quinta-feira, 14 de abril de 2022

Os folares da Páscoa

Como todos os cristãos sabem, a quaresma culmina com a Páscoa, a festa da ressurreição de Jesus Cristo. Houve jejuns e abstinências, orações e penitências, mas com a Páscoa volta-se a uma certa normalidade, não faltando as festas profanas. 
Na Páscoa, para além das cerimónias religiosas, havia a visita pascal, chamada compasso noutras bandas, os padrinhos e madrinhas lembravam-se dos seus afilhados, ofertando folares com ovos cobertos com tiras da mesma massa (ver foto). Havia padrinhos e madrinhas que tinham o cuidado de ornamentar os folares com tantos ovos quantos os anos de vida dos afilhados. E no dia de Páscoa os afilhados visitavam os seus padrinhos e madrinhas, retribuindo com algumas lembranças. É certo que em determinada altura não havia espaço para tanto ovo, mas também é verdade que há mais de 70 anos se casava mais cedo. 
Os folares eram feitos com algumas liturgias e orações na hora de entrarem no forno. E depois de feitos, ficavam na gamela onde era feita a massa, cobertos por uma toalha. Comê-los, só no dia de Páscoa. Presentemente, há folares a toda a hora, mesmo sem ovos. 
Ao saírem do forno, lá vinha uma pequena prova de um folarinho feito do resto da massa que não chegou para mais um folar normal. Um bocadinho para cada um.

F. M.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Valeu a pena ter esquecido o telemóvel

Hoje fui forçado a uma caminhada por falta do telemóvel, esquecido no bolso de um outro casaco. Recusei, delicadamente, o transporte que me ofereceram, alegando que desejava fazer o trajeto a pé para testar a minha resistência. Pés a caminho da Cale da Vila, onde me trataram dos pés,  até à Cambeia, não completei a marcha porque, entretanto, surgiu-me no caminho a Lita. Conhecida a causa da minha caminhada, riu-se, trocista, porque ela é que costuma ser a esquecida.
A caminhada pela Av. José Estêvão teve o condão de me proporcionar olhar as moradias e recordar quem nelas vive ou viveu. Amigos e conhecidos, gente humilde e importante da terra. Tomei conta das lojas, escritórios e consultórios, das moradias e prédios, e na entrada de uma casa encontrei uma boa amiga que não via há muito. Mantém o mesmo sorriso. Tive de libertar um pouco a máscara para mostrar quem era. E vieram as recordações. 
O seu marido, meu amigo dos tempos da escola primária, veio à baila. Homem bom e generoso, faleceu há 38 anos, mas esteve ali connosco, com histórias comuns, sempre em sintonia. Ele foi a mola real da conversa. Os sonhos do casal, o otimismo de ambos, a bondade do meu amigo. Falámos dos filhos e netos, das enxaquecas que nos incomodam e da Páscoa que está a chegar. Valeu a pena ter esquecido o telemóvel.

Fernando Martins

Mastro do Milenário - Eu assisti aos trabalhos

Mensagem reeditada 
para não cair no esquecimento


O presidente da Câmara Municipal, Dr. Alberto Souto, inaugurou, na ponte da Dobadoura, o «Mastro do Milenário», cujo simbolismo esclareceu na mensagem, dirigida aos aveirenses, que então proferiu (Litoral, 19-4-1958) – A.

"Calendário Histórico de Aveiro",
de António Christo e João Gonçalves Gaspar


Eu assisti aos trabalhos de erguer o mastro do Milénio da povoação de Aveiro e Bicentenário da cidade, datas que se celebraram em 1959. Comandou as operações delicadas o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com muita gente a assistir, porventura receosa, alguma, de o mastro não entrar no buraco para ficar com as bandeiras a assinalar as efemérides, que se esperavam festivas.
Como manobrador do camião do estaleiro do Mestre Mónica estava o então meu amigo Henrique Correia, que veio a ser o primeiro presidente do Grupo Desportivo da Gafanha, sendo eu o secretário.
O camião estava carregado, julgo que com toros, para garantir a estabilidade do veículo quando aplicava a máxima força para erguer o mastro. Cordas grossas postas em lugar estratégico, naturalmente, garantiam a resistência suficiente para o êxito esperado. O Mestre falava alta, gritava mesmo, para que todos ouvissem as suas ordens. E quando veio a ordem para o Henrique Correia acelerar o camião, paulatinamente, o mastro começou a levantar-se e no sítio certo, bem aprumado, lá ficou a lembrar a todo o nosso mundo que Aveiro existia desde 959, como povoação ligada a Mumadona Dias, e como cidade a partir de 1759.
Mestre Manuel Maria Bolais Mónica morreu no ano seguinte, mais concretamente em 16 de julho de 1959.

F. M.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Um poema de Miguel Torga para este tempo


HOSSANA

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...

Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

Miguel Torga

In POESIA COMPLETA



Miguel Torga

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Vivo bem com os meus silêncios

Quem levou uma vida superativa, com família em crescendo, profissão desgastante e atividades sociais e eclesiais envolventes, estranha agora uma relativa tranquilidade, que não leva, contudo à preguiça. Há sempre algo para fazer, com ou sem horário, que me garante ser a vida para viver à medida  do que surge.
Vem isto a propósito das horas do dia que são as mesmas de sempre. Mas se não tenho horas marcadas praticamente para nada, quando me levanto sinto necessidade de me envolver, física e emocionalmente, em tarefas do meu agrado: leio livros que não faltam por aqui, escrevinho umas notas, olho de soslaio para a TV, se ligada, ouço música gravada, estou atento às notícias, leio jornais e revistas e converso com quem está em casa ou nos visita.
Por estranho que pareça, não sinto que o isolamento pandémico ou procurado, neste caso tão do meu agrado, não me incomoda nada. Vivo bem com os meus silêncios, embora aprecie uma boa cavaqueira de vez em quando 

F. M. 

"Esquecer os deveres básicos da solidariedade é uma violência,
uma cobardia escondida em nome do bom senso.”

Mia Couto, escritor

Em Escrito nas Pedra
do jornal PÚBLICO de hoje

Semana Santa ou Semana da Coligação Assassina?

Crónica de Bento Domingues 


Frei Bento Domingues
Os poderes judaicos procuraram encostar Pilatos à parede e Pilatos responsabiliza-os por tudo o que aconteceu. Agora, temos na própria Europa, novas narrativas de destruições e massacres incríveis, mais precisamente na Ucrânia.

1. Com o Domingos de Ramos começa a Semana Santa e é proclamada a Paixão de Cristo, segundo S. Lucas [1]; na Quinta-feira, a leitura da Última Ceia é de S. João [2] ; é do mesmo evangelista a leitura da Paixão na Sexta-Feira [3]. Esta é uma selecção. De facto, existem quatro narrativas, tantas como os Evangelhos. São textos essenciais porque é em torno das razões da condenação de Jesus à morte, da teimosia experiencial em dizer que Ele ressuscitou, que pelo seu Espírito reúne e anima todos os que acolhem o seu projecto de abertura universal, que se afirmaram os movimentos cristãos.
Importa ter presente que a escrita dos textos do Novo Testamento recolhe várias tradições orais. É feita bastante depois dos acontecimentos. Não são escritos de reportagem. São interpretações de comunidades que viviam e celebravam a certeza de que, com Jesus, participavam no advento de um céu novo e uma nova terra [4]. Celebravam, faziam memória e viviam, no seu presente, o que depois foi passado a texto. Os exegetas, de várias gerações e com problemáticas diferentes, têm trabalhado para encontrar os traços do Jesus histórico e o Cristo da fé.

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