Estamos em pleno
Ano Sacerdotal
Por Francisco Melo*
Desde o início temi por esta proposta do Papa e agora confirmo algumas das minhas suspeitas… Pelo que tenho visto e ouvido, suspeito que os resultados deste Ano Sacerdotal não passem de boas intenções, discursos inflamados, preceitos, orientações e propostas subjectivas, sem sujeitos que metam as mãos na massa.
Sem ter pedido, sem contar e sem sentir necessidade parece que me querem impor um “capacete”. Sinto-me simplesmente um objecto, uma espécie de animal em vias de extinção, a quem se responsabiliza por isto e por aquilo que de mal vai acontecendo nas várias comunidades. O padre tem de… o padre deve… o padre precisa de… Toda a gente agora fala do ser padre, do novo rosto do ser padre, da sua formação, da missão do padre, dos padres para este tempo…
Não, obrigado. Agradeço a preocupação, mas NÃO QUERO. Este é o grito que sinto inundar o meu ser no meio de tantas tarefas, amarras, preceitos, formas de estar e projectos a realizar que me querem impor.
Fui padre livremente, sou padre livremente, com um único e simples objectivo: SERVIR. Assumo para isso um caminho: existir como Jesus Cristo.
Sei que sou padre para os outros… mas, faço o que posso, faço o que sei, faço o que me deixam…, sempre sombreado pela minha fragilidade. Mas não me imponham mais tarefas, amarras e fardos. Já há dois mil anos um Homem que muito incomodou falou dos fardos que alguns impõem sobre os outros, mas nem com um só dedo lhes tocam.
Deixem-me respirar, ser livre, ser pessoa, ser padre. Se o meu irmão e irmã forem para mim rostos do amor de Deus, eu serei iluminado e essa luz reflectida em mim será luz para outros.
Obrigado a todos os que, na simplicidade, são cristãos comigo e me ensinam a ser cristão.
Obrigado a todos aqueles que, sem me julgarem, me aceitam no padre que sou sem me imporem fardos pesados que não sou capaz de transportar.
Obrigado a todos os que, para além deste ser padre, conseguem ver o homem, criatura de Deus… Conseguem ver a minha humanidade.
Obrigado a todos os que, sem me imporem preceitos e fardos, me ajudam a ser padre e me fazem sentir feliz nesta missão.
* Prior da Gafanha da Nazaré
Nota: Texto Publicado no TIMONEIRO