sábado, 3 de janeiro de 2015

ATITUDE DOS MAGOS, EXEMPLO A SEGUIR

Reflexão de Georgino Rocha


O episódio dos Magos narrado por Mateus em estilo popular tem suporte histórico e alcance simbólico. Mt 2, 1-12. É uma maravilha! Apresenta o itinerário da fé cristã, recorrendo a personagens bíblicas e a citações conhecidas. Na pessoa dos Magos, destaca a importância da atenção à novidade dos sinais, a ousadia confiante de se pôr a caminho em busca do que o coração pressente, a coragem de suportar a dureza do percurso e de aguentar o peso das provações, a tenacidade de persistir pacientemente na viagem, apesar de não haver certezas do rumo tomado, por falta da estrela-guia, o entusiasmo discreto e alegre da chegada e do encontro.
A narração “lança mão” a uma série de verbos para realçar o mundo de emoções e de convicções surgidas nos cansados visitantes. A simplicidade e a pobreza não os desiludem. A sua atenção fixa-se no Menino e na sua Mãe. Por isso, entram, vêem, prostram-se e adoram, abrem os alforges e oferecem presentes, contemplam em silêncio e retiram-se discretamente, saboreando a serenidade e a alegria vivenciadas.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Doenças da Cúria, segundo o Papa Francisco

Vemos o argueiro no olho do vizinho, 
mas não vemos a trave que está no nosso





A doença da "patologia do poder" e do “sentir-se imortal”;
A doença do “trabalho excessivo, sem repouso para a meditação e interioridade”;
A doença da "fossilização mental e espiritual";
A doença do “excesso de planificação e do funcionalismo”;
A doença da “má coordenação”;
A doença do "Alzheimer espiritual”;
A doença da “rivalidade e da vanglória";
A doença da "esquizofrenia existencial";
A doença dos "rumores, mexericos, murmurações, má-língua";
A doença de "divinizar os chefes";
A doença da “indiferença para com os outros”;
A doença da “cara de enterro";
A doença da “acumulação de bens materiais”;
A doença dos "círculos fechados";
A doença do “mundanismo, do exibicionismo”.


Declaração de interesses: Aceito, humildemente, que também fui atingido pelas denúncias bombásticas do Papa Francisco. Não o reconhecer seria orgulho, no mínimo. Posto isto, vamos à reflexão. E a reflexão surge na sequência do que tenho lido e ouvido, isto é, ninguém se revê no grupo dos que na sala Clementina escutaram a mensagem natalícia do Papa, que era suposto ser uma mensagem cordial cheia de frases bonitas, semelhantes àquelas que todos (ou quase) trocámos nesta quadra.
Ora, o Papa, se falou diretamente para Cardeais, Arcebispos, Bispos e Monsenhores, entre outros dignitário, falou, também, indiretamente, para os cristão em geral, neles incluindo clérigos, consagrados e leigos, onde não faltam pecadores com aqueles atributos, que nem vale a pena repetir. 
Eu já li e reli a lista que o Papa Francisco elaborou na quadra natalícia, decerto com a intenção de chegar a toda a gente, porque sabia que a comunicação social não lhe ficaria indiferente.
Realmente, por aquilo que li e ouvi, o «Papa sem papas na língua», como lhe chamou Inês Pedrosa, tem andado na boca de todo o mundo, crente e não crente, com declarações de aplauso. Mais ténues, permitam-me que o diga, do lado dos católicos. E só referem, por sistema, o mau serviço da Cúria Romana, como fonte de todos os males. Dá a impressão que tudo está bem fora de Roma. Trata-se de ver o argueiro que está no olho do vizinho sem ver a trave que está no nosso.
É claro que o poder central, por mais visto, é tido como espelho de toda a Igreja Católica. E sendo assim, espera-se que o Papa consiga varrer o Vaticano da podridão que encontrou quando ali chegou, vindo do outro lado do mundo. Mas não será possível a conversão dos acusados? Não terão eles capacidade para se arrependerem? Ficamos à espera. 
Já agora, seria muito bom que a outros níveis se fizesse um exame de consciência profundo, na Igreja Católica e fora dela.

Fernando Martins

XLVIII DIA MUNDIAL DA PAZ – 1 de janeiro de 2015

Mensagem do Papa Francisco 



JÁ NÃO ESCRAVOS, MAS IRMÃOS

«Juntamente com esta causa ontológica – a rejeição da humanidade no outro –, há outras causas que concorrem para se explicar as formas actuais de escravatura. Entre elas, penso em primeiro lugar na pobreza, no subdesenvolvimento e na exclusão, especialmente quando os três se aliam com a falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada por escassas, se não mesmo inexistentes, oportunidades de emprego. Não raro, as vítimas de tráfico e servidão são pessoas que procuravam uma forma de sair da condição de pobreza extrema e, dando crédito a falsas promessas de trabalho, caíram nas mãos das redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos. Estas redes utilizam habilmente as tecnologias informáticas modernas para atrair jovens e adolescentes de todos os cantos do mundo.
Entre as causas da escravatura, deve ser incluída também a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo. Na realidade, a servidão e o tráfico das pessoas humanas requerem uma cumplicidade que muitas vezes passa através da corrupção dos intermediários, de alguns membros das forças da polícia, de outros actores do Estado ou de variadas instituições, civis e militares. «Isto acontece quando, no centro de um sistema económico, está o deus dinheiro, e não o homem, a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou económico, deve estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que fosse o dominador do universo. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro, dá-se esta inversão de valores».»

Ler toda a Mensagem aqui

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Terra Nova com novo rosto



A Rádio Terra Nova entra em 2015 com novo rosto e novas rubricas. As afinações estão a ser aplicadas, para melhor servir os ouvintes e visitantes, espalhados por todo o mundo. O grafismo, sóbrio e bem arrumado, desafia-nos a navegar por diversos espaços, sendo certo que, com atualizações permanentes, a Terra Nova se torna numa mais-valia a nível da informação e entretenimento para todos nós.
Damos os parabéns aos seus dirigentes, trabalhadores, ouvintes e visitantes, bem como aos que conceberam o novo grafismo da RádioTerra Nova

Um Ano Novo Muito Melhor



Um ano novo melhor do que o defunto 2014 é o meu desejo para todos quantos me rodeiam, incluindo amigos de perto e de longe com quem comungo amizades. Melhor que 2014, pois claro.
Cada ano que começa é sempre uma surpresa que nos envolve na vida como a lotaria, para quem joga. Os jogadores apostam, quantas vezes teimosamente, mas poucos  acertam. Começamos 2015 na esperança de que a vida nos sorria com paz e fraternidade, alegrias e saúde, mas raramente nos acontece em plenitude o que sonhamos. Urge, pois, aceitar o que a roda da vida nos dá no dia a dia, na certeza de que as adversidades darão lugar ao bem-estar, porque o desânimo não pode fazer parte dos nossos vocabulários.
Com estes propósitos, formulo votos de que todos nos estimulemos uns aos outros na luta contra eventuais pessimismos que nos possam atacar na caminhada rumo a futuros mais risonhos.
Bom Ano para todos.

Fernando Martins

    

A BÊNÇÃO DE DEUS QUE NOS FAÇA IRMÃOS

Reflexão de Georgino Rocha 
para a missa de Santa Maria, Mãe de Deus



Os pastores acorrem ao “portal de Belém”, o curral onde nasce Jesus, e encontram um cenário absolutamente normal para uma família “em trânsito”. - Lc 2, 16-21. Observam o recheio envolvente e o seu olhar concentra-se nas pessoas e nas atitudes. 
Em Jesus, Deus abençoa-nos, isto é, manifesta e diz o bem que nos quer, a vida que nos deseja, o tempo que nos oferece, o futuro que nos prepara, a aliança que connosco celebra. E quem acolhe esta bênção pode abençoar porque reconhece que Deus está na origem de todo o bem; que está presente nas pessoas e nas famílias; que destina a todos e a cada um os bens criados e transformados pela tecnologia. Abençoar alguém é desejar-lhe que tome consciência da presença de Deus na vida, na família, nos projectos, nos sonhos em realização.
No início do Ano Novo, que o bom Deus nos dê a sua bênção, olhe com bondade o nosso coração e lhe conceda sabedoria para entender a vida como doação confiante. Que este ano não nasça envelhecido, mas surja com gérmenes de esperança a brotar em todos e encontre pessoas à altura do tamanho dos desafios com que nos debatemos e reclamam solução urgente em nome da dignidade humana. A exemplo de Maria, a mãe de Jesus.
"Já não escravos, mas irmãos" - clama o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2015. E com ele, todos os que escutam as aspirações profundas do coração humano, sentem a beleza da dignidade e da autonomia e verificam "o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem, flagelo que "fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade. Tal fenómeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade... Já não escravos, mas livres".

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Catálogo das doenças da Cúria

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias de sábado
  
Estou convencido de que nunca pensaram ter de ouvir o que ouviram. Estavam os cardeais, bispos, monsenhores na bela Sala Clementina, para a saudação natalícia papal. A Cúria — governo e administração central da Igreja — esperaria palavras diplomáticas, alusivas à data. Mas o Papa Francisco veio com o Evangelho, num discurso profético e arrasador.

A. Como seria belo, começou, "pensar que a Cúria romana é um pequeno modelo da Igreja". No entanto, "como todo o corpo humano, está exposta à doença, ao mau funcionamento". E enumerou, em tom duro, algumas destas doenças da Cúria. 
1. Tudo gira à volta da "patologia do poder". Assim, a primeira doença é a de "sentir-se imortal, indispensável", que leva ao narcisismo e a considerar-se superior a todos e não ao serviço de todos. Por isso, aconselhou uma cura de humildade: passar por um cemitério e ver os nomes de tantos que também pensaram que eram imortais e indispensáveis. "Uma Cúria que não se autocrítica, que não procura melhorar é um corpo doente". 
2. Outra doença é o "martismo". No Evangelho, há duas irmãs: Marta e Maria e, enquanto esta escuta Jesus, Marta corre e atarefa-se sem descanso. O martismo é, pois, o trabalho excessivo, no stress, na agitação, sem repouso para a meditação e interioridade. 
3. Há também a "fossilização mental e espiritual", que leva à perda da sensibilidade necessária para chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram. 
4. Lá está ainda a doença do excesso de planificação e do funcionalismo, que conduz a posicionamentos estáticos e imutáveis, com a pretensão de domesticar o Espírito. 
5. A doença da má coordenação, perdendo o espírito de colaboração e equipa. 
6. A doença do "Alzheimer espiritual": perdeu-se a memória do encontro com Jesus e com Deus e vive-se então na dependência de concepções imaginárias, das próprias paixões, caprichos e manias. 
7. Lá estão "a rivalidade e a vanglória", transformando-se a aparência, as honras e as medalhas honoríficas no primeiro objectivo da vida. 
8. A doença da "esquizofrenia existencial", que é a de "quem vive uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual que títulos académicos não podem preencher". Doença que afecta sobretudo quem se limita às coisas burocráticas e perde o contacto pastoral. 
9. A doença dos "rumores, mexericos, murmurações, má-língua", que pode levar ao "homicídio a sangue frio". Cuidado com "o terrorismo dos rumores, do diz-se!". 
10. A doença de "divinizar os chefes", própria de quem idolatra os superiores: "são vítimas do carreirismo e do oportunismo". 
11. A doença da indiferença para com os outros. 
12. A "doença da cara de funeral": são pessoas" bruscas e grosseiras", sem alegria nem delicadeza. 
13. A doença da acumulação de bens materiais, querendo assim preencher "um vazio existencial no coração". 
14. A doença dos "círculos fechados", com o perigo de cortar a relação com o Corpo da Igreja e até com o próprio Cristo. 15. A última é "a doença do mundanismo, do exibicionismo", transformando o serviço em poder. 



B. É claro que "estas doenças e tentações são naturalmente um perigo para cada cristão e para cada cúria (diocesana), comunidade, paróquia, movimento eclesial, e podem ferir tanto a nível individual como comunitário", concluiu. Aliás, podemos acrescentar que as tentações de sentimento de imortalidade, Alzheimer espiritual, esquizofrenia existencial, exibicionismo, materialismo, vaidade, nepotismo, martismo... são tentações de governantes e cidadãos em geral, em toda a parte. Mas, aqui, sem adoçar as palavras, Francisco dirigiu-se directamente à Cúria romana, que não quer como corte e que não reagiu entusiasta ao discurso, apenas com palmas tímidas e frouxas. Possivelmente, a Cúria ao longo dos tempos terá feito mais ateus e provocado mais abandonos da Igreja do que Marx, Nietzsche, Freud e outros pensadores ateus juntos. 

Recentemente, o historiador da Igreja, Andrea Riccardi, fundador da célebre Comunidade de Santo Egídio, ex-ministro da Itália e amigo de Francisco, advertiu que "o Papa tem muita oposição dentro e fora da Cúria, e sabe-o". Francisco está a operar uma revolução na Igreja e tem consciência de que há maquinações no sentido de um restauracionismo pré-conciliar. Mas também sabe, como acrescentou Riccardi, que, sem o Concílio Vaticano II, "a Igreja teria naufragado e seria uma pequena comunidade com um grande passado". "A Igreja errou ao apresentar-se como o partido dos valores tradicionais", e "aceitar o desafio de ser Igreja-povo é crucial".
Francisco é consciente de que, sem reformas estruturais na Igreja, corre o risco de, desaparecendo ele, o seu pontificado vir a ser considerado como um simples parêntesis. Por isso, invocou a urgência de conversão da Cúria. Fê-lo, à luz do Evangelho, frente à Cúria e sabendo que a maior parte da Igreja e da opinião pública mundial está do seu lado.

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