terça-feira, 25 de setembro de 2018

PALABRAS CO BENTO NO LEBA de Domingos Cardoso

Um livro para todas as famílias de Ílhavo, e não só 


Domingos Cardoso dedica ao Povo de Ílhavo e aos seus familiares, “passados e atuais”, da boca de quem ouviu, “muitas destas palavras e expressões que o Tempo ainda não levou” da sua memória 


Palabras co bento no leba é o mais recente livro do ilhavense Domingos Freire Cardoso. É um livro que nos brinda com um trabalho excelente, muito diferente dos que tem por costume oferecer-nos. Dele já conhecemos a sua poesia, que muito apreciamos, em várias edições, marcadamente no tom dos sonetos camonianos, que cultiva com esmero. Não foi por acaso que exerceu funções como responsável pelo pelouro da cultura da Confraria Camoniana de Ílhavo. E para além da poesia, brindou-nos a todos com uma outra obra — Pedras sem Tempo do Cemitério de Ílhavo —, onde levou à prática a sua rara sensibilidade, em estudo meticuloso e cuidado que o engrandece pela riqueza do conteúdo que legou aos seus concidadãos, e não só. 
Desta feita, Domingos Cardoso dedica ao Povo de Ílhavo e aos seus familiares, “passados e atuais”, da boca de quem ouviu “muitas destas palavras e expressões que o Tempo ainda não levou” da sua memória, como se lê na Dedicatória. Palavras e expressões das gentes de Ílhavo que são um desafio a todos, para que não deixemos cair no saco do esquecimento o legado riquíssimo do linguajar dos nossos ancestrais. 
No Prefácio, assinado por Augusto Nunes, lê-se que “Escrever um livro é uma forma de amar… de amar a vida e o que a rodeia”, garantindo que tem a certeza de que não leu “uma única linha que não fosse escrita com paixão”. E acrescenta: “O livro é uma maravilha de erudição, fruto decerto do seu labor intenso e apaixonado”. 
Augusto Nunes ficou fascinado com a leitura desta obra, porque Domingos Cardoso fez as palavras “lidarem com as vozes, aquelas vozas tão castiças dos nossos avoengos… aquela divina oralidade que já não volta mais”.
O autor, na Introdução, fala das suas pesquisas, “de fio a pavio”, nas atas da Câmara Municipal de Ílhavo, quando preparava o trabalho, também exaustivo, sobre o cemitério ilhavense, onde terá encontrado razões e inspiração para a obra Palabras co bento no leba. Compilou expressões típicas de Ílhavo, consultou quem possuía registos sobre o assunto e recorreu à sua memória para trazer até ao presente o que foi ouvindo, desde a sua meninice, “a avós, pais e vizinhos”, garantindo que ainda hoje tudo ouve em casa das suas irmãs. 
Domingos Cardoso tem plena consciência “de que este trabalho poderá suscitar reparos, críticas e reprovações, por ser imperfeito, incompleto e limitado, precisamente os defeitos naturais de qualquer obra humana”, mas não deixa de frisar que com ela se “identifica plenamente”. pois no seu seio nasceu e cresceu, “sendo, por isso, feito da mesma massa cozida no forno de barro aquecido à força da mesma lenha”. 
Palabras co bento no leba é um livro de peso, na verdadeira aceção da palavra, mas é-o, fundamentalmente, pela riqueza do seu conteúdo diversificado, em 540 páginas com edição esmerada. Bibliografia, índice Onomástico e índice de quanto pode ler-se na obra. Mas a alma deste trabalho de Domingos Cardoso, essa distingue-se a olha nu, tal é a importância das suas investigações: Termos, Expressões, Ditos, Ditados, Memórias, tudo ligado por ordem alfabética em 430 páginas. E logo a seguir o autor seleciona, em Pobo a Falar, textos populares da tradição oral e de escritos diversos, nomeadamente, um “delicioso naco de prosa”: uma carta de um sapateiro dirigida à Câmara Municipal. E mais: Superstições, Curas, Rezas e Crenças que caraterizam o pensar e o agir do povo. 
O autor, ilhavense de raiz e tradição, aborda neste seu belíssimo trabalho, a Origem e significado do topónimo Ílhavo, com novidades para mim, leigo nestes temas, e em Olhares sobre Ílhavo, dá-nos «uma ideia de como Ílhavo era sentido pelos poetas», separados por cerca de 120 anos e cerca de 60, entre si. O que fomos e como fomos, a Água, a Pobreza, o Luto, a Higiene, o Encanto, Lugares de Ílhavo, Sons de Ílhavo, entre outras questões, garantem aos seus leitores um conhecimento enriquecedor de Ílhavo e suas gentes, de tantas e tão enraizadas tradições. Bom seria que todos possuíssem este livro em suas casas como prova de amor pelo legado dos nossos avoengos. 

De forma aleatória, aqui transcrevo, por ordem alfabética, algumas expressões das muitíssimas apresentadas em Palabras co bento no leba. 

À bauda – ao acaso. 
Barrabotas/Borrabotas – pessoa insignificante, sem valor. 
Còca-bichinhos – indivíduo que só se interessa por coisas insignificantes. 
Dar uma sòta – parar de chover. 
Estar sem chêta – não ter dinheiro, estar falido. 
Ferrar o galho – dormir. 
Gaudério – estroina, vadio, gastador. 
Home de barba rija – homem corajoso, que tem ânimo, tesura. 
Ir à faca – ser operado. 
Já cá canta – Diz-se de coisa conseguida ou alcançada. 
Labaçau – Lamaçal, lodaçal. 
Meia-leca – pessoa de pequena estatura e pouco valor. 
Nem bibauma – nem vivalma; ninguém. 
Obelha negra – pessoa dissoluta; uma companhia nefasta. 
Pagar o patau – sofrer as consequências de algo mal feito. 
Quem bai ó mar abia-se em terra – é preciso ser previdente. 
Recolher a penates – voltar para casa. 
Sauta-paredes – indivíduo que anda a passo largo. 
Taralhona – pessoa que diz agora uma coisa e depois diz outra; aldrabão. 
Uma gaita!/Uma oba! – não vou nisso!; não acredito!; não pode ser! 
Xabeco – xaveco; mulher feia e velha. 
Zus-catrapuz – som da queda de algo. 

Fernando Martins

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