sábado, 28 de março de 2009

A religião e a crise económica

Raramente se terão utilizado tanto como agora termos essencialmente religiosos. Repare-se. O que faz falta? Crédito. O que é preciso estimular? A confiança. Precisamente confiança vem do latim fides, que dá fé, fiar-se de, confiar em. O crente é aquele que tem fé, que confia, que se entrega confiadamente a Deus. E crédito vem de credere, donde procede crer, acreditar e credo. No domínio religioso, crer e acreditar significam entregar-se a Deus com confiança. A pergunta é: e Deus tem crédito, merece o nosso crédito? Uns acham que sim e outros que não. De tal modo que uns acreditam e outro não. Porque é preciso dar razões, justificações para crer. Como os bancos não concedem crédito, quando não há confiança. Os crentes religiosos são frequentemente acusados de apenas se interessarem pelo Além feliz, abandonando este mundo do aquém ao seu fracasso e sofrimento. Mas isso não é verdade, concretamente quando se fala do cristianismo. Quem lê os Evangelhos com olhos de ver, constatará que Jesus não começou por pregar esse Além feliz. Anunciou o Reino de Deus, que, traduzido em linguagem compreensível, é, pelo menos, o mínimo humano decente para todos, já aqui e agora. Porque ninguém pode acreditar na realização plena do Reino de Deus, em Deus e com Deus, se não houver sinais dele na existência presente, aqui e agora. Por isso, Jesus começou por interessar-se pelo bem-estar das pessoas, pela comida, pela sua saúde. Segundo o Evangelho de S. Mateus, o Juízo Final tem como critério de julgamento dar de comer e de beber aos que precisam, vestir os nus, tratar dos doentes. Um corpo faminto, sedento e doente, independentemente da religião, sexo, cor ou raça, é o lugar do encontro com o Infinito. Foi através destes sinais em acção, incluindo o perdão e a fraternidade, que os discípulos fizeram a experiência de que Deus é amor e acreditaram em Jesus e no seu Reino, já iniciado e que esperaram havia de encontrar a sua consumação na plenitude dos tempos. O Além não pode ser mera compensação ideológica para a frustração do presente. Jesus colocou-se na tradição profética do Deus que não tolera a exploração do pobre. Ai dos "que vendem o justo por dinheiro e o pobre por um par de sandálias!". "Ai de vós os que juntais casas e mais casas e que acrescentais campos e mais campos até que não haja mais terreno e fiqueis os únicos proprietários em todo o país! As vossas múltiplas casas serão arrasadas e os palácios magníficos ficarão desabitados". No Novo Testamento, na Primeira Carta a Timóteo, lê-se que "a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições". Depois de se meditar nas causas que levaram à presente crise económico-financeira, mais dificilmente se porá em causa esta advertência. Foram de facto a ganância, as fraudes e a irresponsabilidade sobretudo dos mais poderosos que trouxeram a crise, dramática para os pobres, que se vêem roubados da sua dignidade de seres humanos. Num texto célebre de há quinhentos anos - tradução um pouco livre -, já Martinho Lutero se queixava desta desgraça: "Quando hoje olhamos para o mundo através de todas as camadas sociais, constatamos que não passa de um grande, de um enorme covil cheio de grandes ladrões... Aqui, seria necessário calar quanto aos pequenos ladrões, para atacar os grandes e violentos, que diariamente roubam não uma ou duas cidades, mas a Alemanha inteira... Assim vai o mundo: quem pode roubar pública e notoriamente vai em paz e livre e recebe aplausos. Em contraposição, os pequenos ladrões, se são apanhados, têm de carregar com a culpa, o castigo e a vergonha. Os grandes ladrões públicos, porém, devem saber que perante Deus são isso mesmo: os grandes ladrões." Depois, nesta situação, se a Justiça não funcionar e for dura para os pequenos e branda ou nula para os grandes, o que pode esperar-se é o aumento crescente da impotência e da frustração, desenhando-se no horizonte focos de revolta de consequências imprevisíveis. Sobretudo se forem explosões irracionais de raiva sem para quê. Anselmo Borges In DN

sexta-feira, 27 de março de 2009

Mudança da Hora

No próximo Domingo, 29 de Março, vamos ter de adoptar a hora de Verão. Os nossos relógios vão ser adiantados 60 minutos. Segundo o Observatório Astronómico de Lisboa, esta mudança deve ser feita à 1h00 no continente e na Madeira e às 00h00 nos Açores. Depois, no último domingo de Outubro, dia 25, voltaremos à hora de Inverno.

Um poema de Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive. Fernando Pessoa

O FIO DO TEMPO

Jorge Sampaio
É Futebol? Não levemos a sério!
1. Do Brasil Jorge Sampaio mostra-se surpreendido como nos últimos dias as notícias em Portugal têm sido a questão do anda e desanda do Provedor de Justiça e o assunto do famoso penalty do fim-de-semana passado…! Se é certo que a notícia é alimentada pelos órgãos de imprensa, que com mais polémica mais vendem, também é verdade que tudo isto acaba por ser símbolo da mentalidade portuguesa. Essa transferência (sem milhões!) do entretenimento para um plano tal como se fosse o essencial de um país dá muito que pensar. Nem sequer valerá a pena dizer-se que em tempos de crise temos de nos distrair com alguma coisa de supérfluo para pensar menos e relaxar mais… não, esta capacidade de elevação do “pormenor” ao patamar de assunto nacional é muito típica nossa… Faltar-nos-á um lastro saudável de humor? Alexandre Cruz

POR VOSSA CAUSA

Esta afirmação resume, de modo feliz e interpelante, a explicação dada por Jesus a propósito do que estava a acontecer num encontro em Jerusalém: uma voz semelhante a um trovão faz-se ouvir, a multidão inquieta e perplexa tenta uma explicação, Jesus anuncia a chegada da hora da sua glorificação, o pedido dos peregrinos gregos é satisfeito de modo exemplar e significativo. Servem de mediadores Filipe e André que escutam, acolhem e encaminham o desejo destes peregrinos. Por vossa causa, abre Jesus o seu coração, comunica sentimentos, manifesta perturbação e angústia, parece hesitar na decisão tomada, reafirma a opção feita de, por amor, ir até ao fim. Revela-se tão humano na provação e na debilidade. Tão generoso na ousadia e na confiança. Que exemplo para quem assume a vida com honradez e seriedade! Por vossa causa, ecoa a voz que sintoniza com a prece de Jesus e manifesta o sentido profundo e realista daquela experiência de aflição de morte, desvendando a presença discreta de Deus Pai. Uma voz se faz ouvir na confusão de tantas vozes da multidão. Ontem como hoje. Importa saber escutar o que diz a voz da verdade inteira e não ficar com meias verdades, ainda que nos custe. Só a verdade gera a liberdade. Por vossa causa, chega a hora de Jesus manifestar o seu amor por nós, amor mais forte do que a morte, sobretudo quando esta é acompanhada de falsas acusações, insultos e afrontas que visam degradar o estatuto social do condenado e vilipendiar a sua memória junto dos conterrâneos e transeuntes. Também para nós, chega a hora de amar sem restrições nem adiamentos, dando preferências aos que “sofridos da vida”, os desiludidos e desencantados. Por vossa causa, fica lavrada a sentença de avaliação definitiva dos nossos comportamentos actuais: salva-se quem ama e é coerente em acções de bem-fazer; perde-se quem é egoísta e faz valer os seus interesses individuais. Estamos em auto-avaliação contínua. O método e os critérios são claros; As estratégias bem definidas. Os protagonistas somos nós, cada um por si e todos em solidariedade. Georgino Rocha

Idosos com ritmo

No Jardim Oudinot há espaços para tudo. Para passear, para descansar e até para ginástica rítmica, ao som da música. O filme não tem grande qualidade, mas dá para ajudar a perceber o que eu afirmo.

Jardim Oudinot já com animação

Com a chegada da Primavera, que afugentou o frio e a chuva, posso garantir que o Jardim Oudinot retomou a sua vida. Hoje, com um sol esplendoroso, pude constatar isso mesmo. Nem chuva, nem frio e nem vento me incomodaram, nem incomodaram quem por lá passeou e se divertiu. Crianças de uma escola da Gafanha da Nazaré, com os seus professores e empregadas, por ali andaram, com a alegria e a liberdade que a temperatura muito agradável permitiu. Apreciaram a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, que é o templo mais antigo das Gafanhas, e jogaram, com a boa disposição que os ares da maresia suscitam em toda a gente. Um grupo de idosos, perto do navio-museu Santo André, dançava, ritmadamente, ao som de música que todos conhecemos e sob as orientações de uma professora, que a todos contagiava com a sua boa forma física e com o seu entusiasmo. Na laguna, pescadores andavam na safra, enquanto lanchas e traineiras passavam, acompanhadas pelas gaivotas que miravam as águas na busca de algum peixe que saltasse. Gostei de ver o ambiente que ali já se faz sentir e que prenuncia um Verão muito vivo, que para nós vem a passos largos. FM