sábado, 14 de dezembro de 2013

Só os poetas...

«Só os poetas estão por dentro dos dias e das noites e ouvem o silêncio das mil tessituras. Só eles veem as rosas a abrir e as raízes perdidas no húmus — minadas ou vigorosas.»

Cecília Sacramento 
No livro “Apenas uma luz inclinada

Francisco: a alegria do Evangelho (2)

Anselmo Borges


O Papa Francisco é hoje, senão a figura mundial mais popular, uma das mais populares e influentes. Como escrevi aqui na semana passada, a sua recente exortação apostólica "A alegria do Evangelho", em que traça os caminhos fundamentais do seu pontificado, foi objecto de imenso interesse e análise por parte dos media mundiais de referência. E fizeram-no sobretudo na parte dedicada à situação económico-financeira e social do nosso mundo.



“Ide contar o que vedes e ouvis”


IDE CONTAR A JOÃO

Georgino Rocha 


Assim começa a resposta que Jesus dá aos enviados de João. “Ide contar o que vedes e ouvis”. João estava na cadeia onde chegam notícias contrastantes com o que havia anunciado. E tem dúvidas, como é normal. Quer esclarecer e procurar a verdade. Não deixa que a cadeia lhe aprisione o espírito nem limite a liberdade. Não deixa adormecer a pergunta inquietante nem se inibe face ao preconceito que mina a confiança. Fiel a si mesmo, honesto e decidido, quer saber e encarrega os seus discípulos de buscarem a resposta desejada. Que belo exemplo nos dá!

O contraste é claro. João anuncia o reino prestes a chegar e urge a conversão com palavras duras, metáforas de amedrontar as “raças de víboras”, invectivas fortes aos palradores que “dizem e não fazem”, ameaças terríveis de castigos iminentes, apelos gritantes ao arrependimento e à correspondente mudança de atitudes. O “juízo de Deus” vai iniciar-se.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Natal - Eram os convidados de honra


«A noite de Natal. A ceia. A aproximação do acontecimento, a repetição sempre apetecida, igual e nova, o diferente que pairava e nos invadia e ficava a agitar-nos como um vento bom. A grande sala de jantar repensada desde os primeiros dias de Dezembro, limpa do tecto às frinchas do soalho, sob a fiscalização da Avó, que já sabia de cor os sítios mais vulneráveis, entre as frinchas que iam de lado a lado, ao comprido das tábuas, na juntura, muito penetradas pela piaçava, rija, a escovar o mais fundo possível, metia-se a vassoura no balde, esfregava-se-lhe o sabão, “é preciso que a água com o sabão entre abundante na frincha e seja arrastada com o rasar da piaçava, para com ela vir todo o lixo”, dizia ao ensinar, depois o pano apanhava-o, depois passava-se por água limpa, constantemente renovada, o pano limpava, por fim, muito espremido, e a madeira ficava repousada, amarelinha e seca, quase. Esta, a última fase da limpeza, todo o resto fora metodicamente executado de cima para baixo e, por fim, podia-se respirar o ar cheiroso a lavado fresco.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

NATAL

NATAL: Uma Alegria que vem de dentro


Não recorras ao que já sabes do Natal,
mas coloca-te à espera
daquilo que de repente em teu coração
se pode revelar

Não reduzas o Natal ao enredo dos símbolos

tornando-o um fragmento trémulo sem lugar
no concreto da vida

Não repitas apenas as frases que te sentes obrigado a dizer

como se o Natal devesse preencher um vazio
em vez de o desocultar

Não confundas os embrulhos com o dom

nem a acumulação de coisas com a possibilidade da festa:
o que recebes de graça
só gratuitamente poderás partilhar

Cuida do exterior sabendo que ele é verdadeiro

quando movido por uma alegria que vem de dentro

Uma só coisa merece ser buscada e celebrada, uma só:

o despertar de uma Presença no fundo da alma

Por isso o Natal que é teu não te pertence

Só a outro o poderás pedir.

José Tolentino Mendonça


NOTA: Publica no Semanário Ecclesia

- Posted using BlogPress from my iPad

Um dia no Hospital de Aveiro

A Lita já está em casa a olhar a vida



Ontem, 11 de dezembro, foi um dia para esquecer. Uma queda de minha mulher, a Lita, num estabelecimento comercial de Aveiro, levou-a a ser tratada nas Urgências do Hospital Infante D. Pedro. Ainda necessitou de ser observada no Hospital de Coimbra, mas, felizmente, já está a descansar em casa. Um dia cheio de preocupações que deu para perceber que a solidariedade não é sentimento vão. O proprietário do estabelecimento apressou-se a ir ao Hospital e telefonou-me depois com compreensível  pena pelo que se passou, oferecendo os seus préstimos para o que fosse necessário.  A solidariedade existe, de facto, a vários níveis, mas raramente é notícia. O normal da bondade humana, mesmo no que diz respeito a servidores públicos, nomeadamente, médicos, paramédicos e demais funcionários, passa-nos ao lado. Mas ela existe, realmente.
Ontem vivi, de lado, a azáfama dos corredores das Urgências, com macas por todo o lado, sem que tenha havido qualquer catástrofe a justificar a afluência de doentes, sobretudo idosos, uns esperando pacientemente a sua vez de serem atendidos, outros impacientes,  e um até gritou, bem alto, que estava vivo!
Penso que todos sonhamos e exigimos médicos e enfermeiros ao nosso lado e na hora de uma dor cuja causa não descortinamos. Mas isso não é possível. Haverá médicos e enfermeiros a menos para o volume de doentes que recorrem aos serviços de saúde, mas o que contemplei foi um ambiente de entrega absoluta, cuidada, atenta, responsável e até com sorrisos animadores na face sobrecarregada de trabalho. Também contemplei gente que protesta por tudo e mais alguma coisa, em jeito de descontentamento,  talvez motivado pela angústia. Porém, nem assim, os funcionários deixaram de  acolher todas as pessoas com solicitude. 
Infelizmente, o bem é normalmente não-notícia,  e qualquer falha, por mais simples que seja, ocupa na comunicação social espaço em caixa alta e letras gordas. Acho que todos teremos de reformular, pela positiva, a nossa visão do mundo em que vivemos. Mundo cheio de coisas boas que, na balança de pratos iguais, vão muito ao fundo, subindo em flecha a realidade das coisas más. Estarei a ser injusto? Julgo que não.
Com a Lita combalida, mas já por aqui a olhar a vida, até me apeteceu ouvir a IX Sinfonia de Beethoven. Grande música para um feliz momento.
Muita saúde para todos.

Fernando Martins



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

José António Pinto deixa medalha no Parlamento

UMA LIÇÃO DE COERÊNCIA

José António Pinto deixou esta tarde na Assembleia da República a medalha de ouro comemorativa do 50º aniversário da declaração Universal dos Direitos Humanos, que lhe tinha sido entregue como reconhecimento pelo seu trabalho no Porto. O assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã afirmou que trocava a medalha por outro modelo de desenvolvimento económico. A sala irrompeu em palmas e ainda ouviu José António Pinto instar os governantes a estancarem "imediatamente este processo de retrocesso civilizacional que ilumina palácios, mas ao mesmo tempo deixa pessoas a dormir na rua".