domingo, 6 de junho de 2021

Como se Deus não existisse

A oração, como diz o Papa Francisco, não é para converter a Deus, mas para nos convertermos ao Seu amor que excede tudo o que poderíamos desejar e pedir.

1. O autor do título desta crónica é um mártir cristão, o pastor luterano Dietrich Bonhoeffer (1904-1945). Deixo, aqui, um breve apontamento para situar essa expressão paradoxal que nada tem a ver com agnosticismo ou ateísmo.
No início de 1933, a ascensão de Hitler ao poder provocou uma disputa no seio da Igreja Evangélica Alemã, à qual Bonhoeffer pertencia. Muitos luteranos acolheram favoravelmente o advento do nazismo e, no Verão de 1933, alguns até propuseram uma resolução que impedia os “não arianos” de se tornarem ministros de culto ou professores de religião. Bonhoeffer opôs-se a essa tese, afirmando que a sua ratificação submeteria os ensinamentos cristãos à ideologia política: se os “não arianos” fossem impedidos de aceder ao ministério, então, os pastores teriam de renunciar, em sinal de solidariedade, e de fundar uma nova Igreja livre da influência do regime.
Em Maio de 1934, nasceu a Igreja Confessante, liderada pelo próprio Bonhoeffer em oposição aberta ao nazismo e ao silêncio da Igreja oficial. Em Agosto de 1937, foi publicada uma ordem de Himmler que declarava ilegal a actividade da formação de candidatos a pastores para a Igreja Confessante e, em Setembro, o Seminário de Finkenwalde foi fechado pela Gestapo.

Um poema de António Pina para este domingo

O Toti 

O NOME DO CÃO

O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,

mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.

Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,
nem se nos via e nos reconhecia
de algum modo essencial
que nos escapava

ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.

Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
o cão ia.

E aí adormecia
dum sono sem remorsos
e sem melancolia.

Então sonhava
o sonho sólido que existia.
E não compreendia.

Um dia chamámos pelo cão e ele não estava
onde sempre estivera:
na sua exclusiva vida.

Alguém o chamara por outro nome,
um absoluto nome,
de muito longe.

E o cão partira
ao encontro desse nome
como chegara: só.

E a mãe enterrou-o
sob a buganvília
dizendo: " É a vida..."



Manuel António Pina

primeiros poemas
todas as palavras
poesia reunida
assírio & alvim
2012

sábado, 5 de junho de 2021

Dia Mundial do Ambiente: Não deixemos um deserto aos nossos filhos

Das mãos de Deus recebemos um jardim; 
aos nossos filhos não podemos deixar um deserto.

Papa  Francisco 

Paisagem Açoriana 

Em mensagem em vídeo de lançamento da Plataforma de Ação Laudato si’, Francisco renova o apelo à humanidade para agir em prol de uma ecologia integral em favor da natureza e do homem na sua totalidade porque “o egoísmo, a indiferença e os estilos irresponsáveis estão ameaçando o futuro dos jovens”. Existe esperança, insiste o Papa, para “preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”.
O apelo do Papa será ouvido por todos os homens e mulheres do nosso tempo, numa perspetiva de garantirmos um mundo mais saudável, mais justo  e mais acolhedor? Ou continuaremos com uma economia desenfreada, consumista e mais poluidora? 
Confesso que não sei, nem estarei por cá para ver. Mas que gostaria de testemunhar alterações significativas nos nossos comportamentos, na linha de um ambiente mais saudável e mais solidário, lá isso gostaria.  

Amigos de Peniche


«Esta expressão fundamenta-se num facto histórico: quando do domínio filipino em Portugal, uma armada inglesa desembarcou em Peniche com a suposta intenção de avançar sobre Lisboa [para] ajudar o Prior do Crato a libertar a capital dos espanhóis. No entanto, por vicissitudes diversas, os ingleses nunca chegariam a Lisboa, pelo que a expressão "amigos de Peniche" passou a significar alguém que se diz amigo, mas não é de fiar.»

Nota. Confesso que não sabia... Estamos sempre a aprender.

Prémio Rainha Sofia para Ana Luísa Amaral

Ana Luísa Amaral recebeu esta semana o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, considerada a maior distinção para a poesia dentro daquele espaço geográfico, segundo li no PÚBLICO.
Sobre esta professora universitária, escreveu Lídia Jorge na Revista LER: “é necessário sair da esfera do conforto gramatical herdado, entrar no domínio da sua cultura e erudição, e, sobretudo, na intimidade de um sentimento capaz de passar do microcosmo da domesticidade para o domínio das esferas celestes, uma harpa de mil cordas coordenadas segundo um código que lhe é muito próprio”.

No seu livro Ágora, que li e reli com muito gosto, pode ler-se este poema:

A LESTE DO PARAÍSO

Antes ser tudo e livre
do que bom mas humilde

Assim pensara então

e agira

E o oriente lhe foi destinado:
terra de mil castigos
de difíceis colheitas; mais
suor

Só depois descobriu
que lá o sol nascia
e que podia falar das coisas
todas

                Mas com quem?

Hans Küng e Francisco

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

A Igreja não pode entender-se como um aparelho de poder ou uma empresa religiosa, mas como povo de Deus e comunidade do Espírito nos diferentes lugares do mundo

1 Faz amanhã dois meses que, como aqui dei a devida notícia, morreu Hans Küng, o teólogo católico mais conhecido dos últimos decénios e um pensador de influência mundial.
Küng tinha imensa esperança no Papa Francisco, que lhe escreveu duas vezes, inclusivamente a dizer que a infalibilidade pontifícia era questão a estudar, e lhe enviou uma bênção antes da morte. Lamentavelmente, talvez para não ferir Bento XVI, não o reabilitou de modo oficial. De qualquer forma, julgo que é inegável a influência do seu pensamento na primavera da Igreja prosseguida por Francisco, não só por causa das suas investigações sobre o cristianismo primitivo mas também do seu contributo incalculável para o encontro da fé com o mundo moderno e pós-moderno e um ethos (nova atitude ética) global.

ANDANÇAS - Caramulo

Na serra do Caramulo, não falta a água pura da fonte para matar a sede a quem passa. E não falta o suporte para pousar o cântaro enquanto a água corre sem parar. Água que vem da serra e à serra volta se ninguém dela precisar. A sua limpidez e sabor foram do meu agrado.

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Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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