátio interior ainda davam os currais dos porcos e das vacas ou bois, que sempre berravam acusando a falta da "lavagem", os primeiros, e da erva ou palha seca, de milho, os segundos. O celeiro também tinha uma porta para este pátio e às vezes para o exterior. 
Nos beirais dos telhado viam-se as abóboras a secar e à espera do Natal, para fazer os bilharacos. No pátio de fora não faltava a eira, onde se malhavam e secavam os cereais, cobertos de noite pelo tolde, feito de palha de centeio, a estrumeira (quando não era no pátio interior), para onde se deitava tudo o que pudesse transformar-se com o tempo em esterco, tão necessário à fertilização dos solos, a par do moliço e de mistura com ele. 

Poço de rega
Viam-se as medas de palha e o “cabanéu” (prisma triangular, feito de uma armação de troncos de eucalipto e de ripas, e deitada sobre uma face), onde se arrumavam lateralmente e num dos topos, bem apertadas para não entrar a chuva, as palhas de milho, secas, para no Inverno servirem para alimento do gado. No interior guardavam-se alfaias agrícolas, menos usadas no dia-a-dia, e também ali dormiam, em especial os filhos da família, quando havia milho na eira, para o guardar dos ladrões que às vezes deixavam o lavrador sem nada do que granjeou durante todo o ano agrícola. Claro que não podemos esquecer, o poço, de onde se tirava a água para os usos domésticos, e um outro, o de rega, com o seu engenho puxado por vaca ou boi, que servia para regar o aido. 

Fernando Martins



NOTA: Texto escrito há anos e agora republicado

segunda-feira, 4 de julho de 2022

MARNOTO: Para os mais saudosistas


Para abrir a semana, nada melhor, na minha ótima, do que acordar os saudosistas. O marnoto, figura maior de um grafiti já neste meu  espaço publicado, merece a homenagem. E já me garantiram que é retrato de gafanhão. Quem o identifica?

Sínodo para o nosso tempo

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Dentro e fora da Igreja católica há que construir uma sociedade mais aberta às margens, capaz de as trazer para o centro e de ver no seu sofrimento e estigmatização o fermento da mudança necessária para sociedades mais livres, dignas e felizes.

1. São muitas as pessoas, crentes e não crentes, católicas e não católicas, inquietas com a saúde do Papa Francisco. Para muitos, é ele a figura pública, a nível mundial, cujos gestos, palavras e intervenções se situam sempre ao lado das vítimas das muitas loucuras da nossa história económica, social, política, bélica e religiosa. Toma iniciativas, simples e arrojadas, destinadas a agregar energias e esforços para estancar a brutalidade de todas as guerras e agora a ameaça da guerra nuclear.
Não é um profeta da desgraça. É uma sentinela da esperança, encorajando e apoiando todos os movimentos que desenvolvem programas para defender, restaurar e tornar mais habitável e bela a Casa Comum da família humana. É normal que encontre resistências no mundo dos ricos e poderosos e na perversa “teologia da prosperidade” que os apoia e justifica.
Entre todas as iniciativas deste Papa, destaco a inédita auscultação, à escala planetária, para que o Sínodo dos Bispos (2021-2023) se torne Sínodo de toda a Igreja.

sábado, 2 de julho de 2022

Religiosas de clausura

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

1 Neste tempo do barulho, da corrida e do imediatismo e do culto do ter, do prazer, do parecer e aparecer, não me parece que as religiosas de clausura estejam muito de moda.
O jornalista José Lorenzo, como dá notícia em Religión Digital, entrou em contacto com as religiosas trinitárias de Suesa na Cantábria e a superiora reconheceu isso mesmo: "Não estamos na moda, mas existimos." Mais: "Não somos seres etéreos, anacrónicos ou surdos. Procuramos dias específicos para recordar que cada instante é uma celebração onde a vida de Deus transforma as nossas. A vida contemplativa é viver cada instante na Presença. Cada instante é único, é dom e desafio." Constatam: "Há uma sede imensa de Deus na Humanidade, mas precisamos de testemunhos vivos da força do amor."
E a provar que não estão inactivas: que pedem ao Sínodo que terá lugar em Roma em 2023? "Que nos deixem pensar." E realmente pensam. Como é sabido, o Papa Francisco quer deixar como marca do seu pontificado a sinodalidade, isto é, que todos os membros da Igreja caminhem juntos e todos se sintam autenticamente representados na tomada de decisões. A prova está em que, desta vez, a preparação do Sínodo começa na base, nas Dioceses, de tal modo que todos possam exprimir-se, passando ao segundo momento, que é o momento continental, e só no final, com o contributo de todos, se realizará o Sínodo em Roma.
Encontrei de tal modo estimulante e rico o contributo destas religiosas na primeira fase que o publico na íntegra. Assim:

RIA DE AVEIRO vista por Eça de Queirós

… Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido «palheiro de José Estêvão».

Eça de Queirós, “Carta a Oliveira Martins”, 1884

+++
… a Costa Nova — e eu considero esse um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente chalé Magalhães.

Eça de Queirós, “Entre os Seus, Cartas Íntimas”, 15 de Julho de 1893

                                                       +++

Apesar de ter retardado ontem o meu jantar até às nove da noite, não pude desbastar a minha montanha de prosa. Levar as provas para os areais da Costa Nova, não é prático — ó homem prático! Há lá decerto a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha — coisas essenciais para a inspiração — mas falta-me essa outra condição suprema: um quarto isolado com uma mesa de pinho.

Carta a Oliveira Martins, 1884

Momentos de lazer

Sempre esperei pelo fim de semana com a ansiedade própria de quem gosta de férias, sobretudo por viver permanentemente ocupado com tarefas inadiáveis, interessantes e importantes. Não tenho por hábito fugir às minhas responsabilidades, pelo que não tenho tempos mortos que possam convidar-me à indiferença pela vida. Fins de semana dão, naturalmente e apesar de tudo, algum descanso.
Vem isto a propósito de me ter passado pela cabeça que chegou a hora de evitar algumas responsabilidades no seio da sociedade em que sempre vivi: Gafanha da Nazaré. Aqui senti o calor do sol, a luz rotativa do Farol e ouvi a sua ronca em dias de nevoeiro para dizer aos marinheiros ao largo que há terra perto que não se vê.
Nos momentos de lazer, que os tenho, ou não estivesse há muito na situação de aposentado, sob o ponto de vista profissional, não deixo de me envolver em tarefas comunitárias, de acordo com as minhas capacidades, como sempre o fiz ao longo da vida.
Reconheço que, por vezes, não tenho estado presente em tarefas onde ainda poderia ser útil, mas a verdade é que me sinto condicionado pela ausência de forças a vários níveis.
Assim, fica-me a boa vontade de servir a partir de casa, procurando deixar retalhos de vivências e de conhecimentos adquiridos através dos tempos.
Bom fim de semana para todos.

Fernando Martins

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Dia da Madeira


Lita com a sua juventude
A região autónoma da Madeira também tem o seu dia, como não podia deixar de ser. Se há dias dedicados quase a tudo, a beleza e história da nossa ilha da Madeira não podiam ficar de fora. 
Em 1 de Julho de cada ano celebra-se o Dia da Madeira, data em que aquela região comemora a sua autonomia, reconhecida pela Constituição Portuguesa, em 1976. 
Como tem sido hábito, não faltarão festas e outras celebrações.


Eu próprio ainda fresco 
Durante anos, acalentámos o sonho de visitar a Madeira e os Açores. Por razões diversas, o sonho foi sendo adiado. 
Tarefas profissionais e outras, educação dos filhos e compromissos variados foram protelando as viagens. Só depois da minha aposentação da função pública é que  pudemos concretizar o sonho de conhecer a Madeira e São Miguel, nos Açores. Escusado será dizer que as memórias das visitas jamais nos deixarão.

Gosto das nuvens


Gosto das nuvens mas não ando nas nuvens. Quando salto da cama, abro a janela e logo olho para o céu para ler o tempo. Com muitíssima frequência deparo com pinturas naturais como esta. Depois regresso à terra com tudo o que ela tem de bom. Esqueço por momentos o que há de mau, como a guerra na Ucrânia que não mais acaba. Uma guerra sem sentido, como todas as guerras, afinal.

Ide em missão anunciar a paz

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIV do Tempo Comum

Entrar em comunhão com os valores humanos e valorizar a originalidade fiel do Evangelho, eis o desafio da missão católica.

Jesus prossegue o seu caminho para Jerusalém. Decidido e firme. Cria oportunidades e aproveita ocorrências para lançar os discípulos em experiências de missão. De forma ousada e confiante. Faz-lhes advertências e dá-lhes instruções sobre o modo de agir. Com clareza e determinação. Envia-os a anunciar a paz, sinal de que o reino de Deus está próximo. Sem demora e com leveza. Lc 10, 1-12. 17-20.
Acolhe-os, com solicitude, no regresso, escuta, com minuciosa atenção, a comunicação do que havia sucedido a cada um, rejubila com eles pelas maravilhas ocorridas e encaminha as razões do seu estado de espírito, dizendo: “Alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”.
Madre Teresa de Calcutá, fundadora das Missionárias da Caridade exortava as suas Irmãs a darem sempre um sorriso alegre a todas as pessoas, sobretudo às que mais sofrem. Às crianças, aos pobres, a todos os que estão sós, dai um sorriso alegre; não lhes ofereçais apenas as vossas mãos, mas também o vosso coração. Talvez não estejamos em condições de dar muito, mas podemos sempre dar a alegria que brota de um coração que ama a Deus. A alegria é muito comunicativa. Por isso quando estiverdes entre os pobres, estais cheias de alegria.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Dia Mundial das Redes Sociais

Celebra-se hoje, 30 de Junho, o Dia Mundial das Redes Sociais, criado pelo site Mashable em 2010. E logo nessa data Portugal se associou.
Não tenho dado conta de grandes acontecimentos à volta do tema na região em que vivo, mas a importância do assunto é reconhecidamente pertinente.
Tanto quanto vou sabendo, a grande maioria das populações usa as Redes Sociais para os mais diversos fins, tanto no âmbito profissional, social e cultural, mas também para diversão. E se uns procuram o lado positiva que as mesmas oferecem, não faltam os que brincam com coisas sérias, lesando indiscriminadamente os incautos.
Pelo meu lado, uso a Blogosfera há 18 anos, o Facebook e o Twitter, mas ainda o Instagram, entre outras redes, que me permitem encontrar e reencontrar amigos há muito tempo esquecidos. No fundo, aposto sempre pela positiva.

XXXVII Festival Nacional de Folclore

GAFANHA DA NAZARÉ
Jardim 31 de Agosto
9 de Julho

Etnográfico da Gafanha da Nazaré (Foto de arquivo)

Com organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), vai realizar-se o XXXVII Festival Nacional de Folclore no dia 9 de Julho, no Jardim 31 de Agosto, com a participação de quatro instituições convidadas: Grupo Regional da Lagoa da Palha, Palmela; Grupo Folclórico e Etnográfico de Recardães, Águeda; Rancho Folclórico de São Martinho de Mancelos, Amarante; e Rancho Folclórico de São Martinho, Castelo de Paiva.
Depois de dois anos sem festas, por imposição do confinamento decretado pelo Covid-19, o GEGN retoma a organização dos festivais, na esperança de que não haja mais interrupções por motivos semelhantes. E pede a todos os amantes da cultura popular que marquem presença na data indicada, para todos sentirmos o prazer de conviver e de estarmos unidos, depois da pandemia.
Entretanto, podemos informar que durante dois anos o GEGN conseguiu manter, no cumprimento rigoroso das regras do confinamento estabelecidas, algumas atividades, nomeadamente, ensaios de músicas. Para além disso, a direção promoveu a organização de processos e digitalização do património do Etnográfico na plataforma da Federação do Folclore Português.
No dia 9 de julho, o Festival Nacional de Folclore terá início na Casa Gafanhoa com entrega de lembranças e palavras de boas-vindas, não faltando a visita à casa-museu, que tem estado aberta ao público às quartas-feiras à tarde, mas também nos outros dia da semana, por marcação, o que acontece, frequentemente, a pedido de escolas e instituições particulares de solidariedade social.

F. M.

PROGRAMA


17:00 horas – Receção aos Grupos/Ranchos participantes, na Casa Gafanhoa – Museu
Etnográfico;
17:30 horas – Visita à Casa Gafanhoa seguida da cerimónia de boas vindas e entrega de
lembranças;
18:45 horas – Jantar na EB 2/3 da Gafanha da Nazaré;
21:30 horas – Início do Festival.

terça-feira, 28 de junho de 2022

TEMPOS DE TURISMO - Ovos Moles de Aveiro

 
Em tempos de turismo, é bom lembrar o que há de importante nas nossas terras. Nós sabemos que os turistas chegam com pressa e ânsia de ver tudo e mais alguma coisa, mas é impossível chegar a todo o lado. Em Aveiro, por exemplo, não costumam passar do centro da cidade e aí os Ovos Moles tem um sabor especial. Podem dar uma volta num moliceiro, mas logo virão os doces típicos da cidade dos canais.

Um soneto de José Régio para meditar



IGNOTO DEO

Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!

José Régio

RIA DE AVEIRO vista por Frederico de Moura


(...)
Em certas manhãs, doiradas pelo sol nascente, a Ria parece toda um espelho onde, apenas, um trémulo de evaporação – ténue e vibrátil – põe um vestígio de movimento ritmado.
E, então, os malhadais, os montes de sal, os palheiros exíguos e pintados a zarcão, duplicam-se, invertidos, nas águas quietas onde, de vez em quando, uma gaivota, maleabilíssima e ágil, raspa uma tangente quase imperceptível.
As pálpebras cerram-se sobre a pupila magoada por esta duplicação da luz que se remira no espelho da água e, no silêncio inundado de sol, o chap chap de uns remos, ou o golpe da ponta de uma vara que empurram o barco que desliza, põem uma nota fugidia de onomatopeia.
Um homem de músculos individualizados – como num quadro mural de anatomia – corre sobre a borda de uma bateira mercantel como se andasse sobre o asfalto de uma avenida. Visto de longe, recortado na luz diáfana da manhã que lhe aviva as linhas e delimita os contornos, não sabe a gente se tem na frente um ginasta, se um bailarino. Os pés parece que não pisam e os movimentos de vaivém, desembaraçados e leves, semelham passos coreográficos.»

Frederico de Moura
"Aveiro e o seu Distrito", n.º 5, junho de 1968

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Liberdade para quê?

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO de domingo

Os nossos apetites desregrados manifestam-se sobretudo no desejo de ser cada vez mais rico, alimentando todo o tipo de desigualdades. Esta concentração do egoísmo é a negação mais vistosa do espírito cristão.

1. Quem vai à Missa nunca vai sozinho, vá ou não acompanhado, e sabendo que vai encontrar muita gente de quem desconhece as motivações mais íntimas, mas na convicção de que é o mesmo Espírito Santo que a todos convoca. Por outro lado, não há um Espírito Santo da Missa e outro do quotidiano.
Quando digo que ninguém vai sozinho, é por um simples pressuposto. Vai com todos os seus problemas que já não são os de uma sociedade marcada pela religião. Transporta, em si mesmo, o mundo secularizado, onde descobriu várias maneiras de encarar a vida e o seu sentido. Por isso, mesmo ouvindo a leitura dos mesmos textos, cada pessoa faz sempre a sua interpretação que pode não coincidir com a dos outros participantes. Actualmente, quem faz a homilia presta um serviço de interpretação dos textos, marcado pelos acontecimentos da semana, pela sua cultura bíblica e profana, supondo que conhece o que as pessoas procuram e o que ele tem a oferecer. Melhor seria que, em cada semana ou periodicamente, houvesse um encontro com representantes das diferentes tendências e preocupações, para não ceder à manipulação dos que participam na Eucaristia.

domingo, 26 de junho de 2022

A NOSSA GENTE: Manuel Maria Bolais Mónica


Em edição especial da coleção NOSSA GENTE Biografias, da CMI, saiu um livrinho que informa o essencial de um homem que muito deu à Gafanha da Nazaré e seu povo, mas também à nossa região. Trata-se de um trabalho sobre Manuel Maria Bolais Mónica, fruto das pesquisas do docente universitário António Vítor N. de Carvalho, que merece ser lido e apreciado, não só por o autor ter sublinhado a importância da arte e saber do Mestre ao nível da Construção Naval, mas também pela sua intervenção social, na defesa dos interesses da nossa terra.
Na apresentação do livro, o autarca ilhavense, João Campolargo, diz que Mestre Mónica “transformou o seu estaleiro na Gafanha da Nazaré numa escola de mestres qualificados para todo o país”, mantendo vivo “um legado de inteligência e intuição, engenho e perícia, confiança e ousadia, que se quer inspirador e mobilizador”.
Por sua vez, o autor do livro recorda o legado transmitido geracionalmente pelo Mestre, de “Carpinteiro de Ribeira” a Mestre da arte da Construção Naval.
Vítor Carvalho sublinha nos diversos capítulos o regresso de Manuel Maria Bolais Mónica ao concelho de Ílhavo, o seu contributo para a reestruturação corporativa da frota bacalhoeira, a sua passagem de mestre a artista, de empreendedor a industrial, mas ainda o cidadão, o empregador e o homem.

F. M. 

sábado, 25 de junho de 2022

Lições da natureza


 Por vezes, sou ingrato. Por ninharias, desanimo. E quando ando um pouco por baixo tenho por hábito sair das comodidades da minha casa para respirar o ar que me envolve, permanentemente purificado pelo arvoredo há décadas espalhado pelo quintal. Hoje senti nestes pinheiros o  vigor da natureza. Uma lição para seguir.

Na força da palavra: trabalho e férias

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Lembro-me bem da senhora Isilda, uma mulher muito bonita e viva, que, já com 91 anos, um dia me esclareceu no café quanto ao baptismo. Segundo ela, baptiza-se as crianças pequeninas, para receberem o Espírito Santo, que é mais forte do que Jesus, e que é o Espírito falador: é ele que dá às crianças a capacidade divina para falar.

À sua maneira, a senhora Isilda tinha consciência do milagre que é falar. Quem algum dia reflectiu sobre isso - a capacidade de falar: proferir sons articulados que transportam sentido - falando, dizemo-nos a nós próprios, damos ordens, fazemos declarações de amor, e ódio também, ensinamos, contamos anedotas, fazemos paralisar uma pessoa, erguemos alguém caído, dirigimo-nos ao Infinito -, não pode deixar de cair no assombro interrogativo. Um corpo humano, pelo simples facto de falar, nunca deixará de constituir um enigma e mesmo um milagre pura e simplesmente. Aristóteles definiu o Homem como "animal que fala".

Regata de grandes veleiros

Foto dos meus arquivos

Há cerca de 10 anos, tivemos a oportunidade rara de assistir à visita de grandes veleiros que atracaram no Porto de Aveiro, na Gafanha da Nazaré. Foi, sem dúvida, uma excelente oportunidade para apreciar a beleza destes navios, ornamentados a rigor.

Dos acomodados não reza a história


"Devemos o progresso aos insatisfeitos"

Aldous Huxeley 
(1894-1963),
escritor


Fonte: PÚBLICO de ontem

sexta-feira, 24 de junho de 2022

SENOS DA FONSECA — O calão no linguajar dos ilhos

Bamos lá intão cumbersar... um poico...



Mais um livro de Senos da Fonseca que vem enriquecer a cultura dos ilhavenses. Senos da Fonseca é, realmente, um homem de enorme capacidade de trabalho. Daqui o felicito com um abraço pelo seu dinamismo social e intelectual.

Livres e prontos para seguir Jesus, servindo

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIII do Tempo Comum

Jesus anda por terras da Samaria e toma a decisão de ir a Jerusalém, centro da vida religiosa e política dos Judeus. Aqui, quer anunciar a novidade de Deus que suscita uma convivência respeitadora da dignidade humana. Prepara a viagem e envia mensageiros à sua frente. Está determinado a correr todos os riscos. Manifesta o que lhe vai “na alma”, endurecendo os traços da sua fisionomia. Lc 9, 51-62.
A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do "Reino". Padres Dehonianos.
No caminho, encontra pessoas com diversas pretensões: samaritanos que lhe recusam acolhimento, discípulos que querem vingar-se desta afronta, gente anónima que deseja segui-lo e outra que ele convida, apóstolos que o acompanham. Jesus, em respostas claras e desconcertantes, mostra a necessidade de estarem livres para o seguir e a urgência de fazer o anúncio da novidade de Deus.