Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo XI — A Santíssima Trindade
Jesus, na ceia de despedida, fala abundantemente do Espírito Santo. Atribui-lhe funções de companhia amiga, mestre que faz memória do sucedido e ajuda à sua compreensão, conforto dos discípulos e testemunha qualificada, perante o mundo adverso, luz do coração que discerne a maldade do pecado e a bondade da graça, presentes nas situações de vida, guia seguro para a verdade plena. É sobretudo esta função que mais se destaca na festa da Santíssima Trindade. Jo 16, 12-15.
O pintor crente Roublev faz uma expressiva visualização desta realidade inabarcável pelas capacidades humanas: Um ícone de três pessoas que se entreolham e, no modo como se olham, fazem brilhar o amor de cada uma pelas outras. Traduz, assim, a relação que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito. São um só na comunhão e três pessoas na pluralidade das funções que manifestam ao longo da história da salvação. Todas estão presentes no agir de cada uma que assume o protagonismo. É pelo seu agir em nosso benefício que temos acesso ao mistério insondável da sua existência. É pelo que Jesus promete aos discípulos que podemos sentir a “mão” segura do Espírito Santo a conduzir-nos para esta verdade admirável.
“Desde pequenos, lembra o P. António, aprendemos de nossos pais a fazer o sinal da cruz e a chamar a Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim com toda a naturalidade, estávamos invocando o mistério mais profundo de nossa fé e da vida cristã: o Mistério da Santíssima TRINDADE, cuja festa hoje celebramos”.
Este modo de ser de Deus constitui a fonte original da família humana, quer na sua globalidade cósmica, quer na sua configuração por laços de sangue, quer pelos vínculos da fé cristã. Por isso, desta fonte “bebe” o calor e a profundidade da comunhão, o amor da doação, o respeito pela diversidade de funções, o dinamismo da fecundidade, o serviço à humanidade, a ternura na relação de reciprocidade, a fidelidade consumada na opção, a sinceridade na comunicação do que cada um é e faz como riqueza de todos. A família humana de sangue contém, em si mesma, ainda que de modo muito parcelar (analógico) os traços emergentes desta matriz criadora. Conhecê-la, apreciar e viver os seus valores, testemunhar a sua força de modelo de vida plena é aspiração do coração e apelo da consciência que evidenciam a dignidade a que estamos chamados cada vez mais.
O Espírito Santo conduz os discípulos/cristãos para a verdade plena, pois eles ainda não haviam compreendido o sentido da paixão gloriosa de Jesus, como expressão do amor de Deus Pai à humanidade. Paixão sofrida que continua, hoje, em todas as vítimas inocentes de verdugos impiedosos, designadamente no tráfico de seres humanos escravizados ou trucidados pela violência. Paixão feliz que brilha no amor de doação de tantos voluntários que deixam tudo e a tudo se arriscam para valer a quem está nas “periferias” do indispensável para viver. Vivam para sempre os mártires de todas as causa, sobretudo da fé cristã.
O Espírito Santo percorre, com a comunidade cristã, os caminhos da história e vai ajudando-a a compreender o que acontece e a intervir, dentro do possível, para desvendar a presença e o sentido profundo do amor de Deus. O sinal da cruz recorda e testemunha a realidade maravilhosa de Deus trindade. Sempre que o fazemos, de modo consciente, atestamos que Ele marca toda a nossa existência, que o Seu amor circula em nossos corações por força do Espírito Santo que nos foi dado. A festa da Santíssima Trindade é a nossa festa de família, a festa da Igreja por excelência na multiplicidade das suas comunidades, a começar pela família.
Façamos nossa a saudação inicial da celebração da missa: A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco. Ámen.
Pe. Georgino Rocha