Que se pode ainda dizer que comova este tempo? Numa época que já ouviu tudo, que já disse tudo, que tolera tudo, é difícil existir algo que a desperte. A não ser, talvez "Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam, e os que vêem fiquem cegos" (Jo 9, 39).
Vem isto a propósito da estreia recente do filme Evangelho segundo S. João de Philip Saville. Nos 110 anos de História do Cinema houve muitas adaptações da vida de Cristo, a primeira logo em 1897 pelo pioneiro Louis Lumière. Mas nunca ninguém tentara este feito uma apresentação exclusiva e completa do Quarto Evangelho.
Perante a provocação eminente que é o Novo Testamento, o impulso para elaborar, interpretar e comentar é grande. Os realizadores, dos devotos aos blasfemos, acabam sempre por dar uma visão pessoal, que tantas vezes se impõe ao texto. Isto é evidente até pelo facto de a maioria enveredar por uma combinação dos quatro relatos, seleccionando episódios. Apenas dois filmes clássicos se limitaram a um dos livros Il Vangelo secondo Matteo de Pier Paolo Pasolini (1964) e Jesus the Film de John Krish e Peter Sykes (1979), centrado em Lucas. Mas o texto de João, com os longos discursos, foi sempre considerado demasiado místico e retórico para adaptação.
(Ler todo o artigo em DN)