domingo, 17 de maio de 2015

Não é preciso ir à “terra santa”

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

"O segredo da simbólica da Ascensão 
é o Pentecostes, uma Igreja de saída 
que o Papa Francisco veio acordar"

Frei Bento Domingues

1. Quem se sentir desafiado por Jesus Cristo não deve ignorar que, para além da sua experiência vital e do conhecimento afectivo, tem de recorrer também aos estudos que ajudam a ler os escritos do Novo Testamento (NT) e os ziguezagues da sua influência, ao longo dos séculos. A não ser que se aposte na preguiça piedosa: quanta mais ignorância, mais devoção.
Os resultados da investigação histórica e os frutos da hermenêutica das configurações simbólicas, legadas pelas primeiras gerações cristãs, não devem servir apenas para compor as estantes das bibliotecas das faculdades de teologia.
O seu estudo livre e rigoroso será sempre o melhor remédio contra a manipulação de algumas censuras eclesiásticas, feita em nome da salvaguarda da fé. Só é possível acreditar, de modo decente, interpretando e dialogando com outras interpretações. Como já disse nestas crónicas, a defesa da tradição cristã não se faz com os métodos das indústrias de conserva. É vitalizada no confronto e no diálogo com os desafios de cada época, na diversidade dos povos, a partir dos guetos sociais e culturais criados pelos interesses financeiros e económicos da nova desordem do mundo. 

sábado, 16 de maio de 2015

Poesia para estes tempos

Resgate

Há qualquer coisa aqui de que não gostam
da terra das pessoas ou talvez
deles próprios
cortam isto e aquilo e sobretudo
cortam em nós
culpados sem sabermos de quê
transformados em números estatísticas
défices de vida e de sonho
dívida pública dívida
de alma
há qualquer coisa em nós de que não gostam
talvez o riso esse
desperdício.
Trazem palavras de outra língua
e quando falam a boca não tem lábios
trazem sermões e regras e dias sem futuro
nós pecadores do Sul nos confessamos
amamos a terra o vinho o sol o mar
amamos o amor e não pedimos desculpa.

Por isso podem cortar
punir
tirar a música às vogais
recrutar quem os sirva
não podem cortar o verão
nem o azul que mora
aqui
não podem cortar quem somos.

Águeda 23/12/2012
Manuel Alegre

Nota: Sugestão do caderno Economia do EXPRESSO


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Jesus coopera com os seus enviados

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


A ascensão do Senhor marca o início de uma nova fase, na realização da missão. Jesus passa a estar presente de outra forma Mc 16, 15-20. Uma série de expressões pretendem “dar rosto” a esta realidade. A nuvem – sinal de Deus – indicia o mundo novo em que o crucificado/ressuscitado “entra” definitivamente, a intimidade do Pai de que sempre participa, a proximidade invisível, mas interventiva, junto dos discípulos. A nuvem – sinal do homem que ergue o olhar e quer ver o céu – manifesta uma aspiração fundamental que se vive e realiza no tempo, atesta a tendência humana de cultivar o gosto do que se aprecia, suscita interrogações profundas que exigem respostas adequadas.
Outras expressões são o mandato missionário, as maravilhas que podem realizar os que acreditam, o sentar-se de Jesus à direita do Pai, evidenciado o reconhecimento da excelência do seu novo estatuto, a prontidão dos discípulos em assumirem o encargo apostólico, a garantia dada por Jesus de cooperação incondicional.

Mãe Terra e "ecomanidade"

Crónica de Anselmo Borges 
no DN

Anselmo Borges



1- No passado dia 27 de Abril, Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, inaugurou no Vaticano uma conferência sobre o meio ambiente, já no contexto da apresentação da nova encíclica papal sobre este tema, a publicar em fins de Maio, princípios de Junho. E Ban Ki-moon elogiou o Papa Francisco, que assumiu a liderança na luta pela preservação da natureza. Há hoje, disse perante líderes religiosos de várias confissões e assessores do Papa, grande consenso tanto entre líderes religiosos como entre cientistas no reconhecimento das alterações climáticas, que exigem por parte da humanidade um novo comportamento para "proteger o nosso meio ambiente: um urgente imperativo moral e nossos dever sagrado".
O secretário-geral da ONU acabou por repetir as advertências de Francisco: "Quanto às alterações climáticas, há um imperativo ético claro, definitivo e iniludível para actuar." "Para que as pessoas aprendam a respeitar a criação como um presente de Deus". Também neste domínio, Francisco quer seguir o exemplo do seu homónimo, Francisco de Assis, patrono dos animais e da natureza, que olhou para os seres da criação como irmãos, e espera que a sua encíclica contribua para que a humanidade toda tome mais consciência do seu dever de proteger a Mãe Terra, nomeadamente através das conversações sobre as alterações climáticas, em Paris, em Dezembro próximo.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Visitar idosos é o mínimo que podemos fazer

Visita a uma amiga 
no Lar de Idosos 
da Quinta do Rezende

Capela da Quinta do Rezende
Alguma e julgo que passageira dificuldade de mobilização de pessoa amiga, que não víamos há bons anos, levou-nos a passar por Pardilhó um dia destes. Tão condicionados por outras tarefas que nem tempo houve para visitar amigos e familiares, muito menos para olhar cantos e recantos de uma terra onde passámos muitas férias alegres e felizes. Um filho, que, como os demais, também nutre por Pardilhó saudades dia a dia revigoradas, tantas são as gratas recordações que alberga na sua memória, recomendou-me que me não esquecesse de fotografar a terra simpática dos seus ancestrais maternos. Não consegui, para além de duas ou três, registadas de fugida. Prometemos voltar, se Deus quiser.
Encontrada a amiga, a conversa nunca mais se esgotava. Nem fome nem sede nos incomodaram. Recordações de juventude, a vida vivida com sonhos atingidos e por atingir, o desgaste físico inevitável e porventura nunca esperado, que os anos só passam para alguns, nunca por nós, as doenças que nos limitam, alegrias que se sobrepõem às tristezas, de tudo um pouco passou no filme real realizado pela nossa ainda capacidade de criar. Promessas de continuar com novos capítulos...
O cenário teve por pano de fundo, no palco da nossa existência, o Lar de Idosos da Quinta do Rezende, onde fomos acolhidos por um dirigente, diretora técnica e demais funcionários com a lhaneza com que decerto costumam receber os convidados e familiares ou amigos dos que ali residem. 
Como nota curiosa, a responsável do Lar conseguiu localizar-nos e avisar-nos da presença da nossa amiga na instituição, ao aperceber-se do seu desejo de nos ver, coisa que não deve ter sido fácil, de tão parcas serem as referências que, entretanto, foi repescando. Aqui ficam os nossos agradecimentos. E prometemos voltar. 
No final, e já no regresso a casa, fomos meditando na alegria que demos a uma amiga sem filhos e com parentes longe de Pardilhó, terra que foi e é sua e dos seus antepassados. Radicada em Lisboa, nesta fase da vida voltou às raízes, atitude que consideramos muito positiva. E também percebemos que os idosos têm direito à amizade, à ternura, aos cuidados a todos os níveis e inerentes à dignidade da pessoa humana. Visitá-los é o mínimo que podemos fazer.

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Morreu B. B. King




Morreu B. B. King, uma lenda do blues. Em sua homenagem, a sua música, carregada de melodia e sentimento, vai hoje fazer-me companhia. Os melómanos jamais o esquecerão. Paz à sua alma, que a sua arte permanecerá connosco.

Ler mais aqui 

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Os Ílhavos na Grande Guerra

Presente sem passado 
não garante futuro com alma



A exposição “Os Ílhavos na Grande Guerra” de 1914-1918, patente no Centro Cultural de Ílhavo, é uma significativa homenagem aos combatentes que morreram e sofreram nesta “Guerra das Guerras”, na qual participaram 100 mil portugueses, 240 dos quais eram ilhavenses, mais concretamente, 207 de S. Salvador e 33 da Gafanha da Nazaré. Na altura, S. Salvador englobava as Gafanhas da Encarnação e Carmo, que não eram freguesias. Registaram-se 18 vítimas mortais do nosso concelho, sendo dez militares e oito civis da Marinha Mercante.
Escusado será referir a importância desta mostra que sublinha as causas e consequências da Primeira Grande Guerra do século XX, que deixou feridas abertas em muitos conterrâneos nossos, que carregaram, porventura, traumas em combatentes e familiares. Contudo, apraz-nos frisar que esta homenagem faz todo o sentido, no centenário da “Guerra das Guerras”, por trazer à tona memórias interiorizadas que fazem parte indelével do nosso ADN. Presente sem passado não garante futuro com alma. Daí que seja nossa obrigação recomendar uma visita à exposição, onde não faltam motivos para nos inteirarmos do que se passou realmente na guerra e para além dela. 

Um aspeto da exposição (Foto da CMI)

Quadros com resumos bem ordenados, nomes dos combatentes e dos que morreram no conflito, fotos de alguns deles e do próprio contingente português, fardas, capacetes e demais peças dos espólios militares e de uso pessoal, que algumas famílias preservam como recordações vivas, dão aos visitantes uma ideia, decerto pálida, mas digna, dos sofrimentos que as guerras alimentam no mundo. Há também vídeos com testemunhos de familiares, gravações multimédia e fotografias que ajudam a compreender o clima trágico da segunda década do século XX, cujas marcas se projetaram nas décadas seguintes.
Olhando as listas dos combatentes, é possível descobrir nomes e apelidos de antepassados de muitos de nós, o que constitui, indubitavelmente, surpresa para alguns visitantes, a quem recomendamos a oportunidade de ler com atenção as causas da guerra e as suas consequências, expostas em quadros que sintetizam bem o que se quis transmitir. 

Combatentes na Trincheira (Foto da CMI)
A euforia dos finais do século XIX — a “Belle Epóque” — com progresso tecnológico e económico escondia tensões e rivalidades entre as grandes potências que exploravam os países pobres, como se pode ler nos cartazes da mostra. Depois, quais bolas de neve, as tensões explodiram e o conflito armado generalizou-se. Instabilidade política, económica e financeira, censura nos jornais, sopa dos pobres, escassez de alimentos, emigração, inspeções militares regulares, a sensação de insegurança e a revolta entre o povo sofredor foram algumas das muitas consequências do conflito. 
A exposição, integrada na iniciativa promovida pela autarquia ilhavense de evocar o centenário da Primeira Grande Guerra, foi preparada pelo Centro de Documentação de Ílhavo (CDI). Exigiu estudo cuidado e buscas metódicas em diversos fontes, nomeadamente, Arquivos Geral do Exército, Histórico Militar, Histórico Ultramarino, Histórico da Marinha, Museu da Marinha, Museu do Ar, Museus Militares de Lisboa e Bragança, Liga dos Combatentes-Lisboa e Liga dos Combatentes-Núcleo de Aveiro, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Vista Alegre Atlantis. Uma preciosa ajuda veio de colecionadores particulares e de familiares dos combatentes.

Fernando Martins

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