sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Resposta pronta a Jesus que chama

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo da Palavra de Deus, 
III do Tempo Comum

“Precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura"

Papa Francisco 

“Imediatamente” é a expressão usada no Evangelho de Mateus para indicar a reacção dos irmãos Pedro e André, pescadores do mar da Galileia, ao apelo/convite de Jesus para o seguirem. O mesmo acontece a outros dois irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu. “Vinde e segui-me”, diz-lhes Jesus indicando o que pretendia confiar-lhes: serem pescadores de homens, libertos da estreiteza da faina enredada e abertos à largueza dos horizontes da missão itinerante. - Mt 4, 12-23.
A que se deverá esta prontidão? À vontade de aliviar o cansaço da rotina sem futuro, à fama incipiente de Jesus, em Cafarnaum, à novidade da mensagem anunciada na pregação, ao desejo secreto do coração humano sempre inquieto na busca da verdade e do bem, ao olhar penetrante de Jesus e à força convincente do seu apelo? Será difícil apontar uma razão objectiva, mas o narrador do episódio destaca que “Jesus viu” e, assim, despertou energias adormecidas e motivou decisões ousadas.
“Precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura, afirma o Papa Francisco na Carta Apostólica em que institui o Domingo da Palavra de Deus que hoje ocorre; caso contrário, o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira”.
Que alegria não sentiria Jesus ao ver-se correspondido! Ele que havia deixado Nazaré por ouvir dizer que João, seu primo, tinha sido preso e, quem sabe, temendo que algo semelhante lhe acontecesse. Ele que sentia a ressonância da sua recém iniciada actividade pública de anunciar a chegada do Reino e a necessidade da conversão. Ele que sonhava com a constituição de um grupo de discípulos e manifestava a preocupação de lhes proporcionar uma formação adequada a fim de serem os que, em seu nome, haviam de ser luz para o povo que vivia nas trevas. Escolheu-os “para estarem com Ele e para os enviar a pregar”.
Na citada Carta Apostólica, adianta o Papa: “É profundo o vínculo entre a Sagrada Escritura e a fé dos crentes. Sabendo que a fé vem da escuta, e a escuta centra-se na Palavra de Cristo (cf. Rm 10, 17), daí se vê a urgência e a importância que os crentes devem dar à escuta da Palavra do Senhor, tanto na ação litúrgica, como na oração e reflexão pessoais”.
“Imediatamente” é palavra estranha no mundo de hoje, apesar das pressas em que todos andam, do zapping saltitante, do apreço pelo efémero e pelo instante. Não é ao nível do corre-corre imponderado que os discípulos reagem; mas do impulso profundo, do desejo espontâneo, do cuidado solícito, da aventura partilhada, da nova experiência intuída e desejada. E, como Jesus, deixam tudo e põem-se a caminho. Querem seguir os seus passos de missionário itinerante, rumo a cidades e aldeias, onde o povo aguarda pacientemente a luz da esperança e da alegria.
“É fundamental, insiste o Papa, depois de ter feito várias advertências sobretudo em relação à homilia bíblica, que se faça todo o esforço possível no sentido de preparar alguns fiéis para serem verdadeiros anunciadores da Palavra com uma preparação adequada, tal como já acontece habitualmente com os acólitos ou os ministros extraordinários da comunhão”.
A atitude dos discípulos espelha o modo do Senhor Jesus proceder connosco: Pensa em nós, faz-se próximo, provoca o encontro, identifica as pessoas que conhece pelo nome, vê o seu coração/consciência e acredita na sua bondade, lança-lhes o apelo: “Vinde Comigo”. Foi assim com os discípulos hoje nomeados. E com Paulo que de perseguidor se faz apóstolo. É assim ao longo da história. Também hoje continua a chamar-nos. A sua palavra não pode estar presa nem ser silenciado. Testemunha-o o sangue dos mártires e a fidelidade de milhões de cristãos que nesta fase de mudança e provocação permanecem firmes na fé sabendo em Quem acreditam.
“Vinde Comigo”. E eles, deixando tudo, seguiram-no. Belo exemplo, admirável apelo!

Pe. Georgino Rocha

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