domingo, 26 de setembro de 2021

Não à ideologia do retrocesso

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO

A falta de cultura bíblica, na formação dos católicos, não se resolve com umas pinceladas de alguns minutos

1. Foi muito saudado o documento do Concílio Vaticano II, chamado A Igreja no Mundo Contemporâneo (Gaudium et Spes — 1965), ao reconhecer que a Igreja faz suas as questões do mundo contemporâneo. Sem perder a memória do passado, deve procurar, afincadamente, abrir caminhos de esperança para o futuro de todos.
O Papa Francisco tem sido fidelíssimo a esta perspectiva. Com ele, a Igreja faz parte do mundo contemporâneo em processo de conversão. Não aceita a miopia de continuar ocupada com um mundo que já não existe. Ainda muito recentemente, no encontro com os jesuítas, na Eslováquia, criticou duramente quem alimenta a ficção de procurar voltar atrás: “Sofremos isso hoje na Igreja: a ideologia do retrocesso. É uma ideologia que coloniza as mentes, é uma forma de colonização ideológica. Não se trata, no entanto, de um problema verdadeiramente universal. É específico das Igrejas de alguns países. Acrescentou com humor: há jovens que, depois de um mês de ordenação, vão pedir ao bispo autorização para celebrar em rito antigo. Este é um fenómeno retrógrado. Temos medo de avançar nas experiências pastorais.”

sábado, 25 de setembro de 2021

Sou um corpo que diz "eu"

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Conta-se que, uma vez, estava um miúdo com a mãe, junto ao cadáver da avó. A mãe explicou ao filho: "Vês? Agora, o corpo vai para a Terra, a alma foi para Deus. Quando eu morrer, o meu corpo vai para a Terra e a minha alma vai ter com Deus. Depois, quando tu morreres, também vai ser assim: o teu corpo vai para o cemitério; a tua alma vai ter com Deus." E o miúdo, aflito, perguntou: "E eu?"
Esta pequena história, na sua aparente ingenuidade, ilustra bem todo o enigma da constituição humana. O pensamento enveredou frequentemente pelo dualismo, que quer exprimir uma tensão vivida: eu sou um corpo que diz eu, mas ao mesmo tempo penso-me como tendo um corpo, pois o eu fontal parece não identificar-se com o corpo. Parece haver no Homem um excesso face ao corpo, experienciado, por exemplo, na possibilidade do suicídio: eu posso matar-me. Mas, por outro lado, eu não sou uma alma que carrega um corpo, à maneira de uma coisa que eu tivesse. Vivo-me desde dentro como sujeito corpóreo, um corpo-sujeito e matéria pessoal. O meu corpo sou eu mesmo presentificado, é a minha visibilização, sou eu próprio voltado para os outros. Numa concepção dualista de alma e corpo, os pais não seriam realmente pais dos filhos, mas apenas de um corpo que transporta ou é transportado por uma alma que viria de fora...

Gafanha da Encarnação - Igreja Matriz

 

Estive, há dias, na Igreja Matriz da Gafanha da Encarnação. Já por lá passei várias vezes e não me canso de apreciar este belo espaço que acolhe os que chegam, convidando-os ao silêncio e à contemplação. Aquele Cristo sai da cruz ressuscitado e salta para o mundo ao encontro de cada um de nós. Está vivo e de braços bem abertos para nos  abraçar e aconchegar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A inteligência e o coração

"Não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, mas o coração tem que a suportar humildemente."

Agustina Bessa-Luís, 
escritora, (1922-2019)


Em ESCRITO NA PEDRA, 
no PÚBLICO

Escolhe a vida, diz Jesus, mesmo que te custe

Reflexão de Georgino Rocha para o Domingo XXVI do Tempo Comum

Qualquer estorvo pessoal que impeça entrar na vida deve ser eliminado. A preocupação de Jesus é que todos estejam livres para aderirem à sua proposta de felicidade, ao seu projecto de salvação, ou, dito com palavras bíblicas, ao reino de Deus.

A escolha da vida é a opção certa. Mesmo que muito custe. Jesus di-lo claramente, aos discípulos recorrendo a exemplos contundentes. E nós vemos situações que o comprovam. Se um membro do corpo humano constitui ameaça séria à vida, tem de ser amputado; de contrário, os riscos de morte podem ser iminentes. A sabedoria popular e as ciências médicas confirmam este modo de proceder: salvar a vida terrena, ainda que se percam bens muito valiosos e apreciados. Quanto mais a vida eterna. Mc 9, 38-43.47-48
O Papa Francisco exorta-nos a que nos lembremos “sempre que construir o futuro não significa sair do hoje que vivemos! Pelo contrário, o futuro deve ser preparado aqui e agora…” E que na “carta encíclica Fratelli tutti/Todos Irmãos, deixei expressa uma preocupação e um desejo, que continuo a considerar importantes: «Passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta. No fim, oxalá já não existam “os outros”, mas apenas um “nós”» (n. 35).

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

ROSSIO - Palmeira vestida

 


No Rossio, em Aveiro, há 10 anos, houve uma iniciativa curiosa. Quem aprecia, pode concluir que a ideia visou proteger a Palmeira do frio ou do calor. A sua altura, um pouco fora do comum, talvez tenha justificado a proteção. Ou não passou de uma forma de tornar mais belo e mais acolhedor o ambiente?

NOTA: O que aconteceu pode ser visto aqui 

As nuvens fascinam-me




As nuvens fascinam-me, vá-se lá saber porquê. Até sabia os seus nomes de cor, mas isso já lá vai. Quando era miúdo, habituei-me a ver os mais velhos a olharem fixamente o céu para depois prenunciarem chuva ou vento, mais hora menos hora. E julgo que a maior parte das vezes acertavam. Ainda me entretinha com amigos a descobrir monstros e outras figuras que as nuvens exibiam para nosso regá-lo. Mas também é verdade que alguns não tinham olhos nem imaginação para ver seja o que for.
Ainda agora não me canso de apreciar as nuvens que se exibem paradas, umas, e apressadas, outras. E com este bailar das nuvens, espetáculo em permanente mutação, num céu azul, consigo, tantas vezes, a serenidade que me enriquece o dia.