Reflexão de Georgino Rocha
Georgino Rocha |
A ascensão do Senhor marca o início de uma nova fase, na realização da missão. Jesus passa a estar presente de outra forma Mc 16, 15-20. Uma série de expressões pretendem “dar rosto” a esta realidade. A nuvem – sinal de Deus – indicia o mundo novo em que o crucificado/ressuscitado “entra” definitivamente, a intimidade do Pai de que sempre participa, a proximidade invisível, mas interventiva, junto dos discípulos. A nuvem – sinal do homem que ergue o olhar e quer ver o céu – manifesta uma aspiração fundamental que se vive e realiza no tempo, atesta a tendência humana de cultivar o gosto do que se aprecia, suscita interrogações profundas que exigem respostas adequadas.
Outras expressões são o mandato missionário, as maravilhas que podem realizar os que acreditam, o sentar-se de Jesus à direita do Pai, evidenciado o reconhecimento da excelência do seu novo estatuto, a prontidão dos discípulos em assumirem o encargo apostólico, a garantia dada por Jesus de cooperação incondicional.
As maravilhas indicadas são acções que visam abrir caminho ao anúncio do Evangelho e credibilizar, de algum modo, a autoridade de quem as realiza. Constituem sinais antecipados do mundo novo que vai surgindo à medida que for desabrochando, entre nós, o reino de Deus. As forças do mal, simbolizadas na figura dos demónios, hão-de ser expulsas e destruídas, a fim de que possa brilhar a bondade e a beleza da criação e a fraternidade da humanidade inteira. E são tantas e tão grandes: A indiferença face a tudo, menos ao “eu” egoísta, a quebra da confiança interpessoal, a corrupção da honestidade em qualquer nível, a perversidade de certos mecanismos sócio-económicos, a idolatria do sucesso fácil e do prazer imediato, a miscelânea e neblina do religioso, a recusa programada da presença de Deus, na vida pública, a compreensão minimalista do ser humano reduzido à sua dimensão subjectiva.
As novas línguas, que os discípulos hão-de falar, brotam da escola do amor de doação e da multiplicidade dos seus gestos de serviço, da proximidade de ajuda a quem se pretende evangelizar, da aprendizagem das linguagens, da cultura em que a mensagem cristã se deve encarnar.
A imunidade face aos venenos mortíferos – e são tantos! - vem-lhes da fortaleza interior, da couraça da fé e da solidez da esperança, da energia vital do Espírito Santo que lhes é prometido. Com esta armadura de defesa, podem os que acreditam conviver com os que envenenam os circuitos da vida, da família e da sociedade, pegar, sem medo, em serpentes insidiosas que ferem de morte todos os projectos de promoção libertadora dos pobres sem força reivindicativa, sentir-se protegidos e revigorados no cumprimento do mandato recebido.
A cura dos doentes, fruto da oração e da imposição das mãos, é outra maravilha que manifesta a saúde refeita, a reintegração dos excluídos na comunidade, a recuperação do seu estatuto social e religioso, a integridade da vida saudável a ser apreciada por todos na mais sadia convivência.
Os discípulos partiram… e a missão continua. A novidade do Evangelho e os desafios da situação actual tornam mais premente a urgência de lhe dar seguimento fiel, corajoso, alegre e confiante. O Senhor está presente e coopera, como só ele sabe fazer. Que bom poder comunicar esta boa nova a toda a criatura!