sábado, 21 de novembro de 2020

CAMINHO DO FORTE - MACHICO


Forte de Nossa Senhora do Amparo - Machico 


No caminho onde aprendi o outono
sob o azul magoado
os pescadores cruzam ainda linhas
províncias clareiras
e esse gesto masculino de apagar a dor

chegava pelos percalços da terra
o carro do gelo
e os miúdos tiravam bocados para comer às dentadas
em retrato selvagem mas, juro-vos, havia encanto
havia qualquer coisa, outra coisa
nesse instante em perda

as mulheres sentavam-se à porta com os bordados
quando passavam estrangeiros
ficavam sempre a sorrir nas suas fotografias

José Tolentino Mendonça,

Cardeal, poeta, teólogo, cronista e homem de uma cultura multifacetada 

No livro "A NOITE ABRE MEUS OLHOS" 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Temos de vencer

Um cato do meu quintal 

A nossa capacidade de resistência não pode esmorecer. Os confinamentos e suas variantes têm de ser enfrentados com determinação, numa perspetiva de vitória. Desanimar, desistir ou atirar para trás das costas os perigos ameaçadores são atitudes irresponsáveis. Temos de vencer. 
Está tudo dito, mas às vezes fico espantado com comportamentos infantis de muita gente jovem e menos jovem, que olha para o lado como se estivesse tudo bem. E não está. 
Por aqui vou andando, vivendo com a normalidade possível, mas sonhando com dias melhores. O meu contributo terá pouca expressão, mas ao meu redor vou dando as minhas sugestões, cumprindo as regras estabelecidas. Nem outra coisa poderia fazer porque estou num grupo de risco. 
Hoje andei a cirandar pelo quintal olhando a natureza que teima em me acarinhar com a sua beleza e amor à vida. E uma natural alegria bailou no meu cérebro.
Bom fim de semana para todos.

Fernando Martins

CELEIRO ABANDONADO?

 


À beira do caminho de zona agrícola, na estrada entre a Costa Nova e a Vagueira, outrora de agricultura próspera bastante badalada na região, encontrei este celeiro a caminho do fim. A velhice não perdoa e as coisas são como as pessoas.

SEREMOS JULGADOS PELO AMOR

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXXIV do Tempo Comum



Cenário majestoso realça a importância da figura central e contrasta com a simplicidade dos convocados, a sobriedade das alegações, a contundência da sentença. A solenidade da grande assembleia é patente: anjos rodeiam o homem que está sentado num trono de glória, nações inteiras aparecem dos cantos da terra, o universo converge no mesmo espaço e testemunha o acontecimento. A acção a realizar é extraordinariamente simples, semelhante à de um pastor que, ao cair da tarde, ou ao chegar o tempo invernoso, recolhe o rebanho, separando as ovelhas dos cabritos. Mt 25, 31-46. Mas simboliza o nosso futuro definitivo. 
A imagem pastoril ilustra, de forma acessível e eloquente, a mensagem que Jesus pretende “passar” aos discípulos de todos os tempos: a opção pelo futuro constrói-se no presente, a semente contém, em gérmen, a árvore, a relação solidária vive-se em atitudes concretas, a glória do Pai brilha nos gestos de fraternidade, a atenção aos “pequeninos”, a quem a vida não sorriu por malvadez humana, manifesta o reconhecimento de quem se identifica com eles e por eles vela com a máxima consideração. 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

AVEIRO - PIRÂMIDES

Imagem para não se perder



Sempre me soube bem mexer e remexer nas gavetas. É que, de vez em quando, lá vêm, com esse mexer e remexer, recordações de tempos que já lá vão, há muito! Escrevi este texto em Agosto de 2008. Misteriosamente, ou talvez não, a foto que agora republico fugiu do meu blogue. Aqui fica para a história. 

Bernardo Santareno - Meditação



«Se para lá do leito que limita este mar profundo, houvesse um outro mar ainda mais fundo e depois deste um terceiro e outro e outro… se através de todos estes mares, eu fosse descendo em vertigem… se assim descendo, me fosse esquecendo de ideias, imagens, desejos e afectos… se depois do último mar, de mim restasse somente um simples ponto luminoso, brilhante num túnel de treva densa… se eu vencesse a angústia, o terror, o desértico vazio deste túnel negro… se eu suportasse o silêncio terrível desta noite cerrada e sem estrelas…: Então, talvez eu pressentisse a madrugada que se evola do sorriso de Deus… talvez eu ouvisse a Música inefável, oculta para lá do humano silêncio… talvez eu fosse penetrado pela alegria de Deus, pela simples claridade de Deus: tão pura e tão simples, que nenhuma das palavras que os homens sabem a pode conter!... Só então, ultrapassados abismos de mares sucessivos, perdido das minhas mãos e do fruto que as chama, cortadas as raízes da minha voz de sangue, separados os meus gestos das aves que os voam… só então, aniquilado, perdido de mim, um simples ponto luminoso na treva mais absoluta… só então, verei a luz virgem, oculta no riso de Deus!» 

In “Nos mares do fim do mundo”, 
de Bernardo Santareno

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

BERNARDO SANTARENO - Médico e Dramaturgo



«A propósito do centenário do nascimento de Bernardo Santareno, celebrado a 19 de novembro de 2020, o Museu Marítimo de Ílhavo e a Biblioteca Municipal de Ílhavo vão lançar, entre os dias 19 e 22 de novembro, um conjunto de vídeos nas respetivas páginas de Facebook, que evocam a obra do dramaturgo e médico da frota bacalhoeira.
Durante quatro dias serão lançados dois vídeos por dia (um de manhã e outro à tarde), com leituras de excertos da obra de Bernardo Santareno, alguns dos quais encenados: “Nos Mares do Fim do Mundo”, encenado por alguns participantes em projetos de teatro de comunidade do Município de Ílhavo; “Heróis do Mar”, encenado por jovens do grupo de teatro Mar Alegre; e poesia, recitada por colaboradores da Câmara Municipal de Ílhavo.»

NOTA: Imagem e texto do MMI. Ver programa aqui