VAI E FAZ O MESMO
«Vai e faz o mesmo porque o amor de Deus envolve necessariamente aqueles que Deus ama, sem distinção de género ou de raça; percorre os seus caminhos de aproximação e serviço; reveste os seus sentimentos de ternura e misericórdia; faz-te voluntário e envolve-te em todas as causas dignas da condição humana; doa-te, por inteiro, com os teus bens, o teu tempo, as tuas capacidades de relação e influência.»
Georgino Rocha
Esta exortação assertiva, clara e interpelante, surge na parábola do samaritano narrada por Jesus como resposta ao mestre de leis preocupado com o sentido da vida e com os meios a usar para alcançar a vida eterna; decorre, como consequência lógica e coerente, do amor a Deus e ao próximo, síntese de todos mandamentos, como bem acentua o jurista inquieto e desejoso de acertar na solução do futuro; comporta uma orientação fundada e constitui um guia seguro de atitudes e comportamentos para o relacionamento das pessoas em sociedade, sobretudo em situações de especial necessidade; destaca a importância da rede de cuidados e da cooperação entre os intervenientes; apresenta um dos traços mais fortes da identidade dos discípulos/cristãos e define a marca mais vigorosa do seu testemunho público.
Vai e faz o mesmo porque o amor de Deus envolve necessariamente aqueles que Deus ama, sem distinção de género ou de raça; percorre os seus caminhos de aproximação e serviço; reveste os seus sentimentos de ternura e misericórdia; faz-te voluntário e envolve-te em todas as causas dignas da condição humana; doa-te, por inteiro, com os teus bens, o teu tempo, as tuas capacidades de relação e influência.
Vai e faz o mesmo, sente-te em viagem, portador de outros sonhos e peregrino de outras “terras”, observa a realidade por onde passas, adverte nas rotinas da vida e nas surpresas das ocorrências, aproxima-te sem medo nem inibição do estranho inesperado, identifica-o não como uma coisa, mas como um ser humano desfeito pelos golpes dos assaltantes, presta-lhe os primeiros socorros até mesmo com aquilo que te pode fazer falta, não gastes tempo em lamentações estéreis e inoportunas.
Vai e faz o mesmo, levanta-o no corpo e no espírito, tem em conta o seu ritmo e doseia o teu passo, acompanha-o e faz-te seu fiador junto de quem vai continuar o tratamento e ajudar a fazer a recuperação. Não permaneças junto dele mais tempo do que o necessário, mas dá-lhe espaços de liberdade. Garante-lhe presença amiga e protectora enquanto precisar. Depois é indispensável que volte a ganhar confiança em si mesmo, a estabelecer relações humanas solidárias, a situar-se na vida de forma responsável, a ajudar a remover as causas que provocam situações semelhantes à que o ia vitimando.
Jesus ao narrar a parábola do samaritano está a fazer, de algum modo, o seu autorretrato. Ele é o amor de Deus pela humanidade e do homem para com o seu próximo. Ele percorre os caminhos da vida, expressos de modo eloquente na subida a Jerusalém. Ele é assaltado e trucidado pelos seus algozes. Ele morre e é ressuscitado expressando a vida nova, eterna e feliz, que o mestre de leis procura e que já se vai saboreando em sentimentos e gestos como os do bom samaritano.
Vai e faz o mesmo. Que as perguntas do espírito humano encontrem respostas cheias de sentido integral e coerente.
Georgino Rocha