sexta-feira, 20 de maio de 2011

Gafanha da Nazaré: Centro Social Paroquial celebrou 20 anos de existência

Alexandre Cruz, Fernando Caçoilo, D. António Francisco, 
Bagão Félix e Padre Francisco

“Os novos alcances e desafios da solidariedade”


Com uma sessão integrada nas “Conferências Primavera 2011”, decorreu no Centro Cultural, ontem, 19 de maio, a celebração dos 20 anos de vida do Centro Social Paroquial Nossa Senhora da Nazaré (CSPNSN), sob a presidência do nosso Bispo, D. António Francisco. Presentes, para além do nosso prior, Padre Francisco Melo, o vereador da Câmara Municipal de Ílhavo, Fernando Caçoilo, e um convidado especial, Bagão Félix, que desenvolveu o tema “Os novos alcances e desafios da solidariedade”. Moderou a sessão Alexandre Cruz.



D. António Francisco felicitou o CSPNSN pelos 20 anos de existência, agradecendo aos responsáveis e funcionários da instituição, bem como aos idosos beneficiários e seus familiares, «o bem que ali realizam, porque eles são construtores e intérpretes desse bem». Lembrou que os anciãos, na Bíblia, eram os sábios, acrescentando que todos nós, «por mais simples que seja o nosso trabalho, somos construtores de catedrais», numa clara alusão à história (contada por Bagão Félix)  do velho que, quando varria o lixo da catedral de Chartres, em reconstrução, terá dito a Luís IX,  Rei de França e mais tarde canonizado, que andava a construir uma catedral.
Referindo-se às 100 crianças da nossa paróquia que abriram, com os seus cânticos, a sessão, o nosso Bispo sublinhou que, ao cantarem a sua alegria e a sua fé, «que é também a nossa fé», constituíram uma bela imagem para recordar os 100 anos da paróquia, comemorados em 2010, mas ainda para «festejar e dar os parabéns aos 20 anos do Centro Social e Paroquial».
O Padre Francisco Melo frisou o bem, a caridade e a felicidade que foi possível desenvolver «em tantos irmãos nossos, já vergados pelo peso da idade», ao longo destes 20 anos, mas não deixou de se referir às famílias dos utentes e aos funcionários do Centro Social, o qual se tornou numa «mais-valia para o seu bem-estar e para a sua realização pessoal».
O nosso prior evocou o Padre Artur Sardo e todos os benfeitores da instituição, tal como «os que, das mais diversas formas, no anonimato, contribuíram e continuam a contribuir para que o sonho realizado há 20 anos não morra». E acrescentou: «Não queremos rejeitar a responsabilidade que nos humaniza o caminho do divino; mas sabemos que contamos com alguém muito especial a quem chamamos Mãe: Nossa Senhora da Nazaré.»
Fernando Caçoilo lembrou os sacrifícios e as boas vontades de quem dirigiu o CSPNSN ao longo da sua existência, tendo valorizado «o ato solidário que desenvolvemos». Depois adiantou, como gafanhão, que «o Centro Social é fruto de todos nós, da nossa terra e de outras terras do concelho».

Vivemos num mundo de aridez espiritual



Apesar do progresso que se tem verificado, de há décadas até hoje, vivemos atualmente «num mundo de aridez espiritual, em que o isolamento é um dos grandes fatores de pobreza», afirmou Bagão Félix na apresentação do tema “Os novos alcances e desafios da solidariedade”. Disse que as poderosas tecnologias da comunicação desumanizam as relações entre as pessoas. E se é verdade que, de algum modo, «as tecnologias nos tornam mais próximos, não deixa de ser menos certo que ao mesmo tempo nos afastam».
Citando Bento XVI, o conferencista garantiu que a «globalização fez-nos mais próximos, mais perto uns dos outros, mas não nos tornou, necessariamente, mais irmãos». E acrescentou: «os avanços da ciência não nos trouxeram nem nos conseguiam garantir a justiça solidária.»
Bagão Félix enfatizou o facto de continuarmos «a conviver com a miséria, mesmo em zonas onde ela não devia existir», enquanto denunciou «a exploração e a relativização absurda da vida», o isolamento e a violência, fruto «das possibilidades tecnológicas do mal». E explicou: «Na Internet, aprendemos com a mesma facilidade a receita do pudim flan e de uma arma letal.»
O orador defendeu que urge discernir o bem do mal, porque não há nenhuma sociedade solidária em que a fronteira entre o bem e o mal esteja separada «por uma pedra-pomes, onde cabe tudo nos seus buracos». Adiantou que a crise do mundo «é uma crise de ética comportamental e de visão de curto prazo, esquecendo-se o médio e longo prazo». Nessa linha, defendeu que a solidariedade é um princípio ordenador, uma virtude moral e um dever social, mas ainda é uma responsabilidade pessoal e comunitária.
Bagão Félix explicou que a solidariedade, para que seja plena, tem de se apoiar em direitos e deveres, sendo estes valores «irmãos siameses», mas também na verdade, no espírito de serviço, na decência e na autenticidade. Denunciou que a solidariedade em Portugal está sustentada nos apoios financeiros do Estado, o que condiciona as instituições. Com esta realidade, «o Estado passa a ser um tutor, às vezes implacável, burocrático e administrativo, sem alma na relação com as instituições». Por isso, sugeriu às instituições que se libertem «da teia burocrática e da tutela financeira do Estado». Assim, avançou com a ideia de que os departamentos estatais deveriam transferir para as famílias os apoios que presentemente são entregues às instituições, o que obrigaria estas a oferecerem melhores serviços, para cativarem mais beneficiários.

Fernando Martins

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