Como é público, Mons. João Gonçalves Gaspar, Monsenhor apenas para os aveirenses e amigos, deixou a missão de Vigário-Geral da Diocese de Aveiro, dando lugar ao Padre Manuel Joaquim Rocha, recentemente empossado no cargo pelo nosso Bispo, D. António Moiteiro, depois de consulta ao presbitério aveirense.
Mons. João Gaspar desempenhou o cargo cerca de 30 anos com a delicadeza e proficiência que lhe são conhecidas, só próprias de pessoas simples, de alma lúcida e competência indiscutível. Todos quantos o conhecem sabem que Monsenhor cultivou na vida a arte de saber escutar e o espírito de gerar consensos e de animar relações de proximidade com toda a gente.
Conheço-o desde que começou a servir os Bispos da restaurada Diocese de Aveiro, sendo o braço direito e o conselheiro profícuo, ou não fosse ele um conhecedor profundo da área diocesana, cujos cantos e recantos cheios de histórias conhece como as suas próprias mãos. Vi-o ainda padre ao lado de D. João Evangelista, D. Domingos da Apresentação, D. Manuel de Almeida Trindade (altura em que foi distinguido com o título de monsenhor), D. António Marcelino, D. António Francisco e, finalmente, D. António Moiteiro.
Monsenhor João Gaspar, no seu mundo de silêncio quanto baste, não se limitou a servir a Igreja nas tarefas próprias do seu múnus, mas foi muito mais além pela sua paixão reconhecida pela história, de Aveiro e não só, abrindo portas a estudiosos e amantes da cultura. Olhando para as publicações que editou, depois de pesquisas sem conta, pacientemente analisadas e meditadas, não podemos deixar de ficar perplexos pelas revelações que retratam o dia a dia da Igreja Aveirense e muito para além dela.
Por estes dias, dei-me ao cuidado de compulsar diversos livros da lavra de Monsenhor, e vezes sem conta me quedei a meditar fascinado sobre a profundidade dos seus conhecimentos e a variedade dos temas abordados, o que me leva a dizer, com alguma garantia de verdade, que Monsenhor João Gaspar estará no primeiro lugar do elenco dos aveirógrafos, tão multifacetada é a sua obra.
Em nome pessoal ou em representação do seu e nosso bispo, Monsenhor era presença assíduo, desejada e querida da grande maioria dos responsáveis por eventos realizados em Aveiro e arredores. Exposições de artistas de várias expressões, acontecimentos históricos relevantes, efemérides marcantes e lançamento de livros podiam contar com a sua presença amiga, solidária, atenta.
A minha gratidão apoia-se na disponibilidade de Mons. João Gaspar para comigo, na hora precisa da confirmação de um ou outro estudo por mim encetado, nas novidades que normalmente me anunciava, na serenidade do seu relacionamento com todos, na humildade com que sabia e queria apenas escutar, na firmeza das suas convicções, na fé que irradiava e testemunhava, na sua capacidade extraordinária de pesquisa e escrita, na sua paixão por Santa Joana, na simplicidade da sua vida. Monsenhor é, realmente, uma pessoa que inspira confiança, amizade e amor a Jesus Cristo e à Igreja que sempre serviu e continuará a servir.
Fernando Martins