Por António Marcelino
Já lá vão mais de cinquenta anos, quando, no fim do exame de Ética Política Internacional a que eu prestava provas finais na Universidade Gregoriana, o professor, um jesuíta chileno, me disse: “Presta atenção a um homem jovem do teu país que vale a pena ouvir, Adriano Moreira. Pensa e diz verdades de que Portugal precisa”. Guardei a recomendação. O tempo confirmou a oportunidade do conselho. Adriano Moreira completou os 90 anos, com uma invejável lucidez e frescura humana e intelectual. Venceu ventos e marés, e, com o cabouco de transmontano, deu cartas a muitos novos, presumidos de um valor que não tinham, nem têm. Sempre o escutei com respeito e proveito. Veio à diocese algumas vezes a nosso convite. Nunca dizia que não. Falei, a seu lado, na Universidade Lusíada sobre problemas da educação na passagem de século. Na política, no governo, na cátedra sempre aberta, foi e continua mestre. Uma cultura invulgar que sabe comunicar com a simplicidade dos homens grandes. Comovi-me ao ler o testemunho da sua filha Isabel. Já me comovera ao ler a sua autobiografia. Desta maneira simples lhe desejo vida ainda mais longa. Precisamos de homens assim, que, mesmo velhos de idade, continuam vivos e cultivam e transmitem sabedoria.