Crónica de Anselmo Borges
no DN de sábado
Anselmo Borges |
Como é que ganhamos cada vez mais tempo e todos se queixam de terem cada vez menos tempo? Recentemente, a revista DerSpiegel dedicou um interessante estudo precisamente a este paradoxo, e é nele que me inspiro.
Claro que nos tempos que correm se poupa imenso tempo. Por exemplo, desde o século XIX, foram tiradas, em média, duas horas ao tempo do sono. Dada a velocidade crescente dos meios de transporte, deslocamo-nos mais rapidamente. Poupa-se tempo na criação de animais. Poupa-se tempo na aprendizagem. Também na comida, que já se compra feita, e nos encontros, que se dão cada vez mais através das novas tecnologias, e, mesmo aí, por abreviaturas na escrita (por exemplo, K (que), PF (por favor). Espantosa a diminuição do tempo de trabalho: o que são as actuais 35 ou 40 horas teoricamente dedicadas ao trabalho por semana comparadas com as 57 a mourejar, há cem anos, e 82, em 1825? Até para a morte já se pensa, para poupar tempo, em serviços de funeral a acompanhar pela internet.