sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Agricultura biológica

Crónica de Maria Donzília Almeida

Maçãs 



“Na natureza nada se cria, 
nada se perde, tudo se transforma”

Antoine Laurent Lavoisier 
(1743-1794). 

Há um número crescente de pessoas que abandonam a cidade, na procura de um ambiente tranquilo e apaziguador, em contacto com a natureza. Após a aposentação há uma viragem na vida de muita gente, que sentindo ainda saúde e energia, se dedica a um tipo de vida bucólica e contemplativa, na sua aldeia natal. Até os estrangeiros se têm fixado no nosso país, atraídos pelo clima ameno e pelo mito de Anteu, a força energizante e reprodutora da terra.
Assim, a agricultura biológica, como variante da agricultura tradicional ganha cada vez mais adeptos e sequazes. Para além de ser praticada por um setor da população, é também um hobby para quem desempenha/ou uma atividade intelectual que envolve muito stress. Pessoas que desempenharam cargos de alta responsabilidade social, no mercado do trabalho, optam por uma vida tranquila, em contacto direto com a terra.
Muitos intelectuais regressam às suas quintinhas, na província, onde retomam a agricultura iniciada pelos pais, numa terapêutica manipulação da terra. O apelo telúrico tão presente na vida e na obra literária de Miguel Torga, vem ao de cima e absorve as energias numa envolvência transcendental.

Milho verde


Na serra da Lousã, uma amiga bióloga ocupa-se, na sua quinta, com a produção de legumes frescos e frutos de qualidade superior aos comercializados nas grandes superfícies. O Facebook ajuda-me a conhecer e “cheirar” as fragrâncias das suas flores prediletas.
Julia Roberts, muito conhecida do mundo cinematográfico é uma defensora acérrima. Preocupada com os alimentos que os filhos ingerem e para evitar que venham a sofrer de distúrbios alimentares, planeia trocar Hollywood pelo Hawai, onde tem uma quinta. É nesse local que a atriz, o marido e os três filhos costumam passar férias. Deseja, vivamente, que os filhos cresçam num ambiente são e que a base da sua alimentação seja a agricultura biológica. Na casa de Malibú, já se dedica à criação de frangos e cabras e cultiva alface, aipo e tomate. Está a converter-se numa verdadeira hippie, segundo os amigos próximos da atriz.
Conheci, na Cidade Invicta, o Sr Manuel que após uma vida passada a conduzir elétricos, se dedicou de corpo e alma a uma horta urbana, depois da sua aposentação. Parecia mais um jardim alargado, onde as pencas e as alfaces conviviam, lado a lado, com as dálias, os gladíolos e os goivos. Fazia as delícias dos tripeiros e atraía os domingueiros, antes de o Parque da Cidade ter sido instalado, ali por perto.
A Agricultura Biológica é um modo de produção de alimentos de elevada qualidade, ao mesmo tempo que promove práticas sustentáveis e de impacto positivo no ecossistema agrícola. Assim, através do uso adequado de métodos preventivos e culturais, tais como as rotações, os adubos verdes, a compostagem, fomenta a melhoria da fertilidade do solo e a biodiversidade.
Em Agricultura Biológica, não se recorre à aplicação de pesticidas nem adubos químicos de síntese, nem ao uso de organismos geneticamente modificados. Desta forma, garante-se o direito à escolha, do consumidor, sendo-lhe salvaguardada a sua saúde, ao evitar resíduos químicos nos alimentos. 
A produção animal biológica pauta-se por normas de ética e respeito pelo bem-estar animal, praticando uma alimentação adequada à sua fisiologia, facultando condições ambientais que permitam aos animais expressar os seus comportamentos naturais e não recorre ao uso de hormonas nem antibióticos como promotores de crescimento.
As galinhas, ali no bosque, esgaravatam a seu bel-prazer e dão-me um contributo precioso na irradicação das infestantes. Têm uma retroescavadora nas patinhas que mantêm o chão impecavelmente limpo e lavrado. Longa vida as espera, em espaço amplo à sombra dos pinheiros, sem a ameaça do tacho….reservando-se este… apenas aos seus utentes, a nata da nossa sociedade! 
Os produtos biológicos livres de pesticidas, químicos e resíduos, são mais saudáveis e com mais sabor. Um solo rico em matéria orgânica produz alimentos com alto teor de vitaminas e minerais. Os tomates, cereais, batatas, couves e feijões de agricultura biológica apresentaram de 20-40% mais antioxidantes do que os correspondentes produtos de agricultura convencional. O espinafre e as couves biológicas evidenciaram conter mais minerais zinco, ferro e cobre do que os produzidos em modo convencional. A natureza é pródiga pois me oferece, em abundância, os espinafres de mão beijada! Não semeio, não rego e eles proliferam como bênção de Deus, permitindo-me fazer um delicioso creme de espinafres que partilho com os amigos e que os leva a sentenciar: — Tens uma saúde de ferro!
Sendo eu uma fã deste método de produção, também me dedico a práticas de agricultura biológica, nas reais dimensões que o meu minifúndio (!?) me permite.
O regresso à minha terra-natal, teve o condão de potenciar o meu próprio "eu", a conhecer-me melhor, a recobrar energias, tal como Anteu as retemperava em Geia, que lhe concedia novas forças. A terra é o refresco da alma, o refrigério do desalento, a confidente que ouve e aconselha nos dramas interiores de um pobre mortal.
À semelhança de Miguel Torga, sinto esse apelo da terra como a matriz, a fonte da minha inspiração e vitalidade. Em contacto com a natureza absorvemos a paz, a dulcificação, a harmonia que só longe dos grandes centros urbanos se pode alcançar. Quando me embrenho no âmago da terra, recarrego baterias e sinto-me verdadeiramente nas minhas sete quintas! E para fazer jus à sabedoria popular que é a minha bibliografia de apoio, os alhos, as ervilhas e as favas, pelo Natal, já despontavam como biquinhos de pardal.
Entre os amigos, já se comenta a qualidade dos meus produtos gourmet!


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