Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo V da Páscoa
O discurso da videira que a Liturgia nos apresenta neste domingo é feito na ceia de despedida, por ocasião da festa da Páscoa dos Judeus. Em linguagem simples e poética, familiar aos discípulos, Jesus prossegue os ensinamentos sobre a realidade profunda da sua união a Deus Pai e da relação entre aqueles que acreditam na sua mensagem. Recorre a uma imagem/alegoria tirada da vida agrícola – a da vinha – em que se destaca uma videira por ser única e autêntica, a verdadeira. E extrai, de forma singular, as “lições” que ela insinua, desvendando o seu sentido profundo. Jo 15, 1-8. Vamos saborear algumas dessas lições, destacando duas realidades fundamentais: A mãe e o padre.
Anne Marie, autora do comentário a esta alegoria, faz passar pela nossa imaginação o que acontece normalmente na boa vinha: A cepa e os ramos são inseparáveis; a mesma seiva os irriga e torna fecundos; as flores surgem na primavera; depois vêm as uvas e os cachos que serão transformados em vinho que alegra o coração humano e que a liturgia consagra na Eucaristia, fazendo-o sangue do Senhor derramado pela salvação de todos/as. Saboreemos esta relação profunda que dá sentido às nossas vidas. Deixemo-nos irrigar por ela. Vers dimanche.
Os discípulos, como homens da Galileia, estavam habituados a ver os cuidados a ter com cada vide, as podas e outras operações, a aguardar, em paciente espera, o tempo da vindima. A pertença dos ramos à videira é “o ponto de partida” para visualizar a união vital dos discípulos a Jesus. Ramos sem tronco que os suporte e sem seiva circulante que os irrigue, morrem na esterilidade. A união estreita entre ambos é garantia da circulação da seiva nutritiva que dará vida aos cachos de uvas apetecidas.
João, o autor da narrativa, explicita o alcance desta união, usando o verbo permanecer. Como o Pai está em Mim e eu estou no Pai, assim vós também – diz Jesus. E a partir desta comunhão única, afirma a realidade admirável da sua relação com os discípulos que aceitam viver fielmente a sua mensagem, que permanecem no seu amor. Paulo, ele mesmo bem “podado” nas suas viagens missionárias- recorre, numa das suas cartas, ao termo de “enxertia” para expressar esta mesma realidade. Pelo enxerto logrado, a cepa expande-se em rebentos de vida, em ramos de esperança, em frutos de alegria exuberante.
A Comissão Episcopal, por ocasião do Dia da Mãe, que ocorre neste domingo, dirige-nos uma mensagem, intitulada «A arte de ser mãe», e sublinha a necessidade de oferecer “um mundo aos filhos”, que seja “cheio de valores, de esperança e sonhos”. “Como ninguém, as mães são capazes de se doar, de perdoar, de compreender, de aceitar e não julgar”.
E prossegue: “As mães sabem que ser mãe não é ter, é ser. Ser-se quem se é nos filhos e pelos filhos. As mães são aquelas que amam antes de serem amadas. São aquelas que respondem antes de serem chamadas. São aquelas que beijam antes de serem beijadas. São aquelas que correm para o abraço esquecendo o cansaço”. A alegoria da videira constitui uma bela ocasião para avivarmos em todos/as «a arte de ser mãe».
Permanecer nele é ser-lhe fiel, estar unidos uns aos outros, como ele está com os seus discípulos, viver a missão que não tem fronteiras nem limites, a não ser os do tempo. Dando muito fruto, vos tornareis meus discípulos. E de que frutos se trata? Os mesmos que nos advêm da sua vida e dos seus ensinamentos. São frutos para os outros. A eficácia, o progresso e o êxito designam-se, no Evangelho, por espera activa, serviço generoso, simplicidade discreta, alegria confiante. O protagonismo a Deus pertence, e a nós a cooperação responsável, livre, inteligente.
“Pastores, próximos de Deus, ao bispo, entre vós e ao Povo de Deus”, recomendou o Papa Francisco na ordenação recente de nove padres, em Roma. Não fecheis os corações aos problemas. E vereis tantos, os problemas da gente: quando as pessoas vêm partilhá-los, perdei tempo escutando-as e consolando-as. A compaixão leva ao perdão, à misericórdia. Por favor, sede misericordiosos”. E exortou-os a viverem um “estilo de proximidade, estilo de compaixão, estilo de ternura”. Bons frutos da vinha do Senhor que é servida pela sua Igreja.
Pe. Georgino Rocha