Ontem, na RTP2, revi o filme Amour, de Michel Haneke, contemplado com vários prémio. Vi-o na altura do seu lançamento por sugestão da notoriedade que alcançou.
Nos papéis principais, distinguiram-se Jean-Louis Trintignant, nascido em 1930 e, ao que suponho, ainda vivo, e Emmanuelle Riva (1927-2017).
Tal como da primeira vez, gostei do filme. Marido e esposa eram professores de piano já retirados do ensino, mas com memórias que marcavam os seus quotidianos. A esposa, atingida por doença grave, provavelmente um AVC, acamada e dependente do marido, vai definhando, olhar perdido e sem futuro. Perde o gosto pelo que a rodeia, mas ainda consegui pedir a um ex-aluno, pianista, que visitou o casal, que interpretasse uma melodia dos primeiros tempos da aprendizagem. E a indiferença recai, inevitavelmente, sobre a professora.
O marido, com uma serenidade impressionante, é o seu apoio de todas horas, dia e noite. O agravamento da doença exige profissionais assíduos. E a filha única visita os pais, mas leva como temas de conversa os seus problemas do dia a dia. Soluções não estão nos seus propósitos. Há mais que fazer...
Deixo o final dramático para quem quiser e puder ver o filme. Os dramas são terríveis. É o dia a dia de um casal de idosos no fim da sua existência terrena. Tal como decerto os temos nas sociedades atuais. Solidão, abandono, sofrimento, desespero e morte.
Fernando Martins