«Sempre que vou à Barra vejo ainda a casa apesar de demolida, procuro-te nas águas, agora negras, no cheiro às ervas das areias, na maresia e na salsugem, procuro-te na luz, a luz branca das salinas, estás ainda na ponte de madeira que já não há, passa um barco da Capitania, quem sabe se não te leva para a Torreira ou S. Jacinto, procuro-te na maré cheia e na maré baixa, nas gaivinas, nos patos reais, nos maçaricos, nas rolas que passam no fim de Agosto. Há uma gaivota que voa em direcção ao sol.
Aquela gaivota enlouqueceu, diz Afonso Furtado, meu pai, que é tu cá tu lá com as aves da Ria.»
Manuel Alegre, em “A Terceira Rosa”