Uma sociedade mais justa
é possível e necessária entre nós
Hoje não me apeteceu celebrar a implantação da República no nosso País, que teve lugar há precisamente 99 anos. Só porque me lembrei do que aconteceu em Portugal, desde esse dia até ao 25 de Abril. No entanto, quem quer olhar o país e o mundo pela positiva tem de acreditar nos homens que dia a dia desejam construir um mundo melhor.
O Presidente da República, Cavaco Silva, exortou, em cerimónia significativa, à união em torno dos “grandes ideais republicanos”, sublinhando que esses ideais exigem um “esforço acrescido para a concretização da ética republicana e para a transparência na vida pública”. E isso mesmo devia levar-nos a acreditar que é sempre tempo de se iniciar o caminho da dignificação da nossa democracia, ligada quase há 100 anos ao regime republicano.
É certo que devemos esquecer guerras fratricidas entre portugueses, que a implantação da República suscitou e até alimentou, e temos de reconhecer que, 100 anos após essa data, existem razões mais do que suficientes para crer que uma sociedade mais justa é possível e necessária entre nós.
Depois da primeira república, marcada por desordens, perseguições, assassínios e fuga às mais elementares regras democráticas, que geraram o caos e deram lugar à ditadura da segunda república do chamado estado novo, estamos agora na terceira, já com 35 anos de vida.
Uma vida com 35 anos de idade é uma vida adulta, mas nem sempre os comportamentos dos portugueses, os actuais republicanos, identificados com uma nova ordem social para o nosso País com tantos séculos de existência, têm sido os adequados para uma sociedade mais fraterna e mais democrática. Nos últimos tempos, como é sabido, têm sido muitas as ofensas à verdade e à liberdade, bem como ao sonho de um País novo, de mais progresso e de mais justiça social, que nem me apetece cantar essa efeméride. Pode ser que um dia destes acorde com outra disposição.
Fernando Martins