Hoje fui forçado a uma caminhada por falta do telemóvel, esquecido no bolso de um outro casaco. Recusei, delicadamente, o transporte que me ofereceram, alegando que desejava fazer o trajeto a pé para testar a minha resistência. Pés a caminho da Cale da Vila, onde me trataram dos pés, até à Cambeia, não completei a marcha porque, entretanto, surgiu-me no caminho a Lita. Conhecida a causa da minha caminhada, riu-se, trocista, porque ela é que costuma ser a esquecida.
A caminhada pela Av. José Estêvão teve o condão de me proporcionar olhar as moradias e recordar quem nelas vive ou viveu. Amigos e conhecidos, gente humilde e importante da terra. Tomei conta das lojas, escritórios e consultórios, das moradias e prédios, e na entrada de uma casa encontrei uma boa amiga que não via há muito. Mantém o mesmo sorriso. Tive de libertar um pouco a máscara para mostrar quem era. E vieram as recordações.
O seu marido, meu amigo dos tempos da escola primária, veio à baila. Homem bom e generoso, faleceu há 38 anos, mas esteve ali connosco, com histórias comuns, sempre em sintonia. Ele foi a mola real da conversa. Os sonhos do casal, o otimismo de ambos, a bondade do meu amigo. Falámos dos filhos e netos, das enxaquecas que nos incomodam e da Páscoa que está a chegar. Valeu a pena ter esquecido o telemóvel.
Fernando Martins