Elogio a quem agradece
Georgino Rocha |
O elogio surge da boca de Jesus numa povoação onde passava a caminho de Jerusalém. Com ele, iam os discípulos desejosos de colher os seus ensinamentos. Sai-lhe ao encontro um grupo de dez leprosos que, em voz alta, imploram a sua compaixão. Jesus põe-nos à prova, encaminhando-os, de acordo com a Lei judaica, para os sacerdotes. E não diz, nem faz mais nada. No percurso, acontece a maravilha da cura. O grupo continua a viagem; mas um não, e regressa junto de Jesus para lhe expressar a gratidão pelo benefício alcançado. E este era estrangeiro, samaritano, de outra etnia cultural e religiosa, excluído das bênçãos prometidas aos Judeus.
Ao ver o sucedido, Jesus toma a palavra, censura o grupo pela falta de reconhecimento e pela ingratidão, fazendo ao mesmo tempo o elogio de quem, espontaneamente, vem à sua presença, dando glória a Deus em voz alta e assumindo atitudes de profunda humildade e agradecimento. Depois diz a este homem: “Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou”.
Os discípulos não participam no diálogo, apenas testemunham o facto tão contrastante com o preceituado na Lei. E certamente, como ocorre em outras ocasiões, ficam perplexos e pedem explicações. E não era para menos! Com eles, também nós precisamos de compreender o que está contido na cura dos 10 leprosos e colher a mensagem que Jesus quer transmitir.
A salvação é oferecida a todos, sem qualquer excepção. Salvação que abrange a pessoa toda: sensibilidade e razão, corpo e espírito, vida privada e pública, saúde e doença, tempo e eternidade. Salvação que se expressa na harmonia do ser em si mesmo, na boa relação com os outros, no uso correcto dos bens materiais, culturais e espirituais, no acolhimento e resposta a Deus, fonte primeira da vida e herdeiro único da humanidade.
A gratidão brota espontânea do coração sensível e fiel. É fruto do reconhecimento do benefício recebido, da dignidade alcançada, da pertença integradora restabelecida, da capacidade de andar “erguido” na vida, da valoração da fé alicerçada no encontro com Jesus Cristo na presença dos seus discípulos. A gratidão reveste muitas modalidades: dizer um obrigado oportuno ou um bem-haja sincero; fazer um gesto amigo e benfazejo; reunir-se em grupo ou assembleias e festejar eventos comuns; dar parabéns merecidos; celebrar as maravilhas de Deus realizadas por Jesus Cristo a nosso favor. É neste contexto que se situa a eucaristia e a importância de tomar parte na celebração/missa dominical.
Educar para o agradecimento merecido e viver em atitude de gratidão justa fazem parte da nossa comum humanidade, da cidadania cívica, do conviver respeitoso em sociedade, do viver a fé cristã em Igreja espelho e meio qualificado do agir de Jesus Cristo.
Georgino Rocha