Reflexão de Georgino Rocha
A resposta de Maria ao convite/apelo que Deus lhe faz, por meio do enviado celeste, para ser a mãe de Seu filho, condensa-se neste “seja feito o que Deus quer”. Lc 1, 26-38.
É resposta de entrega total, após diálogo esclarecedor que vence medos, dissipa dúvidas, gera certezas e rasga horizontes de felicidade. É resposta de sintonia perfeita e de inserção plena no projecto de salvação que, desde há muitos séculos, estava em curso. É resposta de confiança absoluta na fidelidade de Deus às promessas da aliança outrora celebrada. É resposta envolvente de quem, como Maria, se coloca nas mãos de Deus e quer servir, livre e generosamente, os agraciados e amados por Ele, a humanidade toda.
A atitude de Maria contrasta, radicalmente, com a de Adão e Eva que pretendiam ser senhores exclusivos da vida e juízes da moralidade do agir humano, ditando a seu bel-prazer o que é bom e o que é mau, prescindindo da matriz ética de toda a natureza que Deus lhe imprimiu. É a autoafirmação do livre arbítrio, o culto do parecer subjectivo, a proclamação do gosto inacabado e ousado, da satisfação imediata. É atitude que permanece com actualidade flagrante.
O anjo não faz apenas o convite/proposta. Apresenta os traços principais do filho a nascer: Tem por nome Jesus, isto é, Deus salva; será Filho do Altíssimo, herdará o trono de David, reinará para sempre. Estes traços aparecem nos livros sagrados e Maria certamente conhecia-os. Então, eram promessa; agora, são realidade. Então, estavam dispersos por várias figuras; agora, concentram-se na pessoa de Jesus.
Lucas, o autor da narrativa, sintetiza, deste modo, uma das mais belas e expressivas catequeses sobre Jesus que as comunidades primitivas faziam. E à luz de Jesus que se compreende a grandeza de Maria, a pobre aldeã de Nazaré. Deus revela os seus critérios de intervenção: escolhe os disponíveis, não os ocupados; os humildes, não os soberbos e poderosos; os ousados na confiança e abertos à aventura, não os instalados nas rotinas do “sempre foi assim”; os de vida honesta e de palavra honrada, não os “camaleões” ou “vira-casacas” conforme o interesse predominante.
Maria tinha um sentimento profundo: ser uma pessoa humilde, pertencer ao escalão mais baixo da sociedade em Israel, viver numa periferia afastada da cidade e do Templo. A partir desta consciência assumida e do apelo/convite para ser a Mãe do filho de Deus, proclama o seu Magnificat, o hino que “evoca os perigos do poder e da propriedade”, que anuncia a transformação que o Senhor fará: Os sem nada virão a possuir abundância, os amarrados pelas riquezas ficarão de mãos vazias, de coração tolhido pelo egoísmo. Esta consciência perpassa no ambiente do lar da família, transmite-se na educação do Filho, contagia os vizinhos e irradia ao longe, até nós que nos queremos rever nas suass atitudes de confiança filial.
“Tal Filho, tal Mãe”, pode, com verdade, dizer-se de Maria, a Mãe de Jesus, filho de Deus. A sua grandeza é reconhecida desde sempre e, ao longo dos tempos, é proclamada oficialmente pela Igreja, ora em canções e devoções populares, em invocações de bênção e protecção, em santuários de peregrinação, ora em actos solenes e documentos formais do magistério eclesial. Pode afirmar-se que ao silêncio eloquente de Maria, na sua vida terrena, corresponde o povo crente, com uma abundância expressiva de manifestações exuberantes que proclamam as maravilhas de Deus nela realizadas.
O húmus da Nação Portuguesa está impregnado de amor a Nossa Senhora, sob diversas invocações. Desde a Senhora de Olivença, em Guimarães, berço da nacionalidade, passando por Aljubarrota e Vila Viçosa, marcos indeléveis da nossa independência, por Santa Maria de Belém, em Lisboa, até Fátima com a Senhora do Rosário a indicar o caminho da humanidade para acabar com a guerra e viver numa paz duradoura, segundo o Coração de Deus. Portugal agradecido proclama-a sua padroeira e rainha, com o título de Nossa Senhora da Conceição e celebra festivamente este acontecimento histórico.