Dia do Agricultor - 13-07
"A agricultura aqui (em Portugal)
é a arte de assistir impassível
ao trabalho da natureza."
Eça de Queirós
«Mudar é próprio das pessoas inteligentes! E... lá diz o povo: “A quem muda, Deus ajuda!”
A vida ao ar livre descongestiona o cérebro e permite o recarregar de baterias, sem a incómoda e onerosa deslocação ao ginásio. Deambular à sombra retemperadora dos pinheiros, regar uns pés de alface, couve galega, pepinos ou pimentos e contemplar os tomates a avolumar-se sob o olhar lascivo das curgetes...é um exercício que retempera a alma e promove a saúde física e mental, “Mens sana in corpore sano!”
A sinfonia em “lá maior”, ali... no bosque ou na horta, orquestrada pelo canto sensual das rolinhas, dos melros e de outras espécies ornitológicas, convida ao sonho, à evasão dum mundo marcado pelo ritmo alucinante da vida moderna.
Com o astro-rei a abençoar e fazer medrar todas as sementes de vida lançadas, neste ventre enorme que é a terra, temos uma réstia de paraíso... ao nosso alcance.»
M.ª Donzília Almeida
Videira mais feijão |
Ouve-se, de vários quadrantes, que a agricultura será o destino e a salvação do nosso país.
Uma atividade que teve o seu incremento até ao século XIX, tem vindo a sofrer uma decadência progressiva e a perder terreno, no plano económico nacional, mercê de políticas desajustadas e devastadoras, de submissão cega, aos ditames da UE.
Assiste-se, no entanto, nos dias de hoje, a um revivalismo da atividade agro-pecuária, que teve o seu embrião, precisamente nos meios urbanos.
Até a ficção portuguesa está a dar o seu contributo, retratando a vida rural, em todos os seus cambiantes e pitoresco, em horário nobre e no canal primordial!
Na cidade, nos espaços baldios ou degradados, emergiram alternativas à política do betão e à construção desenfreada e caótica.
A prática da agricultura urbana surge, assim, começando a ser um fenómeno mundial, com o crescimento das hortas, um pouco por todo o lado.
Uma mini-horta, pode fazer-se, inclusivamente, numa janela ou varanda, onde se podem cultivar várias ervas aromáticas. Quem, com ligação à natureza, não tem um vaso com salsa, mesmo vivendo num apartamento?
São as dificuldades resultantes, dos tempos de crise, que estimulam, nas pessoas, a procura de novos modelos de vida. Para além da poupança, do rendimento acrescido, sabemos que estamos a consumir produtos frescos e, sobretudo, biológicos! Estas e outras vantagens inspiram as pessoas e municípios a aproveitar os terrenos camarários e a requalificar os espaços urbanos desaproveitados, ou a cultivar o quintal e fazer uma hortinha em casa. O famoso kitchen garden dos Anglo-Saxónicos!
As hortas urbanas mobilizam pessoas e grupos de diferentes classes sociais e com perfis muito distintos, sendo procuradas pelas mais diversas razões. Contribuem para a segurança alimentar, pois conhece-se a origem dos alimentos e não se depende, só, dos supermercados. Servem como ocupação do tempo para várias faixas etárias, promovem a qualidade de vida e funcionam muitas vezes, como um processo terapêutico. Propiciam um convívio intergeracional e de integração social, levando à criação de um sentido de identidade e de comunidade, em vias de extinção, nas cidades.
No entanto, o impulso que o homem sente em relação à agricultura urbana não se confina ao desejo de obter produtos frescos, ou a economia doméstica. Tem as suas raízes mais profundas, num desejo visceral de escapar ao stress da grande cidade e retomar um misto de trabalho e lazer, em contacto direto com a natureza. O retorno à Aurea Mediocritas, preconizado por Horácio?
Curgetes mais tomateiros |
Foi nestes pressupostos que resolvi aderir (!?) ao grupo de “Jovens Agricultores”, usufruindo de um tipo de terapia holística, que tem por base o sentido bucólico, no contacto íntimo com a terra.
O apelo telúrico manifestou-se com mais intensidade, no meu retorno às raízes, à terra que me viu nascer. Primeiro, na jardinagem, depois numa abordagem mais intimista com a horta, ali, ao lado.
Perpassa pela minha mente, a candidatura (!?) a um subsídio a fundo perdido, integrado nos fundos comunitários da UE. Ideia peregrina? Quem sabe, a cultura intensiva de mirtilos a que muita gente se dedica no momento, com a bênção da nossa jovem e dinâmica ministra Assunção Cristas, não será uma alternativa, à cultura dos “nabos” que desempenho noutro ministério?
Os pré-requisitos de solo arenoso e com boa exposição solar estão confirmados, carecendo apenas de uma verificação do ph do terreno. Um amigo, engenheiro químico já está na calha!
O legado do Zé da Rosa, perpetuado num deslumbrante campo de flores miudinhas, brancas rosadas, como sininhos a anunciar a paz e bem-aventurança.
Mudar é próprio das pessoas inteligentes! E... lá diz o povo: “A quem muda, Deus ajuda!”
A vida ao ar livre descongestiona o cérebro e permite o recarregar de baterias, sem a incómoda e onerosa deslocação ao ginásio. Deambular à sombra retemperadora dos pinheiros, regar uns pés de alface, couve galega, pepinos ou pimentos e contemplar os tomates a avolumar-se sob o olhar lascivo das curgetes...é um exercício que retempera a alma e promove a saúde física e mental, “Mens sana in corpore sano!”
A sinfonia em “lá maior”, ali... no bosque ou na horta, orquestrada pelo canto sensual das rolinhas, dos melros e de outras espécies ornitológicas, convida ao sonho, à evasão dum mundo marcado pelo ritmo alucinante da vida moderna.
Com o astro-rei a abençoar e fazer medrar todas as sementes de vida lançadas, neste ventre enorme que é a terra, temos uma réstia de paraíso... ao nosso alcance.
M.ª Donzília Almeida