quarta-feira, 4 de março de 2009

Crónica de um Professor...

A joaninha...
Com os primeiros laivos da Primavera a fazerem-se .sentir, começa a temperatura a subir... não só, no clima, mas sobretudo nos corpos e nas mentes dos nossos alunos. No primeiro aspecto, é vê-los em grande cumplicidade física... pelos cantos e esquinas, numa postura que em Química se denominaria por “transferência de calor”! Por osmose... ou interpenetração directa? E, tão compenetrados ficam na execução do processo químico, que nem dão pela aproximação dos colegas ou de algum professor que exerce a sua função de moderador! Mas, sendo a natureza espontânea e pujante... nesta Primavera incipiente... de que adianta refrear aquilo que tem tanta força a fermentar dentro das veias? Foi num contexto destes que a teacher deparou com a sua sala de aula trancada, com um punhado de alunos lá dentro. Preparava-se para uma cena de “faca e alguidar” (!?), quando de súbito, a porta se abre e de lá de dentro surge o aluno mais polémico da turma! Aquele que parece mais vocacionado para a arte dramática, actor/entertainer, liderava o movimento de recepção à teacher! – Temos uma surpresa para si! Já se revolvia mentalmente, num afã, no sentido de vislumbrar qual seria o teor daquela surpresa! Entrou! Qual não foi o seu espanto, quando dentro da sala, reparou no quadro de ardósia, na sua mesa de trabalho, outrora uma secretária, agora, sem qualquer especificação para a função desempenhada! Por todo o lado abundavam imagens coladas de joaninhas, ladybirds, com a palavra escrita em grandes caracteres, de duas cores. Como tinham descoberto aqueles alunos que a teacher era uma aficionada de joaninhas, borboletas e outros insectos esvoaçantes? Certamente fora traída pelo seu discurso pedagógico que alguma vez deve ter aludido ao seu nick, Ladybird! De facto, era de forma empolgada que a teacher deixava transparecer a sua sensibilidade estética perante manifestações do Criador, nomeadamente no que concerne àqueles insectos de tão minuciosa beleza. Sempre que observava uma no seu jardim, a teacher ficava a contemplá-la demoradamente... Com que número de pincel (!?) conseguira o Criador fazer aquelas pintinhas tão redondinhas? Era a admiração do belo... o êxtase perante um raro espectáculo da natureza! Os alunos tinham-lhe apanhado o fraco e quiseram, nesse final da manhã de um dia hipocritamente primaveril, dar um ar da sua graça e também da sua candura, da sua condição de crianças... na acepção de Fernando Pessoa, "O melhor do mundo são as crianças”! Mas... parafraseando Andrew Mattews, “Life is not perfect!”, daqueles alunos que não foram admitidos no grupo da manifestação e por que também nutrem afecto pela teacher, saiu um que estragou o ramalhete com a vingançazinha a falar mais alto. – Ali dentro, está alguém que lhe anda a fazer patifarias, pela surdina! Era o ciúme de quem se viu preterido numa demonstração que também o deveria envolver! E... da euforia inicial, passou a teacher para a melancolia... ao pensar que, por detrás daquele ar angelical, pode estar algo de menos puro, de perverso, quiçá alimentado por alguma força exterior! A vida é uma caixinha de surpresas... a dum Professor... um contentor sem fim!
Mª Donzília Almeida 27.02.09

Sem comentários:

Enviar um comentário