Alargar (ou limitar) o debate europeu?
1. Aproximam-se dias importantes para o projecto europeu. 50 anos depois do Tratado de Roma (já ineficiente no nova Europa) procura-se a todo o custo a assinatura de algo, de documento, de um tratado com linhas comuns. De uma ideia de Constituição “chumbada” pela França e Holanda, nestes últimos tempos o receio é tanto que se procuram ler mesmo em novas nomenclaturas essa esperança continuadora do inédito percurso europeu pós-guerra.
2. Mas talvez o maior de todos os problemas continue a ser a distância das comunidades locais em relação ao sonho europeu. Quando os votos nos possíveis referendos europeus derivam (ou não) do estado da situação económica, dos custos ou dos benefícios, tal facto demonstra-nos bem em que critérios temos andado. Dir-se-á que já no princípio assim era: o carvão e o aço, como permutas geradores de “laços” que ao menos evitassem a guerra como solução dos problemas.
3. O assunto (europeu) anda, mais que nunca, a ser lidado com pinças. A tal ponto que, de receio em receio, o “lema” norteador é mesmo evitar referendos, não venham estes a desiludir as expectativas. Neste contexto, por défices anteriores de explicar a Europa aos europeus, será que chegámos a uma situação em que o melhor será fechar, silenciar, limitar o debate europeu? Quase como uma operação clínica, qualquer distracção pode ser fatal. Os tempos actuais são de ansiedade, mas, melhor seria que ao longo dos tempos passados se tivesse conseguido alargar, efectivamente, o debate europeu.
4. O mundo precisa de uma Europa viva, com ideias, muito para além de um afirmado “racionalismo” (este hoje já quase sem razão, asfixiado na tecnologia); a Europa precisa de se repensar à luz do mundo e dos seus valores constitutivos. Nestes estarão tanto um pluralismo inclusivo de visões dignificantes como a constatação de matrizes que ergueram esta forma de democracia. Não será o esvaziamento de si mesmo que dará a capacidade acolhedora da diferença de pensamento e de modo de vida. Na Europa da dignidade humana, por ilusão ou confusão (no entendimento do que significa “pluralismo”), por medo ou pré-conceito, temo-nos esvaziado, quase esquecendo (pluralmente) donde vimos.
5. Claro, neste terreno pantanoso (pela “rama”), é tanto mais difícil saber para onde vamos. Ainda assim, continuará a ser histórico o caminho europeu; mas será tanto melhor quanto mais cedo se “escancarar” um debate aberto de uma Europa social e existencial no Séc. XXI. Parece que por agora este debate antropológico continua a ser adiado; o que se procuram são mesmo as assinaturas, não ideias que saibam ser unas e plurais. Pena, mais uma oportunidade adiada (?)!
Alexandre Cruz