quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Só a paz pode lavar pecados

Putin e Cirilo I de mãos dadas
Costuma-se dizer que na guerra, em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade. No meio da informação e contrainformação, nas diferentes razões e causas, nos interesses em conflito, pouco sobra para a racionalidade e ainda menos para a verdade, que é mais alcançável pelo diálogo do que pela força. No caso da guerra da Rússia na Ucrânia há outra vítima: a fé ortodoxa. 
Foi especialmente doloroso, porque incongruente, ver o presidente Putin na celebração da Páscoa ortodoxa. A Páscoa da Ressurreição transformada em propaganda de morte. Putin com uma vela na mão, luz-vida que faz desaparecer as trevas-morte, enquanto os seus soldados semeiam morte – e sofrem eles próprios às mãos dos ucranianos. 
Agora é o Patriarca de Moscovo, Cirilo I, que faz afirmações de estremecer, se as levarmos a sério. Convenientemente faltou ao Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais, no Cazaquistão. Boicotou uma cimeira de paz. Diz o Patriarca, depois da chamada dos trezentos mil reservistas: “Se morrerem pelo país, entrarão no Reino de Deus.” Ou “Acreditamos que este sacrifício lava todos os pecados que a pessoa tenha cometido”. Ele, que já tinha dito, no início da guerra: “Entrámos numa luta que não é apenas física, mas tem um significado metafísico”. 
Sabemos que alguns consideram que a Rússia ortodoxa, a “Santa Rússia”, tem uma missão no mundo, uma espécie de cruzada em que ninguém acredita fora da Rússia. Não podemos deixar de repudiar a mistura da fé cristã com o nacionalismo. A religião não pode acolitar o poder político. Perde credibilidade. E o diálogo com os ortodoxos, que foi prioridade para os papas desde Paulo VI, fica mais difícil.

J.P.F.

NOTA: Publicado no Correio do Vouga desta semana

terça-feira, 27 de setembro de 2022

OUTONO — O jasmim perdeu os seus adornos


O outono montou a sua tenda branca sobre os montes;
tiraram-lhes o tapete verdejante.
O ramo do jasmim perdeu os seus adornos
e a rósea olaia deixa cair as suas flores.
O pálido marmelo amarelece; a romã cora;
ó surpresa! terá um deles bebido o sangue do outro?
Os jardins estão assombrados por negros saltadores:
os negros corvos, com as suas vestes manchadas de pez.
Esses bailarinos do outono começaram a agitar-se;
as aves da primavera calaram os seus brancos concertos.
Amáveis servidores, para festejar o equinócio,
trazem os seus presentes ao afortunado príncipe.
E o longínquo mar encarregou a nuvem
de lhe lançar no trono, de presente, algumas pérolas.

Mo’ezzi (1084 – 1147) é um poeta persa

In Rosa do Mundo

Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo

A sobrevivência da nossa civilização



"Não foi a libertação do medo, mas o equilíbrio do medo, que tornou possível a sobrevivência da nossa civilização"

Golda Meir

Em Escrito na Pedra do PÚBLICO

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Um poema de Tolentino Mendonça



SETEMBRO 

Nesses dias distantes eu vagueava pelas matas
enchia a espingarda de chumbo e disparava
contra o silêncio das árvores altas
só para assistir ao espectáculo dos pássaros 
em debandada

experimentava uma exaltação — de que tenho hoje pudor
perante imagens que partem:
fragmentos rápidos, passagens, segredos que se apagam
nesses dias distantes nem suspeitava
a vida pode ser interminável

o que deixaste abandonado regressa — aprende-se depois
quando, por exemplo, a esquecida infância se parece
com certos cães deixados de propósito a muitos quilómetros
que ladram não se percebe como
à porta da velha casa


In "A NOITE ABRE MEUS OLHOS"  

Nota: Humilde homenagem ao poeta que tive o prazer de ouvir e ver em diversas circunstância da minha vida. Mas também pela admiração que por ele nutro e pela sua recente nomeação pelo Papa Francisco para as responsabilidades de primeiro prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, da Santa Sé.

Encontro com a Maria da Fonte



Encontrei-me com a Maria da Fonte há uns bons anos, julgo que em 2013, em Póvoa do Lanhoso. Mas se fosse hoje, teria mesmo de lhe perguntar que soluções é que ela teria para mandar calar uns tantos que nos incomodam todos os dias com promessas impossíveis de cumprir. Imaginem só o que poderíamos ouvir desta guerreira armada com a foice. Assim escrevi naquela altura. Assim escrevo hoje.

F. M.

Percurso inacabado da Economia de Francisco

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO de ontem

O Papa desencadeou um movimento – A Economia de Francisco – precisamente porque a economia dominante não tem em conta o espírito do Santo de Assis, em vez de promover a vida dos mais pobres, arruína-os cada vez mais.

1. A característica do pontificado do Papa Francisco não é a de multiplicar iniciativas e realizações de ordem pessoal. Desde as tentativas de reforma da Cúria, ao envolvimento com o vasto mundo dos migrantes que fogem da fome e das guerras; da visão de um mundo a partir dos pobres e de todas as periferias existenciais; de despertar a sociedade para uma concepção da vida como realidade intergeracional, intercultural e interreligiosa; de não descansar enquanto a pedofilia e o seu encobrimento, por parte do clero, não se tornem empenhamento de toda a Igreja e da sociedade para acabar com essa tragédia; de fazer do Sínodo dos Bispos o Sínodo de toda a Igreja, mostrou sempre que procura, em todas as suas iniciativas, o envolvimento crescente de todas as pessoas de boa vontade.

Forte da Barra em dia de sorte



Num dia de sorte, captei esta foto com o sistema a trabalhar. E com a água a cair, de mansinho, tudo se apresentava mais bonito.

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