sexta-feira, 31 de julho de 2020

Dai-lhe vós mesmos de comer

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XVIII do Tempo Comum


Resposta surpreendente que, vinda de quem vem, assume foros de directiva de acção. Resposta estranha dada na sequência de um pedido solícito e desabafo preocupado de um grupo de homens condoídos pela sorte da multidão. Resposta alternativa desconcertante face à evidência da situação e à previsão prudente do seu desfecho. E não era para menos! Mt 14, 13-21. 
A preocupação dos discípulos era explicável e coerente: a multidão com fome e sem alimentos de reserva nem locais próximos para os comprar; a noite a chegar e, com ela, os perigos da viagem e as restrições da lei; a paciência descontraída de Jesus, exteriormente voltado apenas para os doentes; a urgência crescente de uma solução eficaz. Por isso, decidem interceder junto do Mestre: Despede as pessoas, que arranjem de comer, que vão às aldeias onde é mais fácil comprar. Tudo muito coerente! 
Esta atitude contém a lógica embrionária do que virá a acontecer ao longo da história: a advertência lúcida de um mal eminente, o afastamento do outro e deixá-lo entregue à sua sorte, a quebra da solidariedade, o tranquilizar a consciência com o encaminhar do problema, o despedimento (até por causa justa), a satisfação sentida por haver cumprido a lei ( antes do anoitecer). Eles que se arranjem! 

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Eça na Costa Nova



… a Costa Nova – e eu considero esse um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente chalé Magalhães.

(Eça de Queiroz Entre os seus, 
Cartas Íntimas, 15 de Julho, 1893)

Apesar de ter retardado ontem o meu jantar até às nove da noite, não pude desbastar a minha montanha de prosa. Levar as provas para os areais da Costa Nova, não é prático – ó homem prático! Há lá decerto a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha – coisas essenciais para a inspiração – mas falta-me essa outra condição suprema: um quarto isolado com uma mesa de pinho. 

(Carta a Oliveira Martins, 1884)
:
Do livro "Imagens do Portugal Queirosiano", 
de Campos Matos, 1976 

Gafanha da Nazaré - Ria - Pôr do sol




Pôr do sol na Ria, Gafanha da Nazaré. Edição de Artur Delgado Lopes  

quarta-feira, 29 de julho de 2020

A paciência


A paciência, quando assumida, não faz mal a ninguém. Admito, até, que prolonga a vida. Há dez anos na Praia da Barra, Gafanha da Nazaré.

Estranhas sensações de um confinado

Sei, por experiência própria, que o confinamento, com as limitações que provoca, nos traz algumas angústias, por mais que queiramos fugir delas ou ignorá-las. Estamos no mundo, e disso damos graças a Deus, mas também estamos fora dele. Situação contraditória,  mas real. 
Vem isto a propósito dos amigos e conhecidos que vão morrendo, muitas vezes sem nos darmos conta e sem podermos acompanhar os familiares. Quando sabemos da partida para o seio maternal de Deus de muitos, resta-nos, pela fé que nos alimenta, evocar momentos vividos com eles. 
Ultimamente, tem crescido o número dos que faleceram. A todos os familiares, aqui fica uma palavra amiga, fruto da solidariedade que temos o dever de cultivar. 
Com alguns partilhei conversas, amizades, projetos e sonhos. E até entrevistei alguns:  







NOTA: Os seus funerais serão amanhã, 30 de Julho, às 14 horas, no cemitério da Gafanha da Nazaré. 

As avós

Eu sei que esta redação, enviada por amigo próximo, 
autêntica, ou elaborada por adulto com jeito para isto, 
tem muito de verdade. Por isso, aqui a partilho




terça-feira, 28 de julho de 2020

Agosto é mês de férias

Texto publicado neste dia há cinco anos
com oportunas alterações



Sabemos que há muitos portugueses que nem querem ouvir falar de férias. São, para eles, simples miragens. Mas haverá quem alimente e leve à prática o gosto de viver uns dias longe das rotinas do quotidiano. Contudo, para ambos os casos, ousamos avançar com algumas propostas que, minimamente, proporcionem descanso, descontração, reflexão e busca de novos desafios. 
Na certeza de que o otimismo precisa de ser cultivado e até acicatado, propomos algumas visitas, leituras, passeios e convívios, dentro das regras estabelecidas pelo Covid-19. A isto não podemos fugir. Sugerimos, no entanto, visitas a familiares e amigos doentes e conversas com filhos, netos ou com pais e avós, sem pressas, que durante o ano quase não há tempo para nada, como frequentemente ouvimos dizer.
E já agora, não perca as suas preciosas horas de lazer com programas sem nexo das nossas televisões, mas habitue-se a selecionar, em família, filmes e espetáculos que, pelo seu nível, nos enriquecem sobremaneira. O mesmo diremos das nossas rádios que têm perdido ouvintes em favor da televisão, sendo garantido que algumas mantêm programas carregados de interesse, em sintonia com dinâmicas próprias.