sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Ser o maior, legítimo desejo humano

Georgino Rocha

“Hoje, 17 de Setembro de 2018, informa a Ecclesia, agência noticiosa da Igreja em Portugal, é o dia em que o ano letivo começa verdadeiramente. Depois do acolhimento e apresentações da passada semana, milhares de alunos começam ou retomam um itinerário educativo que se espera, forneça as capacidades científicas e técnicas mas também, valores e capacidade para humanizar sempre mais uma sociedade que facilmente resvala para o individualismo e o utilitarismo. Novidade, o projecto de flexibilidade curricular, onde 25% da carga letiva pode ser redirecionado para formas alternativas de aprendizagem que motivem e envolvam os alunos de forma mais eficaz”.


Jesus anda com os discípulos pelos caminhos da Galileia, terra exposta a influências religiosas de outros povos e considerada com desdém na Judeia e sobretudo em Jerusalém. Sirva de referência a resposta a Nicodemos dada pelos doutores da Lei que pretendiam prender Jesus. De facto o entusiasmo popular por Jesus era enorme, tal a sintonia dos seus ensinamentos com as aspirações daquela gente. “Também tu és galileu? Estuda e verás que da Galileia não sai nenhum profeta” (Jo 7, 52). Resposta que procurava “entalar” o mestre fariseu que tinha ido de noite falar com Jesus. e procurava a sua defesa pois a Lei não permitia julgar “alguém antes de ouvir e saber o que ele faz”.
É nesta região que decorre a maior parte da missão de Jesus. E daqui avança para Jerusalém, fazendo um caminho não apenas geográfico, mas evangelizador e catequético, de progressiva revelação da novidade de Deus que brilha nas suas mensagens e atitudes de ousadia corajosa em todas as situações vividas, sobretudo degradantes da dignidade humana e da adulteração das práticas religiosas e respectivas justificações.
Pelas terras da Galileia, os discípulos conversam amigavelmente e, face à adesão popular, sonham com a sorte que no futuro esperam vir a ter. Ainda bem que têm sonhos legítimos. Haviam deixado as suas pertenças e arriscado tudo na causa de Jesus. Esta opção não lhes deve ter sido nada fácil. O tempo ia passando e as expectativas crescendo. Imaginam o que poderá vir a ser, tendo em conta a escala de precedências na sociedade religiosa de que fazem parte. A família também se envolvia. É muito expressiva a atitude da mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que vai ter com Jesus, ajoelha e lhe suplica: “ Promete que os meus dois filhos se sentem, um à Tua direita e o outro à Tua esquerda” (Mt 20, 21). Era tal o entusiasmo que não lhes passava pela cabeça o que Jesus dizia nos anúncios claros do desfecho final: a morte próxima seguida da ressurreição.
Marcos, o narrador do episódio que hoje a liturgia destaca na celebração dominical, (Mc 9, 30-37), organiza a conversa de Jesus com os discípulos em passos sucessivos que convergem na catequese feita em Cafarnaúm, possivelmente em casa de Pedro. Catequese muito oportuna, sempre, mas sobretudo no início das aulas escolares e das sessões de iniciação à fé cristã nas paróquias.

“Hoje, 17 de Setembro de 2018, informa a Ecclesia, agência noticiosa da Igreja em Portugal, é o dia em que o ano letivo começa verdadeiramente. Depois do acolhimento e apresentações da passada semana, milhares de alunos começam ou retomam um itinerário educativo que se espera, forneça as capacidades científicas e técnicas mas também, valores e capacidade para humanizar sempre mais uma sociedade que facilmente resvala para o individualismo e o utilitarismo. Novidade, o projecto de flexibilidade curricular, onde 25% da carga letiva pode ser redirecionado para formas alternativas de aprendizagem que motivem e envolvam os alunos de forma mais eficaz”.

Quantos sonhos de pais e filhos, de professores e auxiliares, se acalentam nesta abertura do ano escolar. E quantos bons desejos de pais e catequistas, de avós e outros cristãos envolvidos nas catequeses paroquiais, com destaque para os respectivos párocos. Acompanhemos esta esperança e peçamos ao Senhor que todos os esforços humanos sejam veículo da sua bênção para as pessoas, a sociedade e a Igreja.

Uma vez chegados a casa, Jesus reúne os discípulos e faz uma revisão das conversas ocorridas ao longo do caminho. Tinha havido discussão aberta sobre quem seria o maior. “Que discutíeis no caminho?” Pergunta que fica sem resposta, mas que Jesus havia captado bem. Então senta-se, como fazem os mestres quando ensinam, chama os Doze Apóstolos, e redirecciona o desejo de ser o maior. Não o nega nem desdenha. Dá-lhe um novo sentido, uma direcção de disponibilidade para servir por opção livre, para estar próximo das pessoas e atento às suas necessidades, para gerir o tempo nos seus ritmos de trabalho e descanso de forma útil para o bem comum, para ter a ousadia de amar em doação aos mais “pequeninos”, os que precisam de apoio para a sua promoção integral. E para que a clareza da palavra seja reforçada pelo símbolo da imagem, Jesus toma uma criança, coloca-a no meio deles, abraça-a e diz-lhes: “Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe, e quem Me receber não me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou”.

Fica indicado o caminho a percorrer ao longo da história, pessoal e familiar, na sociedade e na comunidade eclesial: Ser grande na consciência da relação que se vive no serviço por amor; sintonizar, dentro do possível, com o proceder de Deus revelado em Jesus Cristo e confiado à Igreja e, nela, a todos os fiéis cristãos, a nós sem dúvida. Quanto caminho precisamos de fazer para viver em atitudes e obras esta busca de sintonia! Sem deixarmos de apreciar os passos dados e esforços despendidos, ousemos novos ritmos e novas harmonias.

“Quando se escreveu este evangelho, afirma J.M. Castillo, os apóstolos eram conhecidos nas comunidades da Igreja. Os Doze eram famosos: eram as testemunhas oficiais da ressurreição de Cristo… E o surpreendente é que, a estes homens aos quais tanto devia a Igreja nascente, os evangelhos não tiveram a menor dificuldade em contar todas as suas ignorâncias, cobardias, medos e contradições. O Evangelho diz-nos assim que o melhor para a Igreja não é uma boa imagem dos seus dirigentes, mas a verdade e a transparência daquilo que cada um vive no seguimento de Jesus”.

Ser grande na vida e ser o maior na carreira profissional, não em competição arrasante, mas em cooperação solidária, é vocação humana que o cristão fiel vive no seguimento de Jesus. Grande lição dada aos discípulos em Cafarnaúm, mas com alcance para todo o mundo. Aceitemos!

Georgino Rocha

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