Georgino Rocha |
«Jesus não se impõe, mas também
não se desinteressa do que é humano»
Jesus está no início da sua vida de missionário itinerante. Após a chamada de alguns discípulos, toma parte na boda de casamento de uns noivos em Caná da Galileia, terra a pouca distância de Nazaré. Está lá, Maria, sua Mãe. Os convivas são numerosos e a festa podia demorar uma semana. Há regras a cumprir. O protocolo era minucioso e os participantes observavam-no rigorosamente. O chefe de mesa supervisionava tudo. Os serventes estavam atentos e disponíveis para que nada falte. O programa decorria com grande normalidade. Mas a surpresa acontece. Há sinais de que algo está a ocorrer. E antes que seja conhecido por todos, Maria dá conta, identifica o que é e vai dizê-lo a Jesus. “Não têm vinho!”. Que maravilha! O cuidado da Mãe de Jesus manifesta-se de modo solícito para que a festa prossiga com o entusiasmo inicial e a boda de casamento proporcione alegria a todos, sobretudo aos noivos e familiares. Com Maria, as crises podem ser previstas, e pode ser removido o que lhes dá origem. Ela encaminha tudo para Jesus. Mesmo que a ocasião pareça inoportuna.
não se desinteressa do que é humano»
Jesus está no início da sua vida de missionário itinerante. Após a chamada de alguns discípulos, toma parte na boda de casamento de uns noivos em Caná da Galileia, terra a pouca distância de Nazaré. Está lá, Maria, sua Mãe. Os convivas são numerosos e a festa podia demorar uma semana. Há regras a cumprir. O protocolo era minucioso e os participantes observavam-no rigorosamente. O chefe de mesa supervisionava tudo. Os serventes estavam atentos e disponíveis para que nada falte. O programa decorria com grande normalidade. Mas a surpresa acontece. Há sinais de que algo está a ocorrer. E antes que seja conhecido por todos, Maria dá conta, identifica o que é e vai dizê-lo a Jesus. “Não têm vinho!”. Que maravilha! O cuidado da Mãe de Jesus manifesta-se de modo solícito para que a festa prossiga com o entusiasmo inicial e a boda de casamento proporcione alegria a todos, sobretudo aos noivos e familiares. Com Maria, as crises podem ser previstas, e pode ser removido o que lhes dá origem. Ela encaminha tudo para Jesus. Mesmo que a ocasião pareça inoportuna.
Endossado o assunto a quem pode ajudar a resolvê-lo, ela dirige-se aos serventes e exorta-os a que façam o que Jesus lhes disser. Que ousadia! Uma mulher tomar a iniciativa em público, em casa alheia, e credenciar um desconhecido. E os serventes, que boa vontade revelam ao aceitarem obedecer-lhe prontamente. “Fazei o que Ele vos disser”. Nem sequer informam o chefe responsável pelo protocolo. Seguem com prontidão a indicação de Jesus, um estranho: “Enchei essas talhas de água”. Assim fazem e ficam a aguardar nova orientação. “Tirai agora e levai ao chefe de mesa”. Sem temer nada, cumprem a ordem recebida. E dão conta da surpresa agradável do chefe ao provar o vinho novo, obtido por intervenção de Jesus e da sua colaboração. Não reclamam “louros”, nem recompensas extra, nem dizem nada. Apenas partilham a alegria renascida nos corações que se espelha no rosto dos convivas.
João, o único evangelista a narrar este episódio, apoia-se em alguns pormenores históricos e transmite uma mensagem de enorme alcance simbólico. (Jo 2, 1-11). Vamos fazer-nos convivas da festa e deter-nos em alguns pontos mais significativos: antes de mais para nós, chamados à alegria do amor; depois para a família e sua atitude face às crises eventuais, para a Igreja no acompanhamento da caminhada dos casais em matrimónio, para a sociedade na interacção de reciprocidade com as famílias, recebendo e dando energias revigorantes.
“João relata este episódio por causa do seu aspecto simbólico: o casamento é o símbolo da união de Deus com a humanidade, realizada de maneira definitiva na pessoa de Jesus, Deus-e-Homem. Sem Jesus, a humanidade vive uma festa de casamento sem vinho”, afirma a Bíblia Pastoral que prossegue em comentário: “O episódio de Caná é uma espécie de resumo daquilo que vai acontecer através de toda a actividade de Jesus com a sua palavra e acção, Jesus transforma as relações dos homens com Deus e dos homens entre si”.
Jesus não se impõe, mas também não se desinteressa do que é humano. Intervém a partir do que existe: um amor a ser celebrado em casamento por noivos, uma festa de famílias, uma crise a despontar, uns colaboradores a ajudar, uns costumes a observar, umas talhas e umas jarras a utilizar como recursos. E assim realiza a multiplicação do vinho, transformando a água. Assim, quer continuar a fazer connosco: na família, revigorando as relações entre as pessoas, na convivência social reforçando os laços de solidariedade e em tantos outros espaços de vida onde se encontram os seus discípulos fiéis. Nunca estamos sós, nem somos apenas expectadores do que acontece. Temos a missão de observar para agir. Cada caso é uma oportunidade, que não se pode perder. Seria adiar a esperança e alienar a confiança.
Jesus insere-se na tradição bíblica que narra o modo admirável de Deus amar o Seu povo. Ama-o em aliança definitiva e escolhe o amor conjugal como símbolo maior desta relação. Por isso, inicia a sua vida missionária indo a uma boda de casamento, em Caná da Galileia. E realiza o que o episódio nos relata: O primeiro dos sinais de uma série que tem no Calvário a sua expressão maior. Por amor, Jesus doa-se livremente pela salvação de cada pessoa e de toda a humanidade. A esta doação total corresponde Deus Pai com a feliz ressurreição pascal. Os sinais manifestam e comunicam a boa nova de Deus que nos ama como os bons esposos se amam em doação total e definitiva. Que maravilha representa o amor conjugal que, como tantas outras realidades humanas, fica entregue a quem decide casar em aliança, a confiar na vida estável, a dar as mãos, sobretudo nas crises, a crescer em fecundidade criativa, a testemunhar a riqueza de que vale a pena ser colaborador de Deus.
O texto de João afirma ao terminar: “Os discípulos acreditaram n’Ele”. Recém-chamados, fazem uma primeira experiência feliz. Ao longo da vida, farão outras que hão-de ajudá-los a cimentarem esta fé inicial e ficará como referência para todos os que vierem a ser seguidores de Jesus. Para nós, portanto.
Como o ano novo vai avançando no tempo, avancemos nós também na fé que nos leva a apreciar o vinho novo de Jesus que alegra a festa da vida.
Georgino Rocha