SENTADO A OBSERVAR
Georgino Rocha
“Em frente à arca do tesouro” é o local escolhido por Jesus para observar as atitudes dos que se aproximavam para fazer a sua oferta. Sentado é a posição normal do corpo que, nestas circunstâncias, adquire um simbolismo cheio de riqueza humana: escuta atenta, acolhimento solícito, reflexão profunda, discernimento lúcido, sabedoria interiorizada, autoridade moral, transmissão da mensagem assimilada. A ilustrar este simbolismo, que pode facilmente ser ampliado, estão os episódios de Jesus no monte das bem-aventuranças, de Maria ao ouvir os magos e os pastores em Belém, de certas parábolas dos Evangelhos, de Abraão junto ao carvalho de Mambré, e tantos outros.
Sentado a observar dá conta dos escribas que se exibem no meio da multidão, dos ricos que depositam grandes quantias, da pobre viúva que apenas traz uns cêntimos. Dá conta e comenta em género de ensinamento que fica para todo o sempre. A exibição dos escribas abre “janelas” para o mundo da imagem, da sociedade mediática, da religião imponente, de quem vive das aparências e esquece a realidade do ser humano e das suas aspirações silenciadas e insatisfeitas. A ostentação dos ricos mostra o valor dos seus bens – única fonte de preocupações - e o desejo de serem reconhecidos pela sua generosidade, deixando a claro o vazio do seu coração. A discrição da viúva e a magreza da sua oferta – “perdida” na multidão e insignificante na quantia, mas de enorme alcance simbólico – abrem horizontes à confiança radical de quem se entrega com tudo que tem.
O contraste é evidente e significativo. Jesus faz os seus ensinamentos, a partir de situações concretas. É a vida que diz quem nós somos. Só a coerência humaniza. Só a confiança dá consistência à vida em sociedade. Só a entrega radical oferece garantias seguras de um futuro melhor, alicerçado num presente solidário. Os discípulos – de todos os tempos – estão chamados a captar esta mensagem.