Uma reflexão de José Tolentino Mendonça,
poeta, pensador e cardeal,
publicada na Revista E do EXPRESSO
deste fim de semana
poeta, pensador e cardeal,
publicada na Revista E do EXPRESSO
deste fim de semana
A necessidade de parábolas
Um dado curioso, no atual contexto, tem sido a necessidade de encontrar parábolas. Sem chaves interpretativas para lidar interiormente com a situação presente, assiste-se a uma corrida a alguns textos clássicos capazes não só, por comparação, de ilustrar aquilo que vivemos, mas também de nos fornecer ferramentas narrativas para podermos contar, a nós próprios e uns aos outros, o que está a acontecer. Que, de uma hora para outra, tenham voltado ao top dos livros mais vendidos, em alguns países, “A peste”, de Albert Camus, ou “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, não deixa de ser um elemento significativo.
O texto de Saramago, uma poderosa e escuríssima parábola moral, cuja escrita ele próprio descreveu como das mais dolorosas experiências por que passou (“são 300 páginas de constante aflição” ), está repleto de termos que se impuseram recentemente ao jargão dos nossos quotidianos: epidemia, infeção, quarentena, medidas de coerção, debate ético sobre o valor da vida, carência, medo e compaixão. Mas não só as palavras como que ultrapassaram o estrito campo da ficção e se infiltraram no nosso domínio histórico. Saramago encena ali, com genial agudeza, os fantasmas e os pesadelos que temos de fazer tudo para evitar. Porque, não nos enganemos, tudo pode ser sempre pior. Nesse sentido, o seu romance permite uma leitura preventiva em relação à realidade.
Ler todo o texto aqui