quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Cândido Teles faleceu há 19 anos


Segundo um apontamento que registei no álbum “Cândido Teles — Desenho”, editado pela Câmara Municipal de Ílhavo em 1996, o artista ilhavense faleceu em 31 de outubro de 1999. Só hoje, quando ocasionalmente revi aquele álbum, tive a oportunidade de evocar a sua vida e obra, na tentativa de lembrar às atuais gerações que não podemos ignorar os que, pelas suas  expressões artística, se perpetuam no tempo. 
Frederico de Moura, artista na arte de escrever, diz que, ao olhar os desenhos de Cândido Teles, sentiu “a sugestão de ver o esqueleto da sua pintura — esqueleto que dá segurança ao revestimento das tintas e ao rigor da composição”. Confessando a sua admiração pelo pintor, refere que é “a nossa paisagem que lhe borbulha insistentemente na inquietação estética; que é ela que tem o caminho mais reservado na sua intimidade de homem e Artista; que a ternura com que traz à tela os seus longes de água serena, os perfis do ‘moliceiro’ e da ‘bateira’ e, sobretudo, a luz incomparável que os acaricia, lhe molham os pincéis de uma ternura afectiva onde, até, apetece sonhar vestígios de lirismo".

Fernando Martins

Os meus santos de todos os dias


O mundo católico celebra hoje a Festa de Todos os Santos. Não só os que a Igreja Católica considera dignos das honras dos altares, mas todos os outros que, por certo, são incontáveis. Não apenas os escolhidos pela Igreja Católica, para nos servirem de exemplo na vida, mas ainda os de outras religiões e, porventura, até ateus, porque Deus, na sua infinita misericórdia, a todos acolhe com ternura maternal. 
Pessoalmente, confesso que muitos santos apresentados pela Igreja Católica para nossa veneração pouco me dizem, decerto por se tornar impossível conhecer as suas vidas e as causas que levaram à sua beatificação ou canonização. De forma que me sinto mais à vontade para me fixar nos que me marcaram durante a minha existência desde menino até à velhice, conduzindo-me, pelo seu testemunho, na senda dos caminhos da Boa Nova, herança que Jesus Cristo nos legou há mais de dois mil anos. 
Naquela perspetiva, estou mais inclinado a venerar os meus pais e avós, bem como outros familiares e amigos. Vi a ação de Deus nos que me ensinaram a dar os primeiros passos e a pronunciar as primeiras palavras, os que me indicaram as primeiras letras e me deram a noção de contar, os que me orientaram para melhor apreciar  o céu estrelado e as águas cristalinas, os bosques verdejantes e o mar sem fim. Mas ainda os que me educaram para olhar os outros como irmãos, os pobres como merecedores da minha atenção, as flores como sinal de alegria, o sorriso das crianças como exemplo da pureza e da candura. Destes, sim, vou lembrar-me mais nesta Festa de Todos os Santos.

Fernando Martins

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

TODOS OS SANTOS: A alegria de viver feliz com Jesus

Georgino Rocha

Jesus, animado pela novidade de que é portador, faz o discurso do Reino, o conhecido sermão da montanha (Mt 5, 1-12). Proclama o código da felicidade, a experimentar já na história e a viver no futuro definitivo, a eternidade nos braços da família de Deus. E deixa-nos o convite a mantermos bem seguro no coração a chave de entrada. Que impacto terá provocado nos discípulos e demais ouvintes! Certamente como nos provoca a nós, se quisermos assumi-las como regra de vida.
O Papa Francisco publicou a 19 de Março de 2018 uma exortação apostólica intitulada “Alegrai-vos e Exultai”, título tirado da última bem-aventurança. Quer apresentar aos cristãos a nova visão de Jesus sobre a felicidade e consegue-o num estilo muito actual e apelativo. Vamos transcrever alguns pontos.
“As bem-aventuranças são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre «como fazer para chegar a ser um bom cristão», a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida”.

1. «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»

O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra. O próprio Jesus no-lo disse na parábola do rico insensato, falando daquele homem seguro de si, que – como um insensato – não pensava que poderia morrer naquele mesmo dia (cf. Lc 12, 16-21). Ser pobre no coração: isto é santidade

Dia Mundial da Poupança


Hoje, quarta-feira, 31 de outubro, é o Dia Mundial da Poupança. Tanto quanto se lê para recordar o sentido da poupança, este Dia Mundial nasceu com o intuito de alertar os consumidores para a necessidade de disciplinar os gastos, de maneira a amealhar algum dinheiro para o indispensável.
Eu fui educado neste espírito e tenho dificuldades em compreender os gastadores, os que não pensam no futuro. Conheço pessoas que só pensam no presente, gastando ao sabor dos apetites, não sabendo discernir o importante e urgente do acessório. Gastam por gastar sem admitir que amanhã poderão não ter simplesmente para comer.
O espírito de poupança, assente no princípio de se gastar menos do que se ganha, aplica-se não apenas às pessoas, mas também às empresas e aos governos. Não seguir este princípio está à vista, por exemplo, nos Governos de Portugal. Tanto gastaram para além das suas possibilidades que acabaram por  cair quase na bancarrota.
Eu poupo e nunca me arrependi de o fazer. Mas também procuro transmitir aos que me são próximos que será fundamental amealhar algum dinheiro, porque nunca saberemos o dia de amanhã. 
Boas poupanças. Depois não digam que não avisei. 

Fernando Martins 

domingo, 28 de outubro de 2018

Pessoas que nos marcam...

Professora Helena Pessoa

MaDonA

A figura do professor primário sempre constituiu uma referência, sobretudo nos meios rurais. A par com o regedor e o padre era um marco e uma autoridade, pois levava a literacia ao povo, quando o ensino primário ainda nem era obrigatório. Nos meios pequenos como eram as Gafanhas, havia apenas um professor para todos os alunos que iam à escola. Ouvia da boca dos meus progenitores os nomes de Prof Cesário e Mª Augusta, que ensinaram as primeiras letras a gerações de alunos, que ainda os guardam na memória. Hoje, são topónimos em ruas próximas do lugar que habito. 
O ensino primário era uma das fases mais importantes na vida de uma pessoa. Afinal, é nela em que alguns traços de personalidade são construídos, e o ambiente escolar desempenha um papel socializador em que a criança começa a ampliar sua rede de relações, sendo que é através do professor que ela consegue construir conhecimentos expressivos. 
Por isso, o papel do professor é fundamental pois ele é o mediador entre a criança e o conhecimento. como elas veem e sentem o mundo, criando oportunidades para elas  manifestarem seus pensamentos, linguagem, criatividade, reações, imaginação, ideias e relações sociais. 

Para vinho novo, odres novos

Frei Bento Domingues
"As tarefas empreendidas pelo Papa Francisco têm, sem dúvida, a sua origem na crise actual e nas suas heranças. Mas ao mesmo tempo fazem parte da ordem do dia inacabado do Vaticano II e de problemas que atravessam a história da Igreja"

1. Como diz o físico Carlo Rovelli, a natureza do tempo talvez seja o maior mistério. Estranhos fios o ligam aos grandes mistérios não resolvidos: a natureza da mente, a origem do Universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida. A dança a três gigantes do pensamento – Aristóteles, Newton e Einstein – levou-nos a uma mais profunda compreensão do tempo e do espaço: existe uma estrutura da realidade que é o campo gravitacional; esta não é separada do resto da física, não é o palco em que o mundo flui: é uma componente dinâmica da grande dança do mundo, semelhante a todas as outras; interagindo com as outras, determina o ritmo das coisas a que chamamos fitas métricas, relógios e o ritmo de todos os fenómenos físicos. Pouco depois, o próprio Einstein verificou que esta não era a última palavra sobre a natureza do espaço e do tempo [1].
Há mais de dois mil anos, depois de João Baptista ter sido preso, Jesus foi para a Galileia proclamar: “completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos – mudai de vida – e acreditai no Evangelho”, se quereis que o mundo encontre a perfeita alegria [2].
Quando S. Marcos escreve isto, já o Espírito de Cristo tinha assumido outro ritmo do tempo: o dos jovens com visões novas e dos velhos renascidos, cheios de sonhos de um mundo outro [3]. Cedo, porém, se deram conta de que o tempo e o espaço das Igrejas não eram um palco em que elas se pudessem desenvolver, puras e santas, sem estranhas interacções religiosas, sociais, económicas ou políticas, desde o Pentecostes até hoje. A necessidade de reformas faz parte da sua história.

Um poema de Eugénio de Andrade



SE DESTE OUTONO

Se deste Outono uma folha,
apenas uma, se desprendesse
da sua cabeleira ruiva,
sonolenta,
e sobre ela a mão
com o azul do ar escrevesse
um nome, somente um nome,
seria o mais aéreo
de quantos tem a terra,
a terra quente e tão avara
de alegria.

Eugénio de Andrade

In O Sal da Língua

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