sexta-feira, 17 de junho de 2022

Toma a tua cruz e segue Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XII do Tempo Comum

Seguir Jesus é ter capacidade de escutar o que se diz e pensa a respeito da missão realizada, acolher as respostas diferenciadas, reencaminhar as imagens desfocadas para o autêntico sentido da mensagem transmitida.

“Sabes qual é a maior mentira do mundo?” – pergunta uma jovem, em tom jocoso, ao falar das redes sociais e de algumas páginas da web, e continua: “marcar no quadradinho «aceito as condições e os termos de uso» que normalmente aparecem como requisito para quem queira inscrever-se nas referidas redes e foros de opinião. Coloca a marca sem haver lido essas condições por estarem em letra muito pequena, miudinha, e serem extensas. Mas as pessoas dão-lhes pouca importância porque o que lhes interessa é entrar na rede e formar parte da grande família de cibernautas”.
Esta historieta pode ajudar-nos a captar o centro da mensagem deste domingo. Jesus, após um tempo de missão e em clima de oração, faz um levantamento do que se pensa a seu respeito: primeiro, os comentários que chegam aos discípulos e, depois, a atitude pessoal de cada um deles. Pedro acerta em cheio, identificando-o como o Messias de Deus. Segue-se uma lista de recomendações e de condições que correspondem ao desejo de seguir Jesus. Esta série termina: “quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me”. Lc 9, 18-24.
Seguir Jesus exige rupturas. A primeira ruptura é com a própria pessoa, deixar de lado o egoísmo e todas as convicções pessoais que não estão em sintonia com a mensagem libertadora do Evangelho. A cruz de cada dia corresponde às consequências de tal escolha. Somos convidados hoje, de modo especial, a procurar conhecer cada vez mais a identidade autêntica de Jesus, para poder continuar no seu seguimento. Segui-lo é confrontar-se com as estruturas do mundo que impedem a realização, desde já, do Reino de Deus. Padre F. Rodrigues, blog Fique Firme, reflexões para 12 domingo TC.
Seguir Jesus é fruto de uma decisão livre e de uma opção coerente. A princípio, de forma germinal; depois, ao longo do caminhar juntos, de outros envolvimentos da pessoa, que pretende acompanhá-lo até à cruz florida da Páscoa. Por isso, o seguimento não é um passatempo divertido, nem uma paixão clubista. Não é presente sem futuro, nem memória sem profecia.
Seguir Jesus é dar tempo à oração para estar em sintonia com Deus, contemplar o seu rosto de Pai de todos os humanos, seus filhos, de captar o palpitar do seu coração misericordioso, de saborear, na medida do possível, e desde já, a experiência de estar nos seus braços. Seguir Jesus é ter capacidade de escutar o que se diz e pensa a respeito da missão realizada, acolher as respostas diferenciadas, reencaminhar as imagens desfocadas para o autêntico sentido da mensagem transmitida.
A propósito da caminhada Sinodal em curso, uma Equipa de Casais de Nossa Senhora, de Carcavelos, Lisboa, afirma: “É fonte de imensa alegria experimentar uma Igreja viva! Queremos ser parte activa na Vida que Deus nos oferece e “descolar” para coisas novas. 7Margens 10 Junho 2022. Descolar para coisas novas, que belo propósito e entusiasmante desejo!
As condições e os termos apresentados por Jesus contrastam radicalmente com as expectativas dos discípulos, de outrora e de agora. O silêncio imposto desvenda esta realidade: Aceitar que a verdadeira grandeza está no serviço humilde, que a afirmação pessoal dá sentido à verdade que liberta, que a capacidade de aguentar o sofrimento define a medida do amor, que ser grande é fazer-se servo de todos, que gastar a vida é a única forma de a conservar com futuro garantido, que agradar a Deus Pai é praticar a misericórdia que perdoa e repõe a dignidade perdida.
Tudo isto está simbolizado na cruz e no apelo/convite de Jesus. A cruz do amor que se faz confiança e solidariedade, preocupação e empenho pelos martirizados da vida e famintos de esperança, compaixão solícita e generosa com todas as pessoas que desejam, mas ainda não encontraram o sentido pleno da existência. Cruz que, na hora decisiva, se faz entrega filial nas mãos do Pai.

Pe. Georgino Rocha 

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