Reflexão de Georgino Rocha
e aceitam o perdão que lhes é dado»
Jesus dá esta garantia aos discípulos no início da apresentação do programa que vem realizar em nome de Deus e que resume em proporcionar a quem nele crer a felicidade plena, exuberante, definitiva. Mateus, o autor da narração, descreve a cena com termos de grande solenidade: depois de ver as multidões, sobe ao monte, senta-se rodeado por eles, começa a ensiná-los proclamando as bem-aventuranças. Mt 5, 1-12. Deixa emergir a figura de Moisés e o episódio do Horeb, das tábuas da Lei e da aliança que Deus realiza com o seu povo. E insinua, desde já, que Jesus é o novo Moisés que não vem revogar, mas elevar à perfeição o pacto outrora celebrado na montanha sagrada.
Ser feliz é a aspiração maior do coração humano. A tudo recorre para ver se o alcança. A história documenta abundantemente este facto que a experência pessoal e familiar confirma, armazenando momentos intensos de exuberância, situações prolongadas de satisfação e bem-estar, e comprovando que tudo é passageiro, deixando um vazio amargo que deseja preencher e superar constantemente.
"A autêntica felicidade torna-se presente na nossa vida quando saímos do nosso eu egoísta, nos descentramos e voltamos o nosso rosto, as nossas mãos e o nosso coração para o outro. No serviço, a entrega e a felicidade dos outros encontramos a generosa prenda que nos envolve como uma veste nova" (Tolstoi).
Jesus é muito claro na sua mensagem. Unir-se a Ele e professar a fé faz-nos ser peregrinos confiantes da felicidade prometida e está ao nosso alcance. Assumir a sua causa é antever, desde já, os sentimentos mais íntimos que brotam do seu agir, do seu estilo de vida, do seu coração liberto, da sua misericórdia que de todos se compadece, aproxima e ajuda.
Seguindo os seus passos, são felizes os que não têm o coração amarrado pelo dinheiro nem atado pelos bens; os que apreciam uma vida sóbria e saudável e repartem com generosidade; os que não se deixam aprisionar pelos desejos egoístas nem pelos apetites descontrolados.
Felizes os que sabem sofrer por amor e se preocupam com as dores alheias e as agruras da vida, com os gritos das vítimas inocentes e os gemidos das criaturas; se preocupam e tomam iniciativas para lhes dar consolo e despertar a consciência humana da indiferença malévola em que deixou cair o sofrimento anónimo. Felizes os que encontram em Ti, Senhor, a coragem e a fortaleza para descobrir o sentido positivo de tantos dramas humanos.
Felizes os que sabem perdoar e aceitam o perdão que lhes é dado, os que acolhem agradecidos o teu amor misericordioso, os que são amáveis e respeitadores, os que esquecem ofensas e amam os inimigos. Tal como tu fizeste, Senhor.
Felizes os têm um bom coração, limpo de preconceitos e maldades, capaz de ver o melhor que há nos outros, de ser justo nas apreciações e de não confundir a trave com o sisco de que fala o Evangelho ao tratar da relações fraternas; felizes os que são sinceros e verdadeiros, e vivem em vigilância atenta ao que nasce do coração: pode ser o melhor ou o pior.
Felizes os que trabalham pela paz, que semeiam o respeito e a concórdia, que previnem tensões e conflitos, antecipando-se ao que é previsível e desinflacionando emoções negativas ou amaciando temperamentos agressivos; felizes os que deixam a sua comodidade e conforto e se pôem a caminho para remover os obstáculos à paz e ajudar na reconciliação dos desavindos e dos adversários, ainda que tenham de sofrer a incompreensão e, mesmo, a perseguição e a morte.
Felizes os que mantém viva a tua causa que é a do Reino dos Céus e não se cansam de lançar as sementes no campo do mundo, sem quererem guardar no seu celeiro o trigo desta vida que termina, mas preferem vê-lo germinar em frutos da Vida que não acaba. Felizes os que acreditam no Céu.
A felicidade que Jesus nos garante brilha na imensa multidão das pessoas bondosas e santas que, hoje, celebramos. E não na “macacada dos halloween (etimologicamente véspera do dia de todos os santos e não noite de bruxas) nem das fantasias tenebrosas das almas do outro mundo que atormentam os mortais. São de todas as condições, raças e cores. Estão presentes em todas as épocas da história. Também na nossa, em que surge com novo fulgor na tragédia dos cristãos mártires. Também nas vítimas inocentes de leis iníquas, à semelhança do que aconteceu contigo, Senhor, que foste eliminado por cruéis algozes e glorificado por Deus Pai. Felizes sereis por minha causa!