sábado, 22 de dezembro de 2018

O Natal de Jesus e a dignidade humana

Anselmo Borges

Ernst Bloch, um dos maiores filósofos do século XX, ao mesmo tempo ateu (não acreditava no Deus pessoal) e religioso (estava religado à divina Natureza), quando era professor na Universidade de Leipzig, na antiga República Democrática Alemã, na última aula antes das férias de Natal desejava a todos os estudantes boas-festas, falando-lhes do significado do Natal e terminava, dizendo: "É sempre Advento", querendo desse modo apelar para a esperança: o mundo e a humanidade continuam grávidos de ânsias e de possibilidades, e a esperança está viva e há razões objectivas para esperar. Apesar do Natal, ainda é Advento, porque a plenitude ainda não chegou.
Foi em Tubinga que o conheci, pois Ernst Bloch, embora se confessasse marxista e ateu, acabou por ter de deixar Leipzig e a República Democrática Alemã: as autoridades comunistas acusavam-no de misticismo religioso. Ele defendia-se, sublinhando o carácter único, na história das religiões, do judeo-cristianismo e do seu livro, a Bíblia. Para ele, "a Bíblia é o livro mais significativo da literatura mundial", pois responde à pergunta decisiva do ser humano, que é a questão do fim, do sentido e da finalidade do mundo e da existência. Ir ao encontro da Bíblia "não pode prejudicar" nenhum ser humano que queira bem à humanidade e a si próprio. Concretamente, não é possível compreender o homem europeu e as suas obras literárias e artísticas, sem um conhecimento aprofundado da Bíblia. Os nazis, por exemplo, ao rejeitar a Bíblia como algo estranho que não devia ser estudado, não só não puderam compreender a cultura alemã como caíram na barbárie.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Papa denuncia aqueles que «deformam o rosto da Igreja...»

Do corpo de Maria, nasce Jesus, o Salvador


Georgino Rocha

Maria, a noiva de José, engravida após consentimento informado e decisão livre. O recém-gerado “apodera~se” do seu corpo e marca o ritmo da sua vida: a nível da fisiologia, das emoções e afectos, da movimentação e das relações, dos incómodos e satisfações. Tudo por amor à boa gestação em curso. Com que intensidade viveria a jovem mãe a fase germinal do seu bebé! Ele, tudo recebia dela, humanamente. Ela, realizava nele o sonho da maternidade.
Lucas, no chamado Evangelho da Infância, faz uma bela narração da anunciação e anota que Maria, após ficar entregue à liberdade da sua decisão, parte “imediatamente”. Toma o rumo da casa de Zacarias, que fica a uns 150 Km de distância, e vai pelas regiões montanhosas da Judeia. Encontra Isabel, a prima, em fase avançada de gravidez daquele que virá a ser João Baptista. E tem um encontro memorável que a liturgia nos faz recordar, hoje. Para nos aproximarmos do significado profundo do que está a acontecer no ventre destas mulheres. Por graça de Deus, com a generosa colaboração delas. Vamos deter-nos em alguns pormenores desta maravilha que ecoa na voz de Isabel. (Lc 1, 39-45).

Ao chegar, Maria faz a saudação tradicional dos judeus: Shalom! Isto é, as bênçãos de Deus estejam contigo. Ou seja, que te sintas realizada na tua gravidez, que aprecies a vida que estás a gerar, que à tua volta haja harmonia e paz, que o teu coração agradecido alimente a sintonia com Deus e o seu desejo de libertar o nosso povo de todos os que nos querem mal, e de guiar os seus passos no caminho da paz, como rezará mais tarde Zacarias, após ter retomado a fala de que, provisoriamente, fora privado.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O Natal escondido


Acordei cedo para sentir o desabrochar do sol por entre nuvens prenunciadoras de chuva. Primeiro uns raiozinhos, tímidos mas persistentes, e só depois veio a força renovadora do astro-rei a marcar presença neste Advento. Saí do meu aconchego e fui à cata do Natal na grande cidade a uns bons quilómetros da casa onde moro. Levei no saco a ânsia de encontrar o Natal em cada esquina, quiçá no coração das pessoas apressadas. Mas do Natal elas não me falaram.
Música no ar, serena para não incomodar, mas audível quanto baste. Eram as melodias natalícias da minha meninice. Bonitas, sim senhor, mas denotando falta de criatividade. As mesmas de sempre, que os novos poetas e músicos terão posto de lado o tema do nascimento de Jesus.
Os enfeites cruzavam-se entre luzinhas que piscavam para nos desafiarem a estar. Estar, olhar, sentir que o ambiente era diferente, que algo de novo andava no ar, que havia festa para celebrar, tradições para respeitar, família para congregar, prendas para ofertar e convidados a chegar. Tudo isto, em força, para na célebre noite da consoada, com data certa em 24 de dezembro de cada ano, se viver a alegria à volta do tronco comum, a família humana.
Deambulei por entre lojas, subi e desci pelas passadeiras rolantes, cruzei-me com olhares que outrora conheci bem, vi jovens e idosos na mesma azáfama, meninos e meninas a saborearem chupa-chupas, pais e mães com sacas e saquetas de presentes, rostos felizes, uns, e cabisbaixos, outros. Gente com porte de endinheirada e pobres de pedir em algumas esquinas. Do Natal da minha infância, nada.
Um magote de crianças rodeava um velho de vermelho vestido, com barbas brancas e saco às costas. Oferecia umas lembranças a quem o rodeava. Era o Pai Natal.
A história do Menino Jesus não tinha lugar naquele espaço comercial. Ficou reduzido a uma ou outra montra e às celebrações em casa ou nas igrejas cristãs. O espírito natalício saiu de cena. O comércio ganhou a parada. E o Natal ficou escondido.

Fernando Martins

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A Noite de Natal




« (...) Então Joana foi ao jardim. Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas eram diferentes. Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.
E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. Cá em baixo era uma festa e por isso havia muitas coisas brilhantes: velas acesas, bolas de vidro, copos de cristal. Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas. (...)»

Sophia de Mello Breyner Andresen (1989).
A Noite de Natal. Porto: Figueirinhas (4ª ed.; il. de Júlio Resende)
(1ªed. - 1959; il. de Maria Keil).

NOTA: Por gentileza de Sara Raquel da Silva

Mourinho foi despedido




Confesso, à partida, que não simpatizo com Mourinho. O homem especial, para os adeptos do futebol. Pelos maus resultados no MU,  foi despedido. Acontece aos melhores. Conseguiu na vida chegar ao topo e ganhou milhões. O despedimento deu-lhe também milhões. E um dia destes não faltará quem ponha na sua conta outros milhões. Isto tudo é uma ofensa aos milhões de pobres que há neste mundo, um mar de lágrimas que todos conhecemos. Mas quem paga tudo são os adeptos e os trabalhadores das empresas que subsidiam o desporto. Se calhar, trabalhadores sem pão para matar a fome aos filhos e empresas que  pagam salários miseráveis a quem  as serve. É este o nosso mundo.

Nuvens para este dia


As nuvens são sempre um desafio à nossa imaginação. E quando elas se deslocam, ao sabor do vento, esse desafio amplifica-se para ficarmos com vontade de ir com elas. Umas são claras, mas há também as que indiciam chuva iminente. Foi o caso de hoje. Tudo bem com belas nuvens, mas já está a chover.

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