sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Miguel Torga — Outono

OUTONO

Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga,
in Poesia Completa, pág. 754

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Divorciados recasados pedem à Igreja a bênção de Deus




“Não deixa de ser estranho que a Igreja no seu Ritual de Bênçãos contemple tanta diversidade de pessoas, de animais e de coisas e mostre relutância em atender o pedido de divorciados recasados que as desejam para a sua nova situação”, diz-me um amigo de velha data familiarizado com esta temática. Estou de acordo com ele, embora para suavizar a intensidade da queixa lhe lembre que é para evitar confusões com os ritos do matrimónio sacramental. Ele prossegue: “Por medo a confusões e ao risco, a história dá-nos lições de profecia, vendo a realidade cultural a avançar e certas instâncias da Igreja a ficarem paradas no tempo ou mesmo a entrar em conflito com as novas realidades”. E o Papa Francisco a proclamar que prefere uma Igreja acidentada, hospital de campanha…

Festa dos Bacalhoeiros — 23 de setembro


«Para assinalar o 80.º aniversário da sua fundação, o Museu Marítimo de Ílhavo organiza a Festa dos Bacalhoeiros, um encontro entre gerações de homens de todo o país que andaram ao bacalhau nos mares gelados do Atlântico Norte, com relatos de vivências, visitas ao Museu e ao Navio-Museu Santo André, bem como um almoço partilhado no Jardim Oudinot. Durante o dia será apresentada a versão final do Portal Homens e Navios do Bacalhau, uma ferramenta digital de recolha e de partilha da memória coletiva da grande pesca, que permite a inclusão, pelos familiares ou pela comunidade, de novas informações, imagens, vídeos ou documentos. Este portal é fruto da junção de duas preciosas bases de dados – as fichas de inscrição do Grémio dos Armadores dos Navios da Pesca do Bacalhau e a base de dados Frota Bacalhoeira Portuguesa 1835-2005 – resultando num museu virtual do património humano da pesca do bacalhau que relaciona dois elementos fundamentais para a pesca do bacalhau: os homens e os navios.»


Nota: Texto e foto do MMI

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Senos da Fonseca — “Saga Maior - Os «ílhavos» no marear da vida litoral fora”




“Saga Maior — Os «ílhavos» no marear da vida litoral fora (Séc. XVIII a Séc. XX)”, de Senos da Fonseca, foi um dos livros do meu habitual período de férias. Li-o com a serenidade devida a obra tão esperada e elucidativa sobre a diáspora dos ílhavos pelo litoral português, onde deixaram «uma marca indelével de traços identitários, ainda hoje bem perdurantes da cultura ilhavense», como sublinha o autor. 
Para abrir o apetite, Senos da Fonseca brinda os leitores com um saboroso naco de prosa poética de Maia Alcoforado, de que transcrevo apenas o último parágrafo: «E a embrulhar-lhe o peito [do ílhavo, claro], mais rijo que um cepo, o blusão de flanela salpicado de cores, onde arrecada a onça mail’o cachimbo, os lumes e o lenço d’Alcobaça — quase tão grande como as bandeiras do mariato».
Senos da Fonseca é um apaixonado pela sua terra. Emociona-se e empolga-se com o historial da Saga Maior, não se cansando de ouvir «noites e noites a fio» histórias dessa saga que lhe deixaram marcas profundas na alma, de tal modo que correu meio mundo para registar ao vivo vestígios palpáveis desse passado, para as doar, de mão beijada, às gerações atuais e futuras, como herança que urge preservar. 
A diáspora dos ílhavos pelo litoral português não foi fruto apenas do espírito de aventura, mas resultou das circunstâncias impostas pela natureza. Laguna de águas estagnadas e sem acesso ao mar ditaram a sentença e a demanda de novos desafio tornou-os migrantes. «E num exercício de prodigiosa temeridade, lançaram-se à pancada do mar, a procurar sustento para sobrevivência», refere o autor.
Tejo e Douro foram desafios para os primeiros ílhavos, como desafios também foram as artes de pesca que souberam implementar e adaptar, influenciados pela Catalunha, «via Galiza». E neste trabalho, profusamente ilustrado, o autor disseca barcos e redes, brindando-nos com pormenores enciclopédicos, para mim, pelo menos, que sou leigo em tais matérias.
Li capítulo a capítulo, página a página, debrucei-me sobre as muitas fotografias e desenhos técnicos, e fiquei a saber mais do que o suficiente sobre a chegada de Luís Barreto à Costa Nova, a presença dos ílhavos em Cova e Costa de Lavos, os Palheiros de Mira e da Tocha, Leirosa e Pedrógão, os Avieiros e Costa da Caparica, Costa da Lagoa de Santo André, Buarcos, Peniche e Sesimbra, Nazaré e Algarve, entre outras povoações. Por todas estas terras, de Norte a Sul de Portugal, Senos da Fonseca registou motivos identitários, embarcações, Capelas, naufrágios, mestres e figuras marcantes da gesta ilhavense. 
Destaque ainda para o linguajar do litoral e para a bibliografia e glossário, sempre fundamentais em obras deste género. 
O autor contou com o apoio à edição de Ana Maria Lopes.

Fernando Martins

Da Alegria e da Tristeza



«Alguns de entre vós dizem: “A alegria é maior que a tristeza”, e outros dizem: “Não, a tristeza é maior». Mas eu vos digo que elas são inseparáveis. 
Juntas elas surgem e, quando uma se senta sozinha convosco à mesa, recordai-vos de que a outra está a dormir na vossa cama.»

Khalil Gibran,
in “O Profeta”

Manuel António Assunção — D. António Francisco: um tributo


A partida prematura do Bispo do Porto determinou, inexoravelmente, a minha crónica de hoje. Honrou-me D. António Francisco com a sua amizade. Mas mais do que isso, privilegiou-me com o seu convívio, com a partilha de tantos episódios emocionalmente ricos, principalmente com a vivência das suas ideias e das suas práticas.
É difícil imaginar um homem tão autêntico no seu modo de ser e tão genuíno na sua essência. Eu não encontrei muitos, se é que encontrei algum. Era uma pessoa intrinsecamente boa, um ser humano de primeira grandeza. Lembro-me de uma das primeiras vezes em que estivemos juntos, uma bênção de finalistas na Universidade de Aveiro. A cerimónia prolongou-se em excesso e de uma forma que pôs em causa a dignidade do ato e o respeito devido pela presença do então bispo de Aveiro. D. António, imperturbável, prosseguiu no seu caminho de conceder a cada representante de curso a palavra devida com a bonomia que o caracterizava, no tempo e no modo programados. E no fim ainda me veio agradecer, reconhecido pelo que entendeu ser a minha resistência solidária para com ele. Marcou-me muito este seu saber estar, ao mesmo tempo tão inteligente e tão humilde.

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