quinta-feira, 29 de abril de 2021

Parcialidade face à pobreza


Acácio Catarino
É bastante parcial o nosso combate à pobreza; tal parcialidade verifica-se no tipo de conhecimento desta realidade ancestral e nas respostas para a sua atenuação ou eliminação. Tal conhecimento processa-se, frequentemente, através de informação estatística, por vezes bastante complexa, baseada em recenseamentos, inquéritos e outras fontes; ele ignora ou menospreza habitualmente os dados estatísticos do atendimento social de proximidade e os dinamismos locais de procura de soluções.
Por outro lado, as respostas mais reconhecidas, para a atenuação e eliminação da pobreza, acham-se concentradas no Estado, em instituições diversas e no funcionamento da economia; menosprezam os esforços das pessoas empobrecidas, a entreajuda de proximidade e os processos de desenvolvimento local.
Se fossem tidos em conta os dados estatísticos do atendimento social de proximidade, não se conheceriam todos os casos de pobreza nem todos os esforços das pessoas empobrecidas para a vencer, uma vez que nem todas recorrem a esse atendimento; mas, provavelmente, atingir-se-ia um número considerável das mais graves, que complementaria os dados obtidos por inquérito; e, quanto mais estas estatísticas fossem consideradas, mais pessoas pobres recorreriam aos serviços de atendimento social. Se, para além disso, existissem processos de desenvolvimento sociolocal em cada freguesia, aumentaria o conhecimento das situações de pobreza conjugada com os respetivos processos de atenuação e eliminação.
O Papa Francisco, na encíclica «Fratelli Tutti», abordou este assunto chamando a atenção para a complementaridade da ação básica ou popular, da institucional e da estatal; defende que todas são necessárias para que se atinjam dois objetivos estratégicos: não excluir nenhuma pessoa necessitada; e aproveitar todas as potencialidades de solução (cf., em especial, os n.ºs. 78,169 e 186).

Acácio F. Catarino
Sociólogo, Consultor Social

NOTA: Transcrito de o "Correio do Vouga"

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