1. “Se não tens nada que fazer, não me chateies, vai à missa.” Reagir assim, em dia de semana, era o modo bem-educado de quem recusava o uso de palavrões, muito frequentes, na aldeia em que nasci. Importa lembrar que a prática religiosa pautava os momentos mais marcantes do dia. O sino tocava de manhã, ao meio dia e ao fim da tarde. As pessoas paravam e rezavam, estivessem onde estivessem. O chofer da camionete, que fazia a carreira de Braga a Terras de Bouro, tirava o boné quando passava diante de uma Igreja, da Cruz ou das Alminhas. A maioria das famílias rezava o terço, já cabeceando de sono, depois da ceia. Faltar à missa ao Domingo era considerado pecado, a não ser que fosse por razões de força maior, como a doença ou a velhice. Isto era naquele tempo.
Por muitas e variadas razões, tudo mudou naquelas aldeias serranas, em progressiva desertificação, especialmente nas situadas acima da estrada romana, a Geira. A dificuldade de alguns párocos entenderem que as metamorfoses dos valores também afectam as práticas religiosas não os ajuda a entender certas atitudes da pouca juventude que resta. De qualquer modo, nada vence os romeiros de S. Bento da Porta Aberta e, no catolicismo português, Fátima é incontornável, embora ainda não possamos saber as consequências da pandemia que fez desse Santuário um deserto.