Uma reflexão semanal de Georgino Rocha
“O amor, sem estratégia, é aquele que dá a vida àquele que ama.
O que seduz no cristianismo é esta economia do dom sem medida
que o Filho encarna e que a Eucaristia torna presente”.
José A. Mourão
«Não somos órfãos, temos família: a humanidade, a comunidade cristã. Não andamos enganados, seguimos a Verdade. Não vegetamos apenas, saboreamos desde já a vida abundante e aspiramos à sua plenitude. Não esgotamos a felicidade num momento, mas – como o sedento que se sacia da fonte de água fresca e confia na reserva para novas necessidades – integramos o momento no tempo e valorizamos a satisfação que nos proporciona.»
A hora é grave. Jesus fala aos discípulos antes de iniciar a Paixão que o levará à morte de crucifixão por ódio dos inimigos e determinação das autoridades. O ambiente é carregado e desolador. A sensação de abandono é completa e a tristeza incontida. A saída para o Jardim das Oliveiras está para breve. Escutam-se as últimas palavras que ficam como parte do testamento espiritual do Mestre.
“Eu pedirei ao Pai que vos mande outro Consolador para estar sempre convosco. Ele é o Espírito da verdade…que vós conheceis porque habita convosco e está em vós”. Pedido, promessa, certeza. Jesus refere-se ao Espírito Santo e garante a sua presença activa e companhia amiga que preenchem a sensação do vazio e vencem o temor da orfandade. O olhar dos discípulos é reencaminhado para o futuro e o coração alertado para o novo prometido. A partida de Jesus – sua paixão, morte e ressurreição – abre caminho ao Espírito da verdade e por ele aos horizontes infinitos do amor de Deus, às realidades definitivas da comunhão da vida plena e feliz.
A maravilha deste anúncio manifesta a etapa final do percurso histórico de Jesus e o alcance dos acontecimentos que vão seguir-se. A situação dorida vivida pelos discípulos será transformada em “primavera” de um tempo novo – o do Espírito Santo que fará brotar a alegria da ressurreição em todos os que acreditam e praticam os ensinamentos de Jesus.
E uma linda história de amor se afirma e começa a realizar: dar a vida pelo bem do outro, estar disponível e livre para servir, ser companhia que consola e reconforta, defender os injustiçados e ameaçados, cultivar a esperança nos desanimados, libertar os oprimidos, promover a justiça alicerçada na verdade.
Esta história está a ser construída: o protagonista real é o Espírito Santo; o agente visível e operativo é o ser humano – homem e mulher - situado no seu meio ambiente e condicionado pelo uso responsável da sua liberdade. Que beleza e responsabilidade!
Não somos órfãos, temos família: a humanidade, a comunidade cristã. Não andamos enganados, seguimos a Verdade. Não vegetamos apenas, saboreamos desde já a vida abundante e aspiramos à sua plenitude. Não esgotamos a felicidade num momento, mas – como o sedento que se sacia da fonte de água fresca e confia na reserva para novas necessidades – integramos o momento no tempo e valorizamos a satisfação que nos proporciona.
O Espírito está em vós, habita convosco – garante Jesus. E a prova-lo, oferece-nos o seu amor com o pedido solícito de que nos amemos uns aos outros e o celebremos na assembleia cristã.
“O amor, sem estratégia, é aquele que dá a vida àquele que ama. O que seduz no cristianismo é esta economia do dom sem medida que o Filho encarna e que a Eucaristia torna presente”. (José A. Mourão).